A Antropologia, nos últimos anos
Por: Mateus Gomes • 10/5/2015 • Trabalho acadêmico • 812 Palavras (4 Páginas) • 147 Visualizações
A antropologia, nos últimos anos, tem sido convocada para pensar uma diversidade enorme de temas para além daqueles tópicos que lhe são mais tradicionais: sociedades não ocidentais, povos isolados, ou grupos subordinados. Um desses temas, que ultimamente tem gerado um grande interesse na disciplina, é o estudo de temas relacionados à ciência e a tecnologia. Poucos tópicos, no entanto, poderiam ser pensados como mais distantes do foco tradicional da etnografia e da antropologia: a ciência é tida como a forma mais ocidental de pensar o mundo, sendo na nossa sociedade contemporânea a detentora do monopólio da verdade sobre a natureza, em detrimento de conhecimentos tidos como “tradicionais” ou “folclóricos”. A tecnologia, por sua vez, é percebida como a legitimadora desse monopólio: a inovação constante, que gera formas de domar os processos naturais em favor do homem, é pensada por muitos como a prova de que a ciência é capaz de compreender e prever a realidade como nenhuma outra forma de conhecimento. Além disso, a tecnologia é pensada como a forma de resolução de grande parte dos problemas humanos, desde a fome até a doença, chegando agora até na possibilidade de reconstrução total do humano pela via da genética e na superação da morte. No tocante a uma compreensão etnográfica a respeito da construção do conhecimento científico, tais pesquisas podem colaborar em muito também para um debate informado sobre tecnologias emergentes, que desafiam nossas atitudes e percepções a respeito do mundo. Um exemplo recente são as pesquisas ligadas à biotecnologia, incluindo desde alimentos transgênicos até o uso de células tronco embrionárias. Além de desafiarem nossas compreensões a respeito da nossa relação com o mundo natural, tais pesquisas prometem mudar nossa relação com a natureza e com a nossa própria biologia. A antropologia da ciência atual tem se debruçado sobre esses temas, produzindo conhecimento que nos ajuda a compreender como tais dilemas afetam a construção do conhecimento nessa área, além de explorar como tais tecnologias estão reconfigurando as relações sociais. De forma mais geral, outra contribuição da pesquisa antropológica é a de permitir o entendimento da ciência e da tecnologia enquanto práticas sociais. Nesse sentido, nem a produção de saberes científicos nem a aplicação destes em tecnologias são externas às realidades sócio-culturais nas quais se inserem. Por conta disso, a antropologia nos auxilia a tomar partido no que diz respeito às direções que queremos dar para o desenvolvimento científico e tecnológico. Que tipo de tecnologia queremos? Devemos buscar tecnologias que diminuam a destruição do planeta, por exemplo, ou que reduzam as desigualdades sociais? De que forma podemos alcançar tais objetivos, sem deixar de lado a necessidade de produzir inovações que melhorem a vida das pessoas e ajudem a tirar o Brasil de seu atraso relativo ao resto do mundo industrializado? De que maneira os políticos que formulam políticas podem ficar mais informados sobre como pensam os cidadãos a respeito de novas tecnologias? Como são de fato e na prática implementados os recursos e as políticas voltadas à inovação? Por que determinadas políticas, apesar de teoricamente contemplarem os objetivos desejados pela sociedade, na prática não funcionam da maneira esperada? Enfim, esses exemplos são alguns dentre a multiplicidade de questões para as quais a antropologia pode auxiliar a buscar respostas.
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