A ÉTICA DO CUIDADO
Por: Nicoly Freire • 20/4/2017 • Resenha • 679 Palavras (3 Páginas) • 272 Visualizações
A ÉTICA DO CUIDADO
Numa sociedade que tende a reforçar relações organizadas pelo mercado, pautadas pelo interesse, produção, competição, compra/consumo, os vínculos que sustentam a vida humana dão sinais de enfraquecimento.
Deixando-nos conduzir pelo que está em voga, reduzimos nossa responsabilidade diante das necessidades crescentes que esta situação coloca. Pessoas passam a ser vistas como objetos de consumo/produção e perdem o seu valor como seres humanos.
Surge daí um apelo para tomar consciência da necessidade de estarmos atentos para uma ética do cuidado. Sem o cuidado não há ambiente favorável para o aflorar daquilo que nos humaniza: o sentimento profundo, a vontade de partilha e a busca do amor.
Partilha de bens e serviços, ajuda entre familiares, amigos e vizinhos constituem motivos, impulsos e atos que costuram um conjunto de relações de interdependência, vínculos e compromissos duradouros entre os seres humanos. Por estarem tão presentes na vida humana, podem parecer como “naturais”, algo dado. Mas, a construção dos laços que nos unem é menos um dom da natureza do que um projeto ético para o qual precisamos estar hoje especialmente atentos.
Cada ser humano encontra sua dignidade em ser parceiro na vida e para a vida; cooperação, compaixão, troca e ajuda mútua nos dão valor e sentido profundo; um esforço contínuo e nunca acabado nos leva a partilhar a vida e torná-la possível. Ao sentirmos a vida ameaçada, novas energias nos levam a buscar e reinventar caminhos, afirmar a dignidade humana, correr riscos na contra corrente, afirmar nossa fé no ser humano, enfim, a nos responsabilizar pela vida.
Um estudo recente se debruça sobre este tema. Ele resume quatro grandes sentidos sobre o cuidado, presentes na vida e no pensamento desde a antiguidade até nossos dias.
Primeiro: Cuidado é uma atitude de relação amorosa, suave, amigável, harmoniosa e protetora para com a realidade, pessoal, social e ambiental. Metaforicamente podemos dizer que o cuidado é a mão aberta que se estende para a carícia essencial, para o aperto das mãos, com os dedos que se entrelaçam com outros dedos para formar uma aliança de cooperação e a união de forças. Ele se opõe à mão fechada e ao punho cerrado para submeter e dominar o outro.
Segundo: Cuidado é todo tipo de preocupação, inquietação, desassossego, incômodo, estresse, temor e até medo face a pessoas e a realidades com as quais estamos afetivamente envolvidos e por isso nos são preciosas. Esse tipo de cuidado, acompanha-nos em cada momento e em cada fase de nossa vida. É o envolvimento com pessoas que nos são queridas ou com situações que nos são caras. Elas nos trazem cuidados e nos fazem viver o cuidado existencial.
Terceiro: Cuidado é a vivência da relação entre a necessidade de ser cuidado e a vontade e a predisposição de cuidar, criando um conjunto de apoios e proteções (holding) que torna possível esta relação indissociável, em nível pessoal, social e com todos os seres viventes. O cuidado-amoroso, o cuidado-preocupação e o cuidado-proteção-apoio são existenciais, vale dizer, dados objetivos da estrutura de nosso ser no tempo, no espaço e na história. São prévios a qualquer outro ato e subjazem a tudo o que empreendermos. Por isso pertence à essência do humano.
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