FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO EM EMPRESAS NO BRASIL

1. Introdução

A identificação de melhores práticas para a  inovação de produtos tem sido tema recorrente entre profissionais e pesquisadores (HAUSER; TELLIS; GRIFFIN, 2006; LOPES; CARVALHO; 2012), haja vista que os novos produtos correspondem com um grande percentual das vendas de muitas  empresas (CHEN; LEE; TONG, 2007). A intensificação das  mudanças tecnológicas e os ciclos de vida do produto cada vez menores, aumentam a pressão para desenvolver práticas gerenciais que possam, ao mesmo tempo  melhorar o desempenho do processo de desenvolvimento de produtos (PDP) (JUGEND; SILVA, 2013; LEONARD-BARTON, 1992), e ao mesmo tempo torná-lo mais ágil (LYNN et al., 1999; VESEY, 1992; WU; LIU; ZHANG, 2017).

Com o objetivo de melhorar o desempenho do PDP, uma linha de pesquisa vem buscando identificar quais são os seus fatores críticos de sucesso (ERNST, 2002; GRIFFIN, 1997; KAHN et al., 2012; KAHN; BARCZAK; MOSS, 2006; MARKIDES, 2006; SEDIGHADELI; KACHOUIE, 2013).

Segundo Toledo et al (2008) a análise de Fatores Críticos de Sucesso (FCS), entendidos como as práticas que, quando bem executadas, contribuem para um aumento na probabilidade de sucesso do novo produto. Kahn et al (2012) acrescentam ainda que apesar de PDP não ser um tema tão recente na área de Administração e Gestão de Operações, permanecem os esforços, tanto por parte de acadêmicos quanto dos gestores, para identificação desses FCS dentro deste processo tão importante para as empresas.

Considerando pesquisas publicadas nos últimos 30 anos, desde trabalhos como o artigo “New Products: What Separates Winners from Losers?” de Cooper e Kleinschmidt (1987) até artigos mais recentes por exemplo os estudos de Samaan et al (2012), Kahn et al. (2012), Markham e Lee (2013), Holahan, Sullivan e Markham (2014) e Kachoie e Sedighadeli (2015), os estudos de FCS no PDP que, em um primeiro momento buscaram identificar as práticas gerenciais, evoluíram e passaram a incorporar outras dimensões como o uso de ferramentas tecnológicas, a estrutura organizacional adotada para o PDP e a realidade dos países em que as pesquisas foram realizadas, entre outras, demonstrando a complexidade e a característica multidisciplinar intrínseca do PDP. Percebe-se que a busca por identificar os FCS para o PDP nos mais diversos contextos permanece em aberto na literatura.

Ernst et al. (2015) destacam que os diversos estudos buscaram identificar práticas que FCS no PDP foram limitados ao estudo da inovação em economias desenvolvidas, como América do Norte, Oeste de Europa e Japão. Segundo os autores, pouca atenção foi dada às economias emergentes, as quais aparentam ser muito diferentes dos países desenvolvidos, ao passo em estas economias emergentes ganham importância como fontes de crescimento para empresas de todo o mundo.

Garret, Buisson e Yap (2006) pontuam que o ambiente no qual as empresas estão inseridas merecem ser observados em pesquisas ligadas à inovação. Deste modo, alguns trabalhos (como por exemplo SOUDER; BUISSON; GARRET, 1997; PERKS; KAHN; ZHANG, 2009), sugerem que as diferenças culturais, econômicas e políticas de cada país, refletem em diferentes práticas de gestão da inovação e abrangendo inclusive práticas ligadas ao PDP. Araújo, Barriga e Jugend (2016) apontam ainda que foram poucos estudos brasileiros que estudaram o tema FCS em empresas instaladas no país.

Assim, são poucas as pesquisas mundiais que estudaram o tema Fatores Críticos de Sucesso no PDP, e este número é ainda menor se considerar estudos que os estudaram países emergentes como o Brasil. Há de se destacar ainda que estudos brasileiros são praticamente inexistentes nesta linha.

Nesse sentido, esse artigo tem por objetivo contribuir com esse corpo de conhecimento, considerando especialmente a realidade brasileira atual. A pesquisa visa identificar como as empresas no Brasil adotam os FCS para alcançar um melhor desempenho inovador e na gestão do PDP. Para alcançar este objetivo, foi realizado entrevista em uma empresa do setor automotivo no Brasil com departamento de P&D e desenvolvimento de produtos próprio.

        Este trabalho encontra-se dividido da seguinte forma: a primeira parte faz uma introdução contextualizando e justificando a pesquisa em questão. Na segunda parte é apresentado um breve referencial teórico que foi utilizado para embasar a pesquisa. Na terceira parte, a metodologia utilizada para a pesquisa é explicada. Na quarta parte, são demonstrados os principais resultados obtidos com a pesquisa de campo. Finalizando o trabalho são feitas as considerações finais e conclusões da pesquisa.

2. Referencial teórico

Neste capítulo são abordados são abordados os conceitos de Inovação, PDP e Fatores Críticos de Sucesso no PDP segundo a literatura internacional. Cabe ressaltar que o escopo desta pesquisa irá tratar basicamente da inovação de produto, não se prendendo aos pontos de vista mercadológicos da inovação.

Segundo o Manual de Oslo, a inovação de produtos compreende a implantação de produtos e processos tecnologicamente novos e substanciais melhorias tecnológicas e envolve uma série de atividades científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais (OECD, 2004). Complementarmente, Hauser, Tellis e Griffin (2006) destacam que a inovação de produtos é o processo capaz de trazer novos produtos e serviços ao mercado tendo por objetivo principal desenvolver novos produtos ou modificar produtos existentes.

Já o PDP é definido por Cooper (2003) como o processo pelo qual uma organização usa recursos e capacidades para criar um novo produto ou provê melhorias em um já existente. O PDP pode ser composto por uma série de etapas ou atividades, incluindo a geração de ideia, o desenvolvimento do produto e sua consequente comercialização (SONG, MONTOYA-WEISS; SCHMIDT, 1997).

Desta forma, o PDP pode ser visto como a interface entre empresa e mercado. Por meio dele, a empresa busca as informações no mercado e as transforma em produtos que os consumidores estejam dispostos a adquirir (ROZENFELD et al., 2006). O desempenho do PDP depende das práticas e o modelo de gestão adotados pela empresa, e poderão determinar como a empresa utilizará a inovação para competir no mercado, tendo por responsabilidade estabelecer as próximas gerações de produtos a serem oferecidas ao mercado (JUGEND; SILVA, 2013).

Nesta linha, Cooper e Kleinschmidt (1987) sugerem a importância de entender os fatores críticos de sucesso dos novos produtos, pois estes fatores podem fornecer diretrizes para a seleção de projetos de novos produtos e auxiliar na maneira como o PDP é gerenciado, permitindo que a empresa alcance melhores resultados. Identificar fatores críticos de sucesso para inovações de produtos tornou-se essencial, diante do fato que as empresas possuem um número crescente de projetos de novos produtos, porém com uma alta taxa de falhas na inovação de produtos destes produtos (EVANSCHITZKY et al., 2012).