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O PENSAMENTO FEMINISTA NEGRO

Por:   •  16/10/2022  •  Ensaio  •  5.205 Palavras (21 Páginas)  •  112 Visualizações

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PENSAMENTO FEMINISTA NEGRO

© desta edição, Boitempo, 2019

© Patricia Hill Collins, 2000, 2009

Excerto traduzido de: Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness and the Politics of Empowerment, © 2000, 2009, Routledge, All Rights Reserved

Authorised translation from the English language edition published by Routledge, a member of the Taylor & Francis Group LLC

Direção editorial Ivana Jinkings

Edição André Albert

Assistência editorial Artur Renzo e Carolina Mercês Tradução Jamille Pinheiro Dias Preparação Mariana Echalar

Revisão Carolina Mercês

Coordenação de produção Livia Campos

Diagramação A2

Capa Heleni Andrade

Equipe de apoio: Ana Carolina Meira, Andréa Bruno, Bibiana Leme, Clarissa Bongiovanni, Débora Rodrigues, Eduardo Marques, Elaine Ramos, Frederico Indiani, Higor Alves, Isabella Marcatti, Ivam Oliveira, Joanes Sales, Kim Doria, Luciana Capelli, Marlene Baptista, Maurício Barbosa, Raí Alves, Talita Lima, Tulio Candiotto

Exemplar de cortesia. É vedada a comercialização deste livreto, bem como a reprodução de qualquer parte dele sem a expressa autorização da editora.

Este livreto contou com o apoio da gráfica Rettec, da International Paper e da Labate Papéis.

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1a edição: março de 2019[pic 13]

Impresso em papel Chambril Avena 80 g/m², da International Paper, pela gráfica Rettec.[pic 14]

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A mulher negra como teórica social crítica*

“Até quando as nobres filhas da África serão forçadas a deixar que seu talento e seu pensamento sejam soterrados por montanhas de panelas e chaleiras de fer- ro?”, indagou Maria W. Stewart em 1831. Órfã desde os cinco anos de idade, entregue aos serviços da família de um clérigo como trabalhadora doméstica, Stewart lutou para se educar quando e onde pôde, de maneira fragmentada. Essa intelectual negra é uma pioneira: foi a primeira mulher nos Estados Unidos a proferir discursos sobre questões políticas e a legar cópias de seus textos, e ainda prenunciou uma miríade de questões que seriam retomadas pelas feministas ne- gras que a sucederam1.

Maria Stewart incentivou as afro-americanas a rejeitar as imagens negativas da condição feminina negra, tão presentes em seu tempo, assinalando que as opres- sões de raça, gênero e classe eram as causas fundamentais da pobreza das mulheres negras. Em um discurso realizado em 1833, declarou que, “assim como o rei Salomão, que não pegou em prego nem em martelo na construção de seu tem- plo, mas levou os louros por ele, os estadunidenses brancos levam o mérito […] quando, na realidade, sua principal base e alicerce fomos nós [homens e mulheres negros]”. Stewart protestou contra a injustiça dessa situação: “Nós fomos atrás das sombras; eles ficaram com a matéria. Nós fomos incumbidos do trabalho; eles ficaram com os rendimentos. Nós plantamos as vinhas; eles comeram os frutos”2.

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* Este texto é um excerto do capítulo “A política do pensamento feminista negro”, que faz parte do livro Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento, de Patricia Hill Collins, a ser lançado pela Boitempo em 2019. (N. E.)

1 Marilyn Richardson (org.), Maria W. Stewart: America’s First Black Woman Political Writer (Blooming- ton, Indiana University Press, 1987).

2     Ibidem, p. 59.

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Maria Stewart não se contentou em apenas indicar a fonte da opressão das mulhe- res negras. Ela incentivou as mulheres negras a criar definições próprias de auto- confiança e independência. “É inútil continuarmos sentadas, de braços cruzados, repreendendo os brancos. Isso não vai contribuir para melhorar nossa condição”, exortou. “Tenham espírito de independência […]. Tenham o espírito dos ho- mens, ousado e intrépido, destemido e inabalável.”3 O poder de autodefinição era essencial para Stewart, pois a sobrevivência das mulheres negras estava em jogo. “Lutem pela defesa de seus direitos e privilégios. Conheçam as razões que as im- pedem de ter acesso a eles. Insistam até levá-los à exaustão. Tentar talvez nos custe a vida, mas não tentar certamente nos levará à morte.”4

Stewart também incentivou as mulheres negras a usar seu papel específico como mães para constituir mecanismos poderosos de ação política. “Ah, mães, que responsabilidade lhes cabe!”, clamou ela. “Almas lhes foram confiadas […]. São vocês que devem cultivar a sede de conhecimento, o amor à virtude […] e um coração puro em suas filhas e em seus filhos.” Stewart tinha consciência da mag- nitude da tarefa. “Não digam que não podem fazer nada por seus filhos; digam […] que vão tentar.”5

Maria Stewart foi uma das primeiras feministas negras nos Estados Unidos a va- lorizar a importância das relações das mulheres negras umas com as outras para criar uma comunidade própria de ativismo e autodeterminação. “Até quando di- rão que as filhas da África não têm ambição nem força?”, perguntou ela. “Chega. Que os corações femininos se unam pela criação de um fundo; daqui a um ano e meio, talvez já tenhamos o suficiente para construir uma escola secundária, a fim de desfrutarmos dos mais altos ramos do conhecimento.”6 Stewart viu o potencial do ativismo das mulheres negras como educadoras e recomendou: “Voltem-se para o conhecimento e o aprimoramento, porque conhecimento é poder”7.

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