A Transformação da essência da hermenêutica entre o Aufklärung e o Romantismo
Por: Tacia Souza • 6/7/2018 • Trabalho acadêmico • 805 Palavras (4 Páginas) • 155 Visualizações
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A transformação da essência da hermenêutica entre o Aufklärung e o Romantismo:
Afastamento do interesse dogmático pelo problema hermenêutico; foco no desenvolvimento do método hermenêutico na Idade Moderna, que desagua da consciência histórica.
Pré-história da hermenêutica romântica:
- Doutrina da arte da compreensão e interpretação se desenvolveu por dois vieses: teológico e filológico (o estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas; gramática histórica)
- Hermenêutica teológica: auto-defesa da reinterpretação da Bíblia contra o ataque dos teólogos tridentinos e seu apelo à tradição
- Hermenêutica filológica: instrumento para o resgate da literatura clássica (amoldada ao mundo cristão) pelos humanistas
- Em ambos os casos trata-se da ideia de redescobrimento
- A hermenêutica procura desvendar o sentido original dos textos
- Lutero: a Sagrada Escritura é seu próprio intérprete (se afasta da tradição e de técnica interpretativa como a doutrina do quádruplo sentido - literal, moral, alegórico e escatológico) e possui sentido unívoco, que deve ser intermediado por ela própria
- O sentido literal da Escritura não se entende de maneira unívoca em todos os momentos. O conjunto guia a compreensão do individual e vice-versa. Analogia à relação entre corpo orgânico e membros.
- Princípio fundamental e geral da interpretação de um texto: todos os aspectos individuais de um texto devem ser compreendidos a partir do contextus e a partir do sentido unitário para o qual o todo está orientado
- Tal princípio vincula a teologia da reforma a um fundamento dogmático, pela ideia de que a Bíblia é uma unidade (diversidade de autores – século XVIII (teólogos Ernesti e Semler)/reunião de fontes históricas que deve se submeter não só a uma interpretação gramatical como a uma interpretação histórica – reestruturação do contexto). O princípio de interpretar o individual a partir do todo já não pode limitar-se à unidade dogmática do todo, agora diz respeito à conjuntura da realidade histórica a qual pertence cada documento individual. “Cada frase só pode ser entendida a partir do seu contexto” e ainda o contexto só pode ser entendido a partir dos elementos individuais. Desde esse momento só há uma hermenêutica (está presente em toda a historiografia e assume função propedêutica (fase preparatória) em relação a ela).
- Questão: compreender o texto por ele mesmo é suficiente? Deveria ser completado por um fio condutor de caráter dogmático? Tal pergunta só pode ser colocada depois que o Aufklärung mediu plenamente suas possibilidades (???)
- A hermenêutica teve que começar por se desvincular do dogma e liberar-se a si mesma para elevar-se ao significado de organon histórico
- A compreensão se converte em problema, ela já não é uma doutrina da arte a serviço da práxis do filólogo ou do teólogo
- Filólogos: a hermenêutica é determinada pelo conteúdo do que se quer compreender
- O esforço da compreensão tem lugar cada vez que não existe uma compreensão imediata ou existe a possibilidade de um mal entendido
- Schleiermacher: já não busca a unidade da hermenêutica na unidade de conteúdo da tradição; extensão da tarefa hermenêutica ao diálogo significativo. A hermenêutica deve promover a superação da estranheza, que é resultado da “individualidade do tu” (repulsa contra o que se faz passar por essência comum da humanidade (nova forma de ver a relação com a tradição) e não característica individual). Dessa forma, com Schleiermacher, o fio condutor dogmático da compreensão de um texto já não está ligado à um consenso fundamentado biblicamente nem racionalmente.
- Compreensão é entendimento. Os homens se compreendem na maioria das vezes imediatamente; se compreender é entrar em acordo
- “Quando se pode dizer que duas pessoas se entendem (...) não somente se entendem nisso ou naquilo, mas em todas as coisas essenciais que unem os homens”
- “” Página 283 C1 e C2
- Podemos compreender somente se nos livrarmos de nossos preconceitos e reconhecermos o espírito do autor “historicamente” (“Nós queremos reconhecer unicamente o sentido das frases e não sua verdade”) para Schleiermacher: “compreender o autor melhor do que ele teria se compreendido”
- A “naturalidade do procedimento científico-natural deve valer também para o posicionamento frente à tradição bíblica – e para isso serve o método histórico”
- Chladenius: Compreender é diferente de interpretar. Interpretar significa “acrescentar conceitos necessários para entender inteiramente uma passagem”. A interpretação não indica essa verdadeira compreensão, mas é determinada para resolver as obscuridades que impedem essa compreensão plena; Compreender um autor não significa necessariamente compreender seus escrito. A norma para compreender um autor não é sua intenção. A busca pela compreensão de um escrito pode levar a outras ideias nas quais o autor não havia pensado. Um autor pode também ter dito em mente mais do que se pode compreender, mas a tarefa da hermenêutica não é juntar esse mais à compreensão
- A necessidade de uma hermenêutica surge com o desaparecimento do compreender-se por si mesmo
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