A POSITIVA INFLUÊNCIA DO TEN BRIG MURILLO SANTOS NA ATUAL CONCEPÇÃO DO COMANDO DA AERONÁUTICA
Por: paivaaraujo • 5/3/2020 • Ensaio • 1.921 Palavras (8 Páginas) • 349 Visualizações
A POSITIVA INFLUÊNCIA DO TEN BRIG MURILLO SANTOS NA ATUAL CONCEPÇÃO DO COMANDO DA AERONÁUTICA
1 INTRODUÇÃO
O avião tem sido utilizado como arma de guerra há aproximadamente cem anos, tempo praticamente irrelevante quando comparado com a história do homem sobre a Terra. Mas a evolução intelectual e tecnológica ocorrida nesse último século, sobretudo no ambiente aeronáutico militar, é algo que não passa desapercebido nem aos mais desatentos. Participar de um conflito armado utilizando um veículo voador mais pesado que o ar, definitivamente, não é algo trivial. Exige muita capacitação de todos os envolvidos e contínuo aperfeiçoamento tecnológico.
É exatamente por esse motivo que centenas de pensadores, do passado e do presente, debruçaram-se - e ainda o fazem - sobre um sem número de assuntos que envolvem o Poder Aéreo, a fim de clarificar os contextos em que o tema está inserido e indicar caminhos para o sucesso das forças aéreas. No Brasil, não tivemos um grande número de pensadores do Poder Aéreo, mas, entre os poucos que trabalharam nesse universo, tem destacada atuação Murillo Santos, oficial aviador da FAB que atingiu o posto máximo da carreira.
Ainda como oficial da ativa, Santos produziu duas obras literárias que influenciaram, e ainda influenciam, de maneira marcante e muito positiva um número expressivo de militares brasileiros, sobretudo aviadores da FAB. Em 1989, o autor lançou Evolução do Poder Aéreo e, em 1991, apresentou O Caminho da Profissionalização das forças Armadas.
O primeiro livro faz uma análise objetiva e sistemática das transformações do Poder Aéreo ao longo do tempo e sublinha os principais aspectos que devem ser observados pelos profissionais que ocupam cargos decisórios em uma força aérea. As proposituras sobre a importância do desenvolvimento tecnológico para a aviação militar apresentadas na obra foram tão marcantes que até nos dias atuais reverberam nos gabinetes das altas autoridades da FAB. A decisão de se desenvolver uma nova aeronave de transporte tático, ao invés de comprar uma que já estava pronta, indica essa forte influência.
Na obra de 1991, Santos aponta com total sucesso a primordial necessidade de se investir na capacitação do efetivo das forças armadas nacionais, tendo em vista que não se pode falar em soldado moderno se não existir uma formação de excelência. Mais uma vez, as ideias do autor influenciaram fortemente os decisores de altas patentes. O resultado foram contínuas melhorias no sistema de ensino da Aeronáutica, culminando com a implementação de mais um ano no curso de Comando e Estado Maior da Aeronáutica, transformando-se, portanto, em um curso de dois anos.
A partir desse ponto, podemos apontar alguns aspectos mais detalhados acerca dessas duas ideias do pensador em tela, a fim de clarificarmos como elas influenciaram construtivamente a atual concepção do Poder Aéreo nacional
2 O PAPEL DA TECNOLOGIA NO FUTURO DA FAB
Desde os primórdios da história, o ser humano tem lutado incansavelmente pelo avanço de todo tipo de tecnologias, pois elas traziam não somente conforto, mas também facilitava a própria sobrevivência. Contudo, foi no desenvolvimento de veículos voadores mais pesados que o ar que o mundo viu algumas das maiores conquistas tecnológicas. Em seu livro Evolução do Poder Aéreo (1989), Murillo Santos - de modo muito acertado - ressaltou aos líderes da Força Aérea Brasileira que os conceitos de Poder Aéreo e de Avanço Tecnológico precisam caminhar juntos.
No ano em que Santos produzia sua obra de estreia, o planeta via um dos mais representativos episódios da idade contemporânea: a queda do Muro de Berlim. Tal acontecimento exigiu de todos os teóricos militares uma grande guinada em seus pensamentos, pois, definitivamente, o cenário internacional passaria por grandes transformações. Foi nesse contexto que Murillo Santos indicou um dos mais importantes pilares que qualquer força aérea moderna deveria erguer se quisesse cumprir sua missão institucional: o desenvolvimento tecnológico.
Na obra produzida em 1989, Santos destaca inúmeros conceitos e teorias que marcaram sobremaneira gerações de oficiais da FAB, mas, certamente, uma das ideias que mais influenciou a atual concepção estratégica do COMAER foi o papel que desenvolvimento tecnológico tem - e sempre terá - nas forças aéreas modernas. O autor de Evolução do Poder Aéreo versa com competência e assertividade sobre a relevância do desenvolvimento de aeronaves e misseis, reforçando a importância dos avanços tecnológicos (SANTOS, 1989, P. 132-134). Ao lançarmos luz sobre o caminho que, atualmente, a Força Aérea Brasileira tem seguido, com vistas à soberania do espaço aéreo, fica claro que os pensamentos de Murillo Santos, mais do que nunca, estão sendo considerados, pois o desenvolvimento tecnológico tem sido uma base sólida da trilha utilizada.
Como forma de ilustrar a influência de Santos nas decisões do Alto Comando da FAB, podemos apresentar o mais bem-sucedido projeto de desenvolvimento tecnológico já implementado no Brasil: o KC-390. Em meados da década de 90, a FAB deu início aos estudos que visavam substituir o consagrado C-130 Hércules, uma vez que tal aeronave já se encontrava próxima de seu tempo limite de vida útil. Imediatamente, foi percebido que, ou comprávamos uma versão mais atualizada do C-130 ou poderíamos desenvolver um vetor de transporte tático totalmente novo.
Tendo em vista a decisão que foi tomada, pode-se perceber que o Alto Comando da Força seguiu as proposições que Santos já apresentava em 1989. A simples compra de uma aeronave já existente seria mais fácil e mais barato, mas o país perderia uma grande oportunidade de investir em desenvolvimento tecnológico, uma vez que o know how adquirido nesse processo certamente serviria para muitas outras áreas da indústria nacional. A própria Doutrina Militar de Defesa afirma que “o Poder Aeroespacial resulta da integração dos recursos que a Nação dispõe para a utilização do espaço aéreo e do espaço exterior, quer como instrumento de ação política e militar, quer como fator de desenvolvimento econômico e social, visando a conquistar e a manter os objetivos nacionais.” (BRASIL, 2007, p.15)
Desenvolvimento tecnológico é algo vital para qualquer país que tenha o desejo de evoluir como nação moderna, mas não é possível pensar nesses termos se não houver pessoas adequadamente capacitadas para lidar com os desafios advindos desse processo.
3 O APRIMORAMENTO DA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DA FAB
Desde os primeiros anos da Força Aérea Brasileira como uma força armada independente, é percebido que existe um esforço por parte dos profissionais que a conduzem no sentido de oferecer uma formação adequada a todo o seu efetivo, sobretudo quando se fala sobre oficiais de carreira. Seguindo essa linha de ação, a obra produzida pelo Tenente Brigadeiro Murillo Santos, intitulada O caminho da profissionalização das forças armadas (1991), tentou e conseguiu influenciar ainda mais as mentes daqueles que planejavam o futuro da Força.
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