A Teoria Geral da Administração
Por: androvidia • 6/11/2022 • Relatório de pesquisa • 1.419 Palavras (6 Páginas) • 84 Visualizações
Fundação João Pinheiro
Curso Superior em Administração Pública, CSAP XLIV
Teoria Geral da Administração
Lucas Valença Barreto
Resenha 1 - Edward Palmer Thompson
O artigo “"Lazer, modernidade, capitalismo: um olhar a partir da obra de Edward Palmer Thompson", é estudado pelo professor Victor Andrade de Melo, sob o viés do lazer e cultura, utilizando como base Edward Palmer Thompson, que analisa a influência do capitalismo no tempo ao relacionar diversas modificações na sociedade, com o foco no proletariado e traz uma inovação ao utilizar do lazer e cultura como objeto de estudo. Thompson é um historiador de concepção teórico marxista heterodoxo, e quebra a tradição ao afirmar que a classe não é construída somente em termos econômicos, mas também da construção histórica da experiência conjugados à cultura.
Neste sentido, no século XVIII, a Inglaterra passava pelo período da Revolução Industrial e Gloriosa, tendo uma grande mudança de hábitos de consumo, englobando o lazer como uma indústria. Conforme afirma Soares (2007:140) há uma “relação direta entre a Revolução Industrial e o processo de expansão de consumo[...]ambos aspectos fundamentais para a emergência de uma sociedade capitalista-industrial”. Essa relação fez com que houvesse novos hábitos culturais e criou-se uma distinção entre aqueles que eram civilizados e poderiam se exibir em locais reservados (gentry) e aqueles mais a sarjeta da sociedade, que se reuniam em locais públicos sem grandes relevâncias (plebe). Entretanto, o aumento do engajamento das pessoas mais humildes e a formação de uma cultura popular, como a participação em feiras e tabernas, preocupavam as elites, no instante em que as organizações da plebe ameaçavam o controle dos ricos, ordem da social e a luta por direitos sociais.
É possível ressaltar ainda, que “o uso do termo lazer é inadequado para alguns momentos do século XVIII” (MELO, 2010, p11), já que havia uma dificuldade de distinguir o que era trabalho e o que era lazer, pois a organização do trabalho não se dava de modo claro, muitas vezes, entrelaçando com as atividades livres. Apenas com a mudança do momento fabril para o industrial que houve uma melhor distinção dos momentos profissionais e dos tempos livres de lazer definidos, devido a reinvindicações dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, como jornadas semanais definidas.
Na mudança do século XVIII para o XIX, com a influência da Revolução Francesa, Thompson exalta um aumento do conflito entre a gentry e a burguesia comercial, com o aumento da influência capital e as camadas populares, “O pânico contrarrevolucionário das classes dirigentes se expressava em todas as facetas da vida social: nas atitudes frente ao sindicalismo, à educação do povo em suas maneiras e diversões, às suas publicações e sociedades, e aos seus direitos políticos” (Thompson, 1987ª, v.1: 195). A partir disso, há um aumento das normas sociais e a criação de ações de controle sob a plebe a fim de manter o establishment e evitar revoluções sociais. A manipulação das condutas sociais foi um fator de grande importância, já que com a rotina extenuante da indústria, com o início do Capitalismo, os trabalhadores buscavam no contra turno momentos de relaxamento nas tabernas e feiras, o que ia contra lógica do trabalho exacerbado e remetia há um estilo de vida antigo que precisava ser extinto. Além disso, nos locais de divertimento da plebe, haviam discussões sobre os problemas do modelo industrial imposto e articulações para reivindicarem possíveis mudanças políticas.
O controle do operariado não se deu apenas por mecanismos estatais (ações jurídicas e policias), havia, também um metodismo protestante que pregava uma mentalidade puritana e ao mesmo tempo sem nenhuma reflexão intelectual “tratava-se de disciplinar o trabalhador, de levar a coerção para o interior de cada indivíduo. Afinal, propugnava-se, a felicidade só poderia ser encontrada no trabalho e em Cristo” (MELO, 2010, p.14). Havia uma necessidade mais coesiva de impor a nova rotina fabril, algo que a gentry não fez com tanta evidência nos divertimentos populares:
Nas regiões industriais, podia-se observá-la na expansão da disciplina fabril, condicionada pela campainha e pelo relógio, do trabalho às horas de lazer, dos dias úteis ao Sabbath, e também nas tentativas de repressão do “domingo do sapateiro”, das feiras e dos feriados tradicionais (THOMPSON apud MELO, 2010, p.16)
A utilização do relógio como artefato de controle deu a noção do tempo progressivamente mais determinado, com o sincronismo do horário da indústria e a vida do proletário e uma diminuição de um horário livre, reflexo do crescimento do capitalismo no meio social. Com isso, há um embate entre os empregadores e os trabalhadores, por melhores condições da jornada de trabalho. Contudo, o enfraquecimento do puritanismo aliado com ideias de potencialização da produção do trabalhador com limite diário de trabalho ajudaram na conquista dos direitos trabalhistas, marca do começo dos movimentos sindicais do século XIX. Melo também ressalta que houve uma discussão sobre a moralização do tempo livre, de acordo com que as atividades que a pessoa faria seria visto pela sociedade como boa (leitura de livros, educar os filhos, ...) ou ruim (frequentar feiras, tavernas, ...). Apesar disso, por mais que ocorriam represálias sob as práticas populares de lazer, elas continuaram a se manter e a se adaptar, mantendo o estilo de vida popular e pode-se enxergar até mesmo como uma forma de resistência cultural. Melo também enfatiza que não são todos que tinham acesso à cultura, já que era um privilégio para poucos, e que os que teriam essa vantagem tinham a missão de conduzir aqueles que não poderiam ter, uma maneira de dominação cultural. Porém, o autor ressalta que “Se houve algo que contribuiu centralmente para a mudança de hábitos, não foi o combate moral, ação religiosa, tampouco intervenções da polícia, mas sim os desdobramentos do capitalismo” (MELO, 2010, p.20), que mudou a realidade de muitas pessoas, fazendo com que certos hábitos fossem extintos até mesmo pelo aumento da condição de miséria, a perda de tempo livre e o espaço urbano.
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