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Elementos De Maq

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Por:   •  22/9/2014  •  1.094 Palavras (5 Páginas)  •  272 Visualizações

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...DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e

guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta

de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:

-- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.

-- É verdade, concordou Honório envergonhado.

Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar

amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A

dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as

quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser

piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar

à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta

cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou

pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro,

quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um

turbilhão perpétuo, uma voragem.

-- Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da

casa.

-- Agora vou, mentiu o Honório.

A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por

desgraça perdera ultimamente um processo, cm que fundara grandes esperanças. Não só

recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo

caso, andavam mofinas nos jornais.

D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não

contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de

prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas

pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que

D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou

jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.

Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe

os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.

-- Nada, nada.

Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças

voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto

para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios

são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou: emprestado, para pagar

mal, e a más horas.

A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca

demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe

punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e

Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a

um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua. da Assembléia é que viu a

carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.

Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando,

até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, -- enfiou depois pela Rua da

Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a

pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café.

Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a

carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta

era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do

dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma

expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida?

Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à

polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da

ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira.

...

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