A Internet das Coisas e Agtechs no Brasil
Por: Rafael Chiaradia Almeida • 31/8/2020 • Dissertação • 7.888 Palavras (32 Páginas) • 95 Visualizações
INTERNET DAS COISAS E AS AGTECHS NO BRASIL
RESUMO
A Internet e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão transformando a economia mundial. No âmbito do agronegócio, a IoT pode contribuir com uma agricultura mais precisa, otimizando o uso de recursos como fertilizantes e água e aumentando a produtividade. Embora o Brasil possua fortes e significativas vantagens competitivas no agronegócio, ele ainda possui desafios a enfrentar, e a IoT é uma grande oportunidade para que o país consolide sua liderança mundial. Este estudo teve por objetivo analisar os produtos e/ou serviços das Agtechs brasileiras de acordo com a lista de aplicações definida no Plano Nacional de IoT do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC, 2018). Para isso, foi realizada uma pesquisa documental na internet e um estudo de casos múltiplos, por meio de entrevistas com os fundadores de 4 Agtechs brasileiras. Constatou-se que, com base nos eixos prioritários do Plano Nacional de IoT, apenas o uso eficiente de recursos naturais e insumos possui um número significativo de empresas atuantes. Com relação às camadas da arquitetura de IoT, apenas as de dispositivos e de suporte a serviços e aplicações apresentaram um número relevante de empresas com soluções proprietárias.
Palavras-chave: M10 - Administração de Empresas Geral; M13 - Novas empresas, Startups; M15 - Gerenciamento de TI; O38 - Política do governo.
ABSTRACT
The Internet and Information and Communication Technologies (ICTs) are transforming the world economy. In agribusiness, IoT can contribute to more accurate agriculture by optimizing the use of resources such as fertilizers and water and increasing productivity. Although Brazil has strong and significant competitive advantages in agribusiness, it still has challenges to face, and IoT is a great opportunity for the country to consolidate its world leadership. This study aimed to analyze the products and / or services of Brazilian Agtechs according to the list of applications defined in the National IoT Plan of the Ministry of Science, Technology, Innovation and Communications (MCTIC, 2018). For this, we conducted a documentary research on the internet and a multiple case study, through interviews with the founders of 4 Brazilian Agtechs. It was found that, based on the priority axes of the National IoT Plan, only the efficient use of natural resources and inputs has a significant number of active companies. With respect to the IoT architecture layers, only device and service and application support layers featured a significant number of companies with proprietary solutions.
Keywords: M10 - General Business Administration; M13 - New companies, Startups; M15 - IT Management; O38 - Government policy.
INTRODUÇÃO
A Internet das Coisas (IoT) é uma abordagem nova e que vem ganhando cada vez mais destaque (ATZORI; IERA; MORABITO, 2010). Também conhecida como Internet de Tudo, ou Internet Industrial, seu conceito básico é a interconexão de diversos objetos, como sensores, celulares, máquinas, atuadores, identificadores por rádio frequência (RFID), etc. e que são capazes de interagir e cooperar entre si utilizando-se de algum esquema de endereçamento e uma rede de comunicação. Os dados gerados por esses dispositivos são enviados para uma central de tratamento e processamento, e se transformam em informação útil que servirá para melhorar um processo ou um produto, entender as necessidades do cliente ou do mercado, e assim, criar novos produtos ou serviços, otimizar o uso de recursos e criar novos modelos de negócio (ATZORI; IERA; MORABITO, 2010; LEE; LEE, 2015).
Esta ideia de conectar tudo parece simples, no entanto, sua implementação apresenta diversos desafios e, por isso, a Internet das Coisas ainda se encontra em estágio embrionário (COLAKOVIC; HADZIALIC, 2018), e sua evolução causará um alto impacto na vida das pessoas e nas organizações (ATZORI IERA; MORABITO, 2010). Tal impacto é comparado com aquele que teve a Internet na década de1990 e a computação em nuvem alguns anos atrás (SAARIKKO; WESTERGREN; BLOMQUIST, 2017). Estima-se que, até 2020, entre 20 e 50 bilhões de dispositivos estarão interconectados (WEINBERG et al., 2015).
O impacto econômico da Internet das Coisas no mundo, até 2025, é estimado em 4 a 11 trilhões de dólares, maior que a robótica avançada, as tecnologias em nuvem e, até mesmo, a Internet móvel (MCTIC, 2018b). Segundo o relatório final do estudo Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil, publicado em janeiro de 2018 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), no país, o impacto econômico potencial é de 50 a 200 bilhões de dólares por ano, valor que representa 10% do PIB brasileiro de 2018.
A arquitetura da Internet das Coisas é organizada em camadas que formam uma rede globalmente acessível de coisas, provedores e consumidores. Existem na literatura diversos modelos conceituais para Internet das Coisas, dentre eles destaca-se aquele definido pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), e que foi utilizado no estudo do MCTIC (2018b). Este modelo é baseado em quatro camadas tecnológicas: dispositivos, rede, suporte a serviços e aplicações, e segurança da informação (UIT, 2019). A diversidade de aplicações da Internet das Coisas requer o desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento de inúmeras tecnologias, abrangendo todas as camadas apresentadas, ou seja, desde o componente semicondutor que permite a um sensor medir uma determinada grandeza física e que será controlado por um chip (Camada de Dispositivos), passando pelo equipamento que irá transmitir esse dado por radiofrequência (Camada de Rede), até um servidor que trata a informação, agregando-lhe valor (Camada de Suporte a Serviços e Aplicações); e tudo isso com privacidade e confiabilidade (Camada de Segurança da Informação) (DACOSTA, 2013).
Dentre as áreas de aplicação da Internet das Coisas, o ambiente Rural é considerado como prioritário pelo estudo do MCTIC (2018b). O agronegócio foi responsável, em 2018, por 16% do PIB do Brasil, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). Além disso, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que o mundo terá 9,3 bilhões de habitantes em 2050, e que para alimentar esse contingente será necessário aumentar a produção de alimentos em 70%.
Segundo o MCTIC (2018b), a estratégia do Brasil é tornar a Internet das Coisas um instrumento de desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira, capaz de aumentar a competitividade da economia, fortalecer as cadeias produtivas nacionais e promover a melhoria da qualidade de vida. Para que esse objetivo possa ser alcançado, é necessário o desenvolvimento de soluções e inovações em todas as camadas citadas. O estudo realizado pelo MCTIC definiu 8 eixos onde a aplicação da IoT seria importante. São eles: 1) uso eficiente de recursos naturais e insumos, 2) otimização de maquinário, 3) segurança sanitária e bem-estar animal, 4) produtividade humana, 5) ambiente regulatório (fiscal, ambiental e trabalhista), 6) fundiário, 7) volatilidade e transparência dos preços e 8) infraestrutura. Destes, os quatro primeiros listados são vistos como os mais relevantes (MCTIC, 2018b). O governo espera que, ao desenvolver soluções de IoT nestas áreas, o país possa se posicionar como referência desta tecnologia para a agropecuária tropical e, com isso, aumentar a produtividade nacional, incrementar as exportações, e ser reconhecido com produtos de alta qualidade e de sustentabilidade socioambiental (MCTIC, 2018b).
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