Ocorrência de agentes químicos estrogênicos naturais estrona
Por: humberto.hermann • 3/1/2017 • Pesquisas Acadêmicas • 10.802 Palavras (44 Páginas) • 305 Visualizações
Ocorrência de agentes químicos estrogênicos naturais estrona, 17β-estradiol, sintéticos 17α etinilestradiol e e o xenoestrogênio nonilfenol nos mananciais e águas de abastecimento da bacia do rio Atibaia, Campinas e Sumaré- S.P.
RESUMO
Hormônios naturais, sintéticos ou ainda certos produtos químicos que mimetizam os hormônios são poluentes ambientais presentes em concentração muito pequena no meio aquático e que podem causar sérios danos à saúde humana e animal. Pesquisas têm mostrado que substâncias estrogênicas são encontradas em rios receptores de esgoto doméstico tratado ou não. O objetivo deste trabalho é investigar a presença das mesmas em mananciais e águas para consumo humano na bacia hidrográfica do rio Atibaia, tendo em vista o reduzido índice de tratamento de esgoto. Para isso será utilizado o sistema analítico LC-ESI-MS-MS. Este método é baseado na Cromatografia Líquida seguida da Espectrometria de Massas em série. Devido ao seu baixo limite de detecção e alta seletividade é apropriado para análise de estrogênios e xenoestrogênios na água.
INTRODUÇÃO
O emergente interesse da comunidade científica pelo estudo dos contaminantes ambientais com atividades hormonais, em anos recentes, atribui-se às evidências de que esses agentes químicos podem estar causando efeitos adversos observados na saúde dos animais silvestres e do homem. Já na década de 60, Rachel Carson em seu livro Primavera Silenciosa faz uma advertência eloqüente sobre os perigos representados por agentes químicos que estavam contaminando a natureza. O livro agora clássico, contribuiu para dar início ao movimento ambientalista. Recentemente, COLBORN e colaboradores (1997) no livro “O Futuro Roubado” oferece uma descrição ampla de pesquisas realizadas sobre os agentes químicos que alteram as mensagens hormonais, sendo esta obra uma continuação profunda e atualizada do alerta de Rachel Carson. Em julho de 1991 um grupo de cientistas multidisciplinar de vários países se reuniu pela primeira vez para discutir suas preocupações em relação à disseminação e efeitos dos agentes químicos que alteram o sistema endócrino presente no ambiente e declararam que:
“Um grande número de agentes sintéticos que foram lançados no ambiente, assim como alguns agentes naturais, podem alterar o sistema endócrino dos animais inclusive do homem. Muitas populações de animais já foram atingidas por tais compostos. Os impactos observados incluem: disfunções da tireóide em aves e peixes; diminuição da fertilidade entre aves, peixes, moluscos e mamíferos; queda da produção em filhotes de aves, peixes e tartarugas; deformações congênitas grosseiras em aves, peixes e mamíferos; anomalias comportamentais entre pássaros; desmasculinização e feminilização de aves, peixes, mamíferos do sexo masculino; e o comprometimento do sistema imunológico de pássaros e mamíferos. Os seres humanos também foram atingidos por compostos dessa natureza. O DES (dietilestilbestrol), um agente químico terapêutico sintético, tem efeitos estrogênicos: tanto meninas como meninos quando expostos ao DES no útero sofrem anomalias congênitas no sistema reprodutivo e apresentam redução da fertilidade. Os efeitos observados em seres humanos expostos ao DES em útero são comparáveis àqueles observados em animais silvestres contaminados, ou em animais de laboratório, sugerindo que seres humanos podem estar correndo os mesmos riscos ambientais que afetam os animais silvestres” (COLBORN, et. al, 1976).
A literatura chama esses agentes químicos estrogênicos de moduladores endócrinos ou endocrine disrupters ,o que pode ser traduzido por desrruptores endócrinos ou interferentes endócrinos. O meio aquático, principalmente, recebe grandes quantidades de produtos químicos que são ou podem ser moduladores endócrinos, provenientes de esgoto. No Brasil, a maioria das águas residuárias não são tratadas o que torna os mananciais mais poluídos. A presença de moduladores endócrinos em águas de rios e seu efeito de risco em peixes, têm sido estudados em vários países. As disfunções sexuais observadas têm sido atribuídas aos agentes estrogênicos naturais: estrona e 17β estradiol, e aos sintéticos: 17α etinilestradiol, principalmente.
VISÃO GERAL DO SISTEMA ENDÓCRINO REPRODUTIVO
O sistema endócrino ou hormonal do homem e dos outros animais, em geral, possui muitos componentes. Os principais componentes são as glândulas endócrinas, como a hipófise, glândula tireóide, glândula adrenal, o ovário e os testículos. O controle hormonal reprodutivo começa no cérebro, por intermédio do hipotálamo (sistema nervoso central), que por meio da secreção hormonal gonadotrófica (GnRH) governa a atividade da hipófise, a qual serve como um amplificador do sinal cerebral dados pelos hormônios gonadotróficos, liberando o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio estimulador de folículos (FSH), conforme mostrado na figura 1 (BROOKS, 1998).
[pic 1]
GnRH[pic 2][pic 3]
[pic 4]
[pic 5]
[pic 6]
[pic 7]
LH FSH[pic 8]
Inibição
Estrogênio
Feedback
Gônodas [pic 9]
[pic 10]
[pic 11]
Figura 1. Visão geral do sistema reprodutor endócrino. (BROOKS, 1998)
Esses hormônios agem sobre as gônadas de ambos os sexos (ovário e testículos) , que produzem respectivamente os hormônios sexuais femininos e masculinos:
a) Androgênios: hormônios masculinos dos quais o mais importante é a testosterona e são essenciais para a espermatogênese normal (produção de espermatozóides), mas também mantêm a integridade normal dos órgãos sexuais tais como: próstata, vesícula seminal e epidídimo. Os androgênios também determinam o desenvolvimento físico e psíquico das características masculinas.
b) Estrogênios: hormônios femininos que estimulam o desenvolvimento dos órgãos sexuais femininos, das mamas e de várias características sexuais secundárias. Os três principais hormônios sexuais presentes em quantidade significativa no plasma feminino humano, chamados estrogênios, são:
- Estradiol – secretado pelo ovário, é o principal estrogênio;
- Estrona – pequena quantidade;
- Estriol – estrogênio fraco.
A potência estrogênica do estradiol é 12 vezes a do estrona e 80 vezes a do estriol (GUYTON et. al, 1996). Os hormônios servem como mensageiros químicos fazendo a ligação entre vários órgãos do sistema reprodutivo de forma integrada e precisa. Qualquer interferência neste sistema extremamente balanceado pode levar a um desenvolvimento inapropriado do mesmo e alterações significativas dos vários processos que ali ocorrem.
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