A Avaliação Psicológica: Historicidade, Dificuldades e Desafios para Atuação Profissional na Contemporaneidade
Por: Luiz Gustavo • 22/11/2021 • Resenha • 2.090 Palavras (9 Páginas) • 154 Visualizações
Avaliação Psicológica: Historicidade, Dificuldades e Desafios para Atuação Profissional na Contemporaneidade
Resumo:
O presente ensaio tem por objetivo explorar elementos fundantes do campo de atuação profissional de psicologia que atua na avaliação psicológica. Uma avaliação psicológica consiste na aplicação de testes e de protocolos que permitem ao psicólogo interpretar, de forma contextualizada e a partir de múltiplas evidências, a condição psicológica de um sujeito, fazendo uso de tipologias e taxonomias previstas na literatura para emissão de um laudo psicológico. Abordamos a historicidade desse campo profissional da psicologia bem como dificuldades e desafios no Brasil nas últimas décadas. Também elencamos alguns testes e procedimentos básicos, apontando para necessidade de formação para além desses elementos, em especial, enfatizando a responsabilidade das instituições de ensino na disponibilização de recursos e profissionais qualificados bem como no compromisso dos profissionais em formação para com a necessidade de contínua atualização profissional, mesmo após a conclusão da graduação.
Palavras-Chave: Avaliação Psicológica; testes Psicológicas; formação em psicologia; ética do psicólogo.
Introdução
A avaliação psicológica é um conjunto de procederes técnico-científicos que delimitam um campo de atuação profissional da psicologia. Consiste em protocolos de coleta de dados, interpretações de informações dos fenômenos psicológicos de um paciente. Nesse sentido, o profissional da psicologia, durante a avaliação, tem que sustentar imparcialidade interpretativa, preservação da integridade do sujeito, sigilo e profissionalismo na confecção dos laudos. Pela importância e desdobramentos de uma avaliação e seu laudo psicológico na vida de um sujeito, esse campo de atuação profissional e de pesquisa científica vem tem recebido muita atenção nas últimas décadas. Entretanto, as publicações recentes do campo apontam para fragilidades nas práticas e que podem denunciar fragilidades e problemas na formação desses profissionais (Mendes et al., 2013).
Os esforços para delinear caminhos seguros para formação e prática embasada em conhecimento de ponta são de longa data. Já em 1998 a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) havia estabelecido um grupo de trabalho que resultaram em produções resultantes das discussões de pesquisadores fomentadas por esse grupo. Muitas dessas produções foram incorporadas pelo campo como guidelines (Noronha & Reppold, 2010). Também há algumas décadas a avaliação psicológica se organiza como tema de associação científica e movimentos ativos na política de saúde brasileira. Exemplos como esse encontramos no estão no Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) e na Associação Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos (ASBRo) fundados, respectivamente, em 1997 e 1993 buscando promover e desenvolver a área e representar a avaliação psicológica em órgãos e instituições de interesse do psicólogo(Noronha & Reppold, 2010).
Mas, a despeito de todo esforço na constituição de um campo forte e de bases para formação qualificada, como por exemplo publicações científicas relevantes empreendidas por pesquisadores brasileiros, Mendes et al. (2013, p. 430) apontam que “ainda hoje se pode notar que parte dos problemas relacionados à área, principalmente aqueles voltados para a questão da formação, ainda persistem”. Entre eles, segundo os autores, está a formação insuficiente, senão inadequada dos profissionais que, na ausência de professores especializados e implicados na pesquisa atuando na formação, muitas vezes formam profissionais que utilizam os instrumentos de forma inadequada e com isso provocam sérios desdobramentos na vida dos pacientes – por falha na formação.
É com esse intuito que esse trabalho visa, nos limites das condições de aprendizado impostas pela situação de pandemia e mediação de tecnologia para as aulas presenciais, ressaltar a necessidade de formação qualificada para aplicação de testes psicológicos em conjunto com outros elementos avaliativos, de forma compromissada com as condições exigidas e interpretações coerentes com a epistemologia sob a qual tais métodos são sustentados.
Abordamos um pequeno histórico das avaliações psicológicas, principais métodos e o cenário atual a partir de publicações que comentam o estado da arte no Brasil.
Avaliação psicológica: historicidade, dificuldades e desafios
Os primeiros testes psicológicos datam do século XIX, século da consolidação de muitas ciências sob a onda positivista que separou campos como a sociologia e a psicologia dos domínios da filosofia. A onda objetivista e de busca por métodos e procedimentos que anulassem a subjetividade do intérprete em nome da imanência da coisa estudada fez parte da fundação de muitas ciências (Lara, 2019). Foi nesse contexto que o desenvolvimento de instrumentos de avaliação psicológica ganhou notoriedade como sendo um campo de atuação que tinha por objetivo descrever, imparcialmente, a condição psicológica de um sujeito: de forma metodologicamente orientada por meio de um protocolo universal. Tal possibilidade logo tomou atenção dos clínicos e passou a ser uma marca desse campo para construção de avaliações psicológicas metodologicamente orientadas por múltiplas técnicas.
O campo profissional de avaliação psicológica faz parte da identidade da profissão de psicólogo no Brasil e no mundo. De corrente positivista e baseado em testes protocolares, esse campo de atuação está previsto no Brasil desde a regulamentação da profissão pela Lei Federal no 4.119 (1962). Nesse sentido, a atuação do profissional nesse campo é indissociado da psicologia brasileira. A despeito de ser um campo cujas práticas claudicam há décadas, tal característica não são apenas visíveis no campo brasileiro, mas “são inerentes ao desenvolvimento das técnicas de avaliação psicológica, especialmente dos testes, no cenário internacional (Bueno & Peixoto, 2018, p. 110).
As dificuldades históricas dessas técnicas no Brasil rodeiam confusões entre conceitos e condições para aplicação dos testes e suas interpretações no contexto da avaliação denunciam fragilidades tanto na formação quanto na qualidade dos próprios protocolos (Bueno & Peixoto, 2018; Mendes et al., 2013).
Dessa maneira, o que se pode notar é que a formação em avaliação psicológica tem constituído um problema central na formação em Psicologia, tendo-se em vista que diferentes autores têm apontado uma relação entre atuações profissionais impróprias e formação inconsistente na área (Noronha, Primi, & Alchieri, 2005), isso porque tem sido bastante unânime a constatação de que as disciplinas de avaliação psicológica têm, historicamente, enfatizado prioritariamente questões relativas à aplicação, à correção e à interpretação dos instrumentos (Alchieri & Bandeira, 2002), sendo bastante ausentes discussões mais críticas a respeito do teste ou até de conteúdos mais específicos de psicometria (Noronha, Baldo, Barbin, & Freitas, 2003). Assim, o ensino dos instrumentos psicológicos tem se mostrado, segundo Trevisan (2011), insuficiente, necessitando de maior aprofundamento teórico e prático, com a compreensão dos limites e do alcance de cada uma das técnicas (p.121).(Mendes et al., 2013, p. 430).
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