OS PEIXES E LINGUAGEM

O texto intitulado 'Sobre peixes e linguagens' de Bagno, publicado em 2010, reflete acerca da linguagem e sua relação com os indivíduos, comparando-a com o modo de vida dos peixes, que não conseguem sobreviver fora da água. Nesse contexto, a água refere-se a própria linguagem, enquanto os seres humanos configuram-se como os peixes, ou seja, sem a linguagem os indivíduos não conseguiriam assimilar a sua realidade. Para Bosni a realidade vivenciada é uma tradução que nos é oferecida através dos mecanismos da linguagem. O autor também utiliza a mesma analogia com outro viés, o de refletir sobre como a linguagem só pode fazer-se linguagem a partir da dimensão textual, já que todas as atividades humanas se realizam, imperceptivelmente, como textos. Os textos também seriam o ambiente adequado das palavras, o que abre espaço, na perspectiva de Bosni, para uma crítica aos estudos e aos ensinos linguísticos que desprezam essa concepção textual da linguagem.

Essa ideia é uma deturpação violenta de teorias linguísticas sofisticadas que, lidas pela metade ou só na superfície (quando são lidas), se transformam em conceitos tomados como “verdades científicas” pelos que não se empenham em estudar mais a fundo. E, para piorar, serve de acusação contra os linguistas por parte de pessoas que pretendem, com isso, desqualificar o trabalho dos pesquisadores e tentar preservar a ferro e fogo uma concepção de “língua culta” obtusa, obscura e irreal.

Essas pessoas alegam que para os linguistas “vale tudo”, que “o importante é comunicar”, que “não é preciso corrigir os alunos”, entre outras acusações injustas que não correspondem a nada que linguistas sérios já escreveram ou disseram em público. Para se opor, então, ao que os linguistas jamais disseram, os defensores de uma concepção de língua (e de sociedade) arcaica e pré-científica apregoam o “ensino da gramática” e a inculcação de uma escorregadia “norma culta” como solução para os problemas educacionais brasileiros.

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