A Religiosidade na obra Auto da Compadecida de Ariano Suassuna
Por: Amandagloomy • 12/6/2015 • Relatório de pesquisa • 4.205 Palavras (17 Páginas) • 1.864 Visualizações
Religiosidade na obra Auto da Compadecida de Ariano Suassuna
Eliane De Sousa Melo[1]
Gabriel Cunha Garcia[2]
Laís Martins Oliveira[3]
Manuela Origuella Ventura[4]
Tamisa Betina da Silva[5]
Adriana Elias Magno da Silva[6]
Resumo
Este artigo trata da religiosidade presente na obra "Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna, com enfoque no 3º ato da peça.
Buscamos promover paralelos entre a crença popular e a cultura nordestina.
Abordamos brevemente a formação do povo brasileiro para identificar a religiosidade como fruto da miscigenação histórica.
A partir disso o autor sofre influencia dessa crença que aparece intrínseca na forma em que faz suas criações e de como transpõe isso para a dramaturgia.
Por isso o romancista; dramaturgo; ensaísta e poeta brasileiro acreditava que na hora de compor uma de suas obras tinha a colaboração de uma comunidade inteira para escrever.
Com o intuito de que a religiosidade que estava presente em sua vida pessoal passasse para o cunho literal.
Abordamos as semelhanças entre o "Auto da Compadecida" com "O Auto da Barca do Inferno" de Gil Vicente, autor que foi uma das fortes influencias usadas por Ariano Suassuna na composição de suas obras. Fazendo um recorte sobre os "autos de fé" da Idade Média. O desenvolvimento do artigo será elencado em três partes: a primeira é referente a religiosidade nordestina e o imaginário popular; Suassuna e sua religiosidade e finalizando com um recorte da religiosidade presente na obra "Auto da Compadecida" focado no 3º ato da peça.
Objetivamos conseguir transmitir a visão religiosa desse célebre autor, mas principalmente em como ela aparece latente no "Auto da Compadecida", considerada como uma das maiores obras do autor.
Palavras-chave
Ariano Suassuna, Religiosidade, Nordeste, Cultura Popular, Auto da Compadecida.
Introdução
O objetivo deste trabalho é mostrar as raízes da religiosidade nordestina na obra “Auto da Compadecida” (2005), de Ariano Vilar Suassuna (1927/2014). Para ilustrar essa gama de oposições e contrastes ninguém melhor que Ariano Suassuna o “poeta sertanejo” que tem a incrível capacidade de mesclar o erudito e o popular, de forma coerente e de fácil compreensão, mergulhando entre o sagrado e o profano sem abrir mão de sua própria identidade multicultural.
A literatura popular brasileira expressa muito bem alguns elementos do imaginário nordestino. Para Décio Prado (2001, p.98), a literatura representa os grupos humanos, através de personagens tipo, que traduzem o grupo profissional e social predominante. Assim, a predominância relaciona-se com a complexidade que é determinar uma certa cultura como sendo a ideal ou a real.
A peça teatral “Auto da Compadecida” (SUASSUNA, 2005), foi o texto escolhido para ilustrar este trabalho. Suassuna poeta popular critico de seu tempo, tem opiniões claras acerca do mundo e do homem.
Para sedimentar o universo ideológico que circunda Ariano Suassuna é necessário adentrar em sua religiosidade e o mundo que o circunda, nascido na Paraíba, adotou recife como sua cidade de coração, onde viveu até os últimos dias de sua vida, o autor considerava-se católico.
Ao escolher seu próprio modo de ser católico (não ortodoxo), Suassuna apresenta a tendência dos nossos dias de escolher na religião apenas aquilo que lhe é do agrado, não atendendo para suas formas, hierárquicas e estruturas, mas tomando dela apenas o que lhe serve e lhe agrada. (MAGALHÃES, 2014. s/p)
A obra traz uma reflexão acerca das relações entre Deus e os homens o pecado e a absolvição, a religiosidade é elemento da mais elevada importância na mentalidade do povo nordestino, porem iremos destacar apenas o modo conforme ela é entendida e interpretada pelo povo sertanejo.
Neste Artigo iremos discorrer sobre o imaginário popular e a religiosidade nordestina. Para Medeiros (2002), o imaginário é uma memória coletiva que permite ao ser humano, enquanto um ser social, elaborar os seus próprios pensamentos a respeito de si mesmo e da realidade que o cerca. Neste sentido entende-se que Suassuna mostra a realidade nordestina assegurada pelo contexto histórico-social da obra e um território brasileiro explorado pelo colonialismo e influenciado pela miscigenação.
O autor relativiza a moral e a ética ao justificar pecados e suavizar suas consequências utilizando estereótipos religiosos como representação do imaginário religioso popular. Para Cammarota (2007) ao observar alguns personagens tais como: Manuel, Encourado e a Compadecida, percebemos que o sentido da obra é uma reflexão sobre a moral da igreja católica apresentando alguns dogmas da igreja, como o pecado, o céu, o inferno, e o dia do julgamento.
II.1. Imaginário Popular e a religiosidade nordestina.
Segundo Ribeiro (2006) a formação do povo brasileiro tem como base fatores históricos, que influenciaram a configuração de uma identidade cultural. Socialmente a história está calcada na desigualdade e na desumanização pela qual formos colonizados.
A base dessa construção étnica brasileira deu-se através da miscigenação de índios, negros escravos e portugueses.
O Brasilíndio como o afro-brasileiro existia numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não índios, não europeus e não negros, que eles se veem forçados a criar sua própria identidade étnica: a brasileira. (RIBEIRO, 2006 p. 118)
A religiosidade brasileira como elemento cultural também carrega em si essa miscigenação histórica, as crenças indígenas, a herança africana e o catolicismo, emprestaram para a cultura brasileira uma fisionomia religiosa de pluralidade (RIBEIRO, 2006).
O catolicismo exerce grande influência na religiosidade do povo brasileiro, codificando-se em um catolicismo que difere-se do catolicismo romano.
A religião católica, com seus personagens sacros e seu calendário festivo, marcou fortemente a cultura popular brasileira. Fatores como o distanciamento geográfico dos representantes da igreja oficial criaram ambiente propício à re-territorialização de um catolicismo português impregnado de elementos culturais pré-cristãos, arcaicos, como o uso da dança no culto à divindade. A tolerância para com as práticas culturais “pagãs” enraizados no povo e alheias ao Catolicismo, característica dos propagadores ibéricos da fé católica (que se observava na catequese dos índios) estava ligada aos imperativos de conversão da Contrarreforma. Floresce, portanto, no Brasil uma interessante apropriação popular do rito católico, retrabalhado como "igreja paralela" na qual se dança, se canta, se dramatiza. (Disponível em: www.cachuera.org.br)
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