Identificando as Visões Deformadas do Trabalho Científico em Docentes de Química
Por: ImperiumUno • 16/5/2022 • Artigo • 4.247 Palavras (17 Páginas) • 91 Visualizações
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Identificando as Visões Deformadas do Trabalho Científico em Docentes de Química
Lucas E. Silva1 (IC)*, Géssica M. O. Vacheski1 (PQ), Bruna M. de Assumpção1 (IC), Douglas F. Marques1 (IC), Nádia Abi1 (IC).
luc-edu@homail.com
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo – Rua da Faculdade, 645, Jardim Santa Maria - Toledo/PR
Palavras-Chave: Visões Deformadas, Ensino de Química, Ensino de ciências.
Resumo: Com o passar do tempo, o ensino de ciências nas escolas precisou ser repensado diversas vezes, culminando em algumas adversidades. O presente artigo tem por objetivo identificar as Visões Deformadas do Trabalho Científico nos docentes de Química, visto que a ciência é alvo de suposições e dogmas errôneos. Estas concepções, nomeadas por Pérez e colaboradores (2001) como “Visões Deformadas do Trabalho Científico”, foram utilizadas como norteadoras das perguntas desenvolvidas ao longo da pesquisa. A metodologia deste artigo consistiu no desenvolvimento de uma pesquisa on-line (devido à pandemia da COVID-19) com professores da educação básica de diversos estados brasileiros, a fim de identificar tais concepções deformadas e sua relação, tanto entre elas mesmas quanto com o discurso de cada docente. Notou-se, ao finalizar as análises das respostas, a ocorrência de todas as visões deformadas, sendo a visão empírico-indutivista, destaca pelos termos “experimentação” e “teste”, a mais presente nos discursos dos professores.
Introdução
Em tempos com tantos avanços tecnológicos e científicos, é possível inferir que a importância do ensino de ciências é crescente em diversos locais de ensino, visto que, segundo o National Science Education Standards, “Num mundo repleto pelos produtos da indagação científica, a alfabetização científica converteu-se numa necessidade para todos [...]” (1996, p.1). A alfabetização científica, citada anteriormente, é por sua vez assim definida por Sasseron e Carvalho (2011):
[...] usaremos o termo ‘alfabetização científica’ para designar as ideias que temos em mente e que objetivamos ao planejar um ensino que permita aos alunos interagir com uma nova cultura, com uma nova forma de ver o mundo e seus conhecimentos, podendo modificá-los e a si próprio através da prática consciente proporcionada por sua interação cerceada de saberes de noções e conhecimentos científicos, bem como das habilidades associadas ao fazer científico (SASSERON; CARVALHO, 2011, p. 61).
Nessa perspectiva, enfatizamos a importância do professor ao planejar e desenvolver um ensino que oportunize ao aluno condições de ser alfabetizado cientificamente. Contudo, será que a interpretação que o professor tem sobre o trabalho científico é pertinente?
No que diz respeito à disciplina de Química, não poderia ser diferente. Esta se torna alvo de inúmeros pressupostos e dogmas errôneos quanto à sua natureza. Estes são nomeados por Pérez e colaboradores (2001) como “visões deformadas do trabalho científico”, sendo sua definição, segundo o mesmo autor, “[...] uma imagem ingênua, profundamente afastada do que é a construção do conhecimento científico, mas que se foi consolidando até tornar-se um estereótipo socialmente aceito que a própria educação científica reforça ativa ou passivamente” (2001, p.128-129). É válido citar que não são somente os docentes, veículos de propagação dessas visões, mas também os meios de comunicação social, quando mostram que “um cientista sempre é alguém vestido com um avental branco manipulando aparelhos em um laboratório” (POZO; CRESPO, 2009, p.18), induzindo este estereótipo aos telespectadores.
Pérez e colaboradores (2001), em seu artigo “Para uma imagem não deformada do trabalho científico”, apresentam algumas visões deformadas dos professores sobre o trabalho científico, sendo elas:
1) Visão Empírico-Indutivista e Ateórica: O trabalho científico é neutro e repleto por “descobertas”. Neutro, pois acredita-se no distanciamento das ideologias do próprio cientista, ou seja, o que quer que se passe na mente daquele que discorre um estudo, pesquisa, experimento ou afins, não interfere de alguma maneira nos modos utilizados ou nas interpretações a partir dos fatos; e repleto por “descobertas” pois os resultados subitamente surgiriam a partir das experimentações na utilização do método correto (o item a seguir discorrerá mais sobre esse aspecto em específico);
2) Visão Rígida (Algorítmica, Exata, Infalível): O método científico é eleito como uma receita para um trabalho bem-sucedido. Ou seja, caso queira alcançar algum objetivo científico, basta se valer do método científico e de suas etapas rigidamente definidas (observação, hipótese, experimento, análise, conclusão), deixando de lado a subjetividade e criatividade do cientista. Ademais, dá-se ao conhecimento científico um caráter de inegável exatidão, ou seja, "[a ciência] adquire a autoridade para promulgar conhecimento verdadeiro e confiável" (COBERN; LOVING, 2001, p.3, tradução nossa);
3) Visão Aproblemática e Ahistórica (Dogmática, Fechada): Ao ensinar sobre um determinado conteúdo, esquece-se sobre as indagações, problemas e situações que justamente geraram esse conhecimento, e que aproximariam aquele conhecimento à sua época e aos acontecimentos anteriores ou concomitantes (o item 7 discorrerá em mais claramente esta parte em específico);
4) Visão Exclusivamente Analítica: Um determinado campo da Ciência é exclusivo e não permeia outros campos. Basicamente, Química é Química, Física é Física e a interdisciplinaridade, sendo esta podendo ser entendida como o “intercâmbio mútuo e integração recíproca entre várias ciências” (PIAGET, 1981, p.52), não ocorre;
5) Visão Acumulativa de Crescimento Linear: O conhecimento científico só “aumenta” com o passar do tempo, e regressões, desconstruções e rebates a teorias rivais quase não ocorrem, e, se acontecem, temos que “quando sobre o mesmo fato há duas teorias, é porque uma delas é falsa: a ciência vai acabar demonstrando qual delas é verdadeira” (POZO; CRESPO, 2009, p.18);
6) Visão Individualista e Elitista: A Ciência é composta por “Gênios Isolados”, onde um homem (a preponderância elitista) desenvolve um conhecimento sozinho, sem a presença de um grupo de pessoas auxiliando ou sequer, muitas vezes, de um(a) parceiro(a) sendo citado;
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