Ensaio sobre a ética, o Brasil e a cegueira
Por: Karine Fortes • 26/6/2017 • Bibliografia • 893 Palavras (4 Páginas) • 313 Visualizações
Ensaio sobre a ética, o Brasil e a cegueira
E se o Brasil fosse acometido por uma epidemia em que as pessoas ficassem cegas repentinamente? José Saramago, em sua obra “Ensaio sobre a cegueira”, aborda uma inédita epidemia, a qual causa cegueira e atinge os moradores de uma cidade não identificada. Enquanto aguardava ao volante a mudança das cores no sinal de trânsito, um homem cega repentinamente, de maneira inexplicável. A cegueira se alastra lentamente pela cidade e, diferente da cegueira comum, em que os cegos possuem apenas a percepção da escuridão, essa é uma "cegueira branca", como diz o narrador. Ao invés da ausência de luz, as pessoas infectadas enxergam apenas um intenso branco.
A obra enfoca na mudança das ações e do comportamento das pessoas, sumariamente a partir do momento em que a situação se torna mais grave, quando as pessoas cegas são alocadas para um manicômio, onde passam a viver de forma degradante e em contraposto às condições mínimas para a dignidade humana. As morais e os valores são afetados incisivamente. Ao contrário do que se espera em uma trama mainstream, as pessoas não procuravam por uma causa ou cura, mas se encontravam em um estado gradativo de deterioração social, onde a luta pela sobrevivência era a única certeza presente.
Em situações distantes desse cenário primal, a cegueira de Saramago, em proporções significativas, pode ser reconhecida na cultura brasileira. De uma forma menos impressionante e mais seletiva, a cegueira transforma cidadãos em omissos diante de situações que desafiam a legalidade, a moral e a ética presentes em seu panorama.
Nesse contexto, cabe a definição de ética. A ética pode ser definida como a ciência do comportamento moral dos humanos em sociedade. O seu objeto é a moral, em seu sentido positivo, para a prática de boas ações. A moral é entendida como o conjunto de costumes adquiridos a partir da educação, cultura e socialização, os quais direcionam o comportamento humano nas relações em sociedade.
A sociedade brasileira difunde um comportamento baseado na omissão. Diante de situações incômodas ou que desafiam a manutenção do status-quo, estabelecido por normas e regras sociais inspiradas nos ideais cristãos e nos ideais das civilizações ocidentais, ocorre um esquecimento do que se entende como os seus valores. Valores surgem a partir de reflexão e transformam-se em conceitos e juízos na determinação pessoal ou social do que é dado como certo ou errado. A cegueira é evidente nesse ponto.
O processo socioeducativo é regido por estruturas frágeis e questionáveis. As crianças recebem o que é dito como certo ou errado, mas isso passa a ser desconcertante quando compreendem que certos eventos não objetivam o bem que lhes ensinaram, e a maioria das pessoas não costumam colaborar para que hajam bons eventos, de fato. Ocasionalmente, pequenos atos em deterioração do outro são ensinados e praticados, expostos como algo pouco nocivo para a sociedade, já que “todo mundo faz” ou na condição de “só dessa vez”. Ações como furar filas, ultrapassar o sinal vermelho, não seguir às normas corretamente, omissão em cenas de violência, apropriação indevida de bens públicos, são alguns dos exemplos. Em todas essas situações, que são entendidas como prejudiciais, raras são as comoções ou correções acerca disso.
A consciência de que essas não são formas
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