Os Caçadores de Novidades
Por: Kelvin Humel • 29/8/2020 • Ensaio • 1.184 Palavras (5 Páginas) • 96 Visualizações
Caçadores de novidades
O Instituto Inovação, de Belo Horizonte, está transformando pesquisas universitárias em produtos para o mercado.
Pedro Motta
Nos Estados Unidos, quando um grupo de alunos tem uma idéia inovadora com alguma chance de dar dinheiro, logo surgem investidores interessados em transformar o projeto em empresa. Foi assim que da Universidade de Stanford saíram fundadores de empresas como Google e Sun. No Brasil, as boas idéias geradas nas universidades têm mais probabilidade de ficar no fundo de uma gaveta do que ir para o mercado. Desde 2002, um grupo de sete empresários mineiros vem erguendo uma empresa que tem como meta ganhar dinheiro com a redução da distância entre as pranchetas de professores e alunos e o mercado. Com formação nas áreas de engenharia, economia e administração, além de experiência em projetos de incubadoras de empresas, eles investiram 70 000 reais para criar o Instituto Inovação -- uma empresa que caça nas universidades brasileiras tecnologias e produtos que possam se transformar em negócios. Neste ano, a empresa deve faturar 2 milhões de reais -- 66% mais que no ano passado.
Pode-se dizer que o modelo de negócios do Instituto Inovação junta duas atividades de outros dois tipos de caçadores de inovações -- os fundos de venture capital, que investem capital de risco em projetos que prometem altas taxas de retorno, e as incubadoras de tecnologia mantidas em diversas universidades brasileiras, que abrigam pequenas empresas em desenvolvimento. "Não queremos converter pesquisadores em empresários nem virar pesquisadores", diz o engenheiro Paulo Renato Cabral, de 35 anos, um dos criadores do Instituto Inovação. "Queremos fazer com que as oportunidades aconteçam."
O negócio do Inovação |
A fórmula para criar tecnologia com base em projetos universitários |
Encomendas |
Editais públicos A empresa faz parcerias com universidades e formata projetos para participar de editais de financiamento público para custear novos negócios |
Participações |
Quando nasceu, o Instituto Inovação procurava negócios em potencial com pesquisadores que se destacavam na produção universitária. Mais recentemente, a empresa fez acordos com universidades para esquadrinhar nelas o que pode ser aproveitado no mercado. Em caso de sucesso, as instituições de ensino e pesquisa recebem royalties pelos produtos. O Inovação já mantém acordos assim com as universidades de Campinas (Unicamp), Federal de Viçosa e Lavras, em Minas Gerais.
Os projetos não vêm para o mundo real com dinheiro dos sócios. Ao deparar com uma boa idéia, o Instituto Inovação formata projetos de empresas capazes de captar recursos repassados por órgãos públicos de fomento. Outra possibilidade é vender diretamente a idéia a alguma grande empresa. Às vezes, são as grandes companhias que encomendam a busca de soluções nas universidades -- entre seus maiores clientes estão empresas como Gradiente e Johnson's, por exemplo. Com base no trabalho de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais encontrados pelo Instituto Inovação, a empresa mineira Comunip, do empreendedor Ronaldo Fonseca, desenvolveu um software de transmissão de voz via internet para ser aplicado em serviços de centrais de atendimento e de comunicação corporativa. Seu maior cliente é a operadora de telefonia Brasil Telecom.
Nos últimos dez anos, os pesquisadores brasileiros aumentaram em 14% o volume de artigos técnicos e científicos publicados. Poucos, no entanto, transformam-se em tecnologias no mercado. O país responde por apenas 0,2% do total mundial de registros de patentes -- um dos principais indicadores de inovação tecnológica. "O Instituto Inovação descobriu esse nicho de negócios, que é ligar a oferta de ciência e tecnologia à demanda das empresas", afirma Mário Neto Borges, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Quando ainda não há comprador à vista para as tecnologias desenvolvidas, o Instituto Inovação ajuda os pesquisadores a criar as próprias empresas e ajuda na gestão dos negócios em troca de sociedade e participação nos resultados. Entre os negócios descobertos está a também mineira Ecovec. Com base em pesquisas do professor Álvaro Eiras, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, foi criado um sistema que permite calcular em menos de 24 horas o grau de infestação pelo mosquito transmissor da dengue em determinada área. O Ministério da Saúde brasileiro, financiador de parte da pesquisa, está avaliando a regulamentação e a aplicação do invento.
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