TRANSMASCULINIDADE E TEORIA QUEER: A EXPERIÊNCIA CORPORAL DA INFÂNCIA À VIDA ADULTA
Por: biatriz sousa • 15/5/2022 • Trabalho acadêmico • 1.527 Palavras (7 Páginas) • 119 Visualizações
TRANSMASCULINIDADE E TEORIA QUEER: A EXPERIÊNCIA CORPORAL DA INFÂNCIA À VIDA ADULTA
Mario Henrique de Mattos e Gustavo Zambenedetti
PALAVRAS-CHAVE: Transexualidade; Consciência corporal; Processo transexualizador; Teoria queer
“[...] a proposição médica do construto transexualismo compreende essa experiência como uma psicopatologia, atribuindo um sentido de tratamento viável às técnicas cirúrgicas e terapias hormonais viabilizadas pelos avanços da biomedicina (Arán, 2006; Santos et al., 2019).” (pag. 2)
“Em uma perspectiva radicalmente diversa da visão biomédica, o termo transexualidade, tal como é utilizado nos dias de hoje, considera essa condição como um conflito identitário sem qualquer viés patologizante, visto que não normatiza nem naturaliza a conformidade gênero-sexo (Bento, 2006).” (pag. 2)
“Nessa vertente, para a pessoa trans, a descoberta do corpo sexuado e a experiência de não conseguir performar de acordo com o gênero concebido socialmente configuram descobertas que repercutirão ao longo de toda a vida [...] essas barreiras resultam em episódios de intolerância, preconceito e discriminação, tais como insultos, ofensas e humilhações contra os membros da comunidade trans, culminando com rejeição familiar, expulsão de casa, exclusão da escola e dificuldade de inserção no mercado de trabalho (Bento, 2009; Galli et al., 2013; Martínez-Guzmán, & Íñiguez-Rueda, 2017).” (pag. 3)
“As reiteradas experiências de violência e discriminação vividas ao longo da vida se prestam como fontes de sofrimento físico, psíquico e social, encerrando a pessoa trans em vivências aniquiladoras de exclusão, solidão e desamparo (Fernandes & Barbosa, 2016).” (pag. 3)
“A partir de uma perspectiva queer é possível pensar como os dispositivos normalizadores, que recaem sobre o gênero e seus modos performáticos, inscrevem-se nos corpos e se expressam por meio deles.” (pag. 3)
“A perspectiva queer permite confrontar as estratégias regulatórias da heteronormatividade (Miskolci, 2012), buscando romper com o binarismo dos gêneros e das sexualidades, dos corpos e também dos efeitos engendrados [...]” (pag. 3)
“[...] os estudos queer oferecem contribuições bastante promissoras