O DNA DO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO
Por: Henrique Gracia • 24/2/2018 • Trabalho acadêmico • 1.303 Palavras (6 Páginas) • 966 Visualizações
ATIVIDADE INDIVIDUAL
Matriz de análise | |
Disciplina: Gerenciamento da qualidade em projetos | Módulo: 5 |
Aluno: Henrique delgado Kikumoto Gracia | Turma: |
Tarefa: | |
Introdução | |
A qualidade de um projeto é um conceito bastante discutido, ao mesmo tempo em que é amplo e abstrato. O livro Gerenciamento da qualidade em projetos apresenta duas das principais referências da literatura, que definem que um projeto com qualidade deve atender à satisfação do cliente, envolver responsabilidade da gerência e melhoria contínua (PMI, 2013) e fazer corretamente o que se planeja no projeto (Slack, Harrison e Jhonston, 1997). Já a norma ABNT NBR ISO 9000 define qualidade como “grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos”. De imediato, percebe-se que qualidade não se resume apenas a planejar ou executar atividades, é necessário comprometimento real dos colaboradores, metodologias e ferramentas que permitam planejar, garantir e controlar a qualidade. Na etapa de planejamento, devem ser estabelecidos requisitos de qualidade, e todo o controle (englobando entradas, ferramentase técnicas utilizadas e saídas) deve ser estruturado para se certificar que as entregas do projeto atendam ao requerido, adotar uma métrica de avaliação e critérios bem definidos também é necessário para estabelecer tomadas de decisões embasadas no método científico. Todo este esforço ainda deve ser contínuo para evitar a estagnação e solucionar os problemas na medida em que eles aparecem. Para discutir a necessidade e os impactos da aplicação de requisitos da qualidade será utilizado o caso do recall de carros de 2009 da montadora Toyota: A Toyota em 2007 alcançou a posição de maior montadora do mundo, porém, simultaneamente em 2009 ocorreu o maior recall de carros da história da companhia, onde mais de 9 milhões de veículos tiveram que ser recolhidos devido à uma falha no pedal do acelerador. A empresa foi duramente criticada por deixar uma falha de segurança tão grande acontecer, principalmente por que ela se estabeleceu no mercado durante o século XX tendo como base de sua cultura empresarial a qualidade total, porém atualmente prioriza o crecimento e o aumento de produtividade. | |
Desenvolvimento | |
Segundo o artigo publicado na revista Veja, a falha na qualidade dos produtos da montadora Toyota se deu ao priorizar o crescimento a qualquer preço, porém, na medida em que ocorreu a expansão no número de fábricas e fornecedores o departamento de qualidade foi incapaz de atender à demanda de inspeção da cadeia produtiva. A falha começou no planejamento da qualidade dos projetos, que não previu o aumento da demanda de trabalho, também fica claro que ouve uma negligência na aplicação das ferramentas de qualidade (como inspeção, amostragem e etc.) que permitiram a identificação de problemas antes de o produto final ser entregue ao consumidor. Para garantir o corte de custos, houve também uma redução significativa no tempo de execução de projetos, sugerindo que também houve uma redução de processos que assegurariam a qualidade, e uma diminuição em termos de entradas, ferramentas e saídas avaliadas no processo de controle. Estes cortes são especialmente prejudiciais quando interferem na inspeção das entregas e na sua capacidade de atender aos requisitos dos stakeholders, que no caso seriam as falhas de projeto ou produção que passaram despercebidas. O resultado da mudança de mentalidade provocou uma queda no controle de qualidade, a empresa perdeu a capacidade de monitorar o atendimento de seus insumos aos padrões devido a um excesso de confiança que seus fornecedores estavam fazendo um “bom trabalho” e estavam entregando um produto sem defeito, isto ocorreu por que a empresa possui uma política de confiança nos seus fornecedores muito maior do que em outras montadoras. Sem controle não é possível garantir a qualidade, tampouco é possível propor melhorias e desenvolver o planejamento de qualidade de futuros projetos, botando em risco a melhoria contínua. Agravando a situação, devido à pouca transparência e a reação lenta à crise o númeno de consumidores afetados foi muito maior, a gerência, ao invés de tomar medidas rápidas e mais responsáveis optou por esperar durante anos (o problema no acelerador já era conhecido desde 2003) manchando