Fordismo
Por: nessaaferreira • 27/11/2015 • Trabalho acadêmico • 4.588 Palavras (19 Páginas) • 141 Visualizações
Trabalho de Sociologia
A Transformação Político-Econômica do Capitalismo do final do século XX
-Fordismo à Acumulação Flexível -
O modelo capitalista de produção teve, durante a sua existência e até hoje, mudanças no seu modo de acumular capital, mas sendo sempre uma força invariante e independente do desenvolvimento histórico-geográfico do mundo.
No final do século XX, mais precisamente no ano da primeira recessão do pós-guerra (1973), podemos dizer que o mundo passou por uma transição do regime de acumulação para o modo de regulamentação social e política a ele associado. Para explicar essa transição, recorremos a linguagem da “escola da regulamentação”, que traz como virtude o fato de levarmos em conta o conjunto total de relações e arranjos que contribuem para a estabilização e para a distribuição agregada de renda e de consumo num dado período histórico e local. De acordo com os pensamentos da “escola da regulamentação”, um regime de acumulação é caracterizado pela estabilidade a longo prazo, e essa estabilidade tem correspondência tanto para as condições de produção, quanto para a reprodução de assalariados. Esse tipo de sistema é coerente, mas existe um problema: a dificuldade de correlacionar os comportamentos que por natureza são divergentes para que o modelo de acumulação continue funcionando. Dessa forma, entra o regime de regulamentação social e política, que realiza uma espécie de materialização do regime de acumulação, sendo garantida por leis, normas e hábitos no processo. Esse modo de regulamentação permite que um sistema capitalista, altamente dinâmico e instável, consiga obter alguma estabilidade para funcionar de modo coerente, pelo menos por um dado período de tempo; é uma maneira útil de conceituar o tratamento dado aos problemas da organização na força de trabalho para propósitos de acumulação do capital em épocas e locais diferentes.
O sistema capitalista, então, de início, encontra duas dificuldades para se manter viável: fixação de preços e controle sobre a força de trabalho. A primeira deriva da necessidade do Estado para o controle do crescimento estável do capitalismo. A intervenção do Estado é necessária para compensar a falhas originadas pelo mercado; para evitar excessivas concentrações de poder de mercado; para fornecer bens coletivos que não pode ser produzido e vendido pelo mercado; para evitar falhas descontroladas decorrentes de surtos especulativos em geral. A segunda deriva da necessidade de controlar uma grande massa de força de trabalho para a garantia de um lucro positivo para os detentores da força de produção. Esse controle advém de concentração, auto disciplina, familiarização com diferentes instrumentos de produção e do conhecimento das potencialidades de várias matérias-primas em termos de transformação do produto chave da organização em geral. Esse conhecimento do assalariado com o meio de produção não era visto no século XX com bons olhos devido ao modelo de alta especialização do trabalhador em apenas aquilo que ele realiza na organização (apertador de parafuso – Tempos Modernos). Essa disciplina se refere ao conjunto de várias variáveis, referidas como uma mistura de repressão, familiarização, cooptação e cooperação, e que estão presentes e são influenciadores não tao somente no ambiente de trabalho, mas na vida social também. Essa socialização do trabalhador envolve controlar a sua parte social e também a sua parte físico e mental. A educação, o treinamento, a persuasão, a mobilização de certos sentimentos sociais e propensões psicológicas estão claramente ligadas na formação da ideologia dominante, sendo propagadas pelos meios de comunicação de massa, pelas instituições em geral, e afirmadas pelas atitudes dos que realizam trabalho.
Antes da transição do modelo de acumulação para o de regulamentação, mais precisamente, entre 1945-1973, podemos dizer que o capitalismo teve como base hegemônica um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico, tendo como o nome de Fordismo.
A data inicial do modelo fordista de produção foi em 1914, quando Henry Ford introduziu na sua fábrica a jornada de trabalho de oito horas diárias e cinco dólares de recompensa para aqueles trabalhadores que atingiam certos objetivos pretendidos por Ford. Mas, antes de mais nada, devemos falar da diferença do modelo Fordista para o Taylorista de produção. Ambos representam formas de organizar o trabalho, partindo como modelo uma fábrica que produz um produto, visando a maximização da produção e do lucro com uma extrema racionalização da produção. Veem a organização como uma pirâmide, onde no topo estão os detentores dos meios de produção e tomadores de decisão, e na base estão os assalariados que obedecem as decisões advindas “de cima”.
Uma das características marcante do taylorismo é o Método, o tempo e movimento, onde se cronometrava todas os movimentos que o trabalhador fazia e os racionalizava para a obtenção de um maior lucro possível e com uma maior produção. Taylor em seu livro “Os Princípios da Administração Científica” (publicado em 1911), fala sobre a importância da separação entre gerência, concepção, controle e execução para a empresa, onde o trabalhador realizava seu trabalho seguindo padrões rigorosos de tempo e de movimento. Ford é caracterizado por integrar a linha de produção nas fábricas, para melhor racionalização da produção, obtendo maiores lucros. Em muitos aspectos, as inovações tecnológicas e organizacionais de Ford eram mera extensão de tendências bem-estabelecidas. Ford fez um pouco mais que racionalizar velhas tecnologias e detalhar a divisão de trabalho preexistente. A diferença está na sua forma de enxergar o modelo, onde a produção em massa significava também o consumo em massa. Ele enxergava um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista; um “novo tipo de trabalhador e um novo tipo de homem” como disse Antonio Gramsci em seus Cadernos de Cárcere.
Uma das frases mais famosas de Ford é “eu não posso produzir aquilo que o meu trabalhador não pode comprar”. Isso exemplifica muitos dos conceitos de Ford, ou melhor, conceitua o pensamento chave de que os métodos de trabalho são inseparáveis de um modo específico de viver, de pensar e de sentir a vida. O pensamento de Ford girava na ideia de que, além de obrigar o trabalhador adquirir a disciplina necessária à operação do sistema de linha de montagem de alta produtividade, o trabalhador deve, também, ter tempo e renda para realizar atividades de lazer para poder consumir os produtos consumidos em massa que as corporações produziam cada vez mais.
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