ainda mais o nome da empresa. Isso atenta contra um dos principais pilares da qualidade que é o envolvimento e responsabilidade da gerência. Um projeto de melhoria como o objetivo de mitigar os problemas oriundos do corte obsessivo de custos envolveria todas as etapas do ciclo de vida do projeto, começando pelo planejamento e pela definição dos requisitos de qualidade na etapa de planejamento. Nesta dinâmica de corte de gastos, o tempo planejado de duração do projeto é um dos fatores que mais impactam no custo e tende a ser reduzido ao máximo. Porém nessa etapa inicial não deve ser reduzindo o empenho em atuar na prevenção (e não apenas na inspeção) de não conformidades. No caso da Toyota a redução do tempo de concepção de um novo veículo passou de 36 para 24 meses, logo todo o cronograma e métodos de coleta de informações para a realização do controle também devem ser adaptados de modo a reduzir as incertezas. O monitoramento do das entregas de cada etapa do projeto deve ser eficaz, no sentido de garantir que as entregas estão sendo avaliadas corretamente, e a métrica deve ser eficiente na garantia de atender aos requisitos dos Stakeholder e não geral mal entendidos. Os requisitos estabelecidos no caso em estudo provavelmente não foram suficientes para evitar identificação da falha no pedal de acelerador com antecedência ou prevenir que matéria-prima fora do padrão fosse utilizada. Logo, apesar de a qualidade ter um custo, a partir do momento em que ela previne maiores despesas decorrentes de acidentes, troca de peças ou depreciação da marca, seu custo é financeiramente aceitável.. A ideia central pode ser facilmente visualizada no gráfico abaixo, que demonstra a ser possível atingir um equilíbrio entre qualidade e custo. Custo total da qualidade: [pic 1] Fonte: Kirkpatrick(1970), disponível no livro: Gerenciamento da qualidade em projetos, editora FGV. | |
Considerações finais | |
A Toyota apresenta um histórico formidável em relação à qualidade na produção de seus veículos, o Sistema Toyota de produção é estudado no mundo inteiro e é tido como referência, também foi a primeira organização a empregar o termo gestão de qualidade total. De acordo com o texto Desvendando o DNA da Toyota, a empresa apresenta uma estrutura organizacional verdadeiramente focada em garantir a qualidade em todas as tarefas que ela executa, portanto é surpreendente que a montadora esteja envolvida no maior recall da história. Ao se avaliar os motivos que levaram a este acontecimento, é notável que houve uma negligência da alta gestão, mas também ocorreram falhas seríssimas da gestão de qualidade no que se refere aos insumos utilizados pela empresa. Não foram estabelecidos adequadamente requisitos e sistemas de monitoramento que fossem eficientes em avaliar a segurança das peças utilizadas na montagem do veículo, o que provocou a morte de 53 pessoas e 5,5 bilhões de dólares em perdas financeiras. Desde então, a Toyota tem passado por sucessivos recalls também decorrentes de defeitos em peças, recentemente entre 2013/2017 foi anunciado um recall de mais de 3 milhões de carros, somente no Brasil, devido a um defeito de segurança no airbag. Dado que os defeitos em peças têm ocorrido sistematicamente é válido considerar que o investimento e aprimoramento do planejamento e controle de qualidade é uma possível solução para mitigar os problemas que a companhia tem sofrido nos últimos anos. Apesar dos custos da qualidade, vale lembrar que o consumidor ao escolher uma marca ou fechar um negócio, está disposto a pagar pela qualidade e não pela ineficiência. | |
Referências bibliográficas | |
OS 5 DEFEITOS DA TOYOTA. Disponível em: DECODIFICANDO O DNA DO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO. Disponível em: < https://www.researchgate.net/profile/Steven_Spear/publication/267962874_Decodificando_o_DNA_do_Si stema_Toyota_de_Producao/links/54ff3fff0cf2672e2244d09f/Decodificando-o-DNA-do-Sistema-Toyota-de-Producao.pdf> Acesso em: 04 de Janeiro de 2018. ALEXANDRE, V.R.; G FREDERICO, S.C.; JOSÉ, F.N.; TÂNIA, R.B. Gerenciamento da qualidade em projetos. Rio de Janeiro. Editora FGV. 2012. Toyota chama 538 mil carros no maior recall por 'airbags mortais' no Brasil. Portal G1. Disponível em:< https://g1.globo.com/carros/noticia/toyota-anuncia-recall-de-mais-538-mil-carros-no-brasil-por-airbags-mortais.ghtml> Acesso em: 04 de Janeiro de 2018. |
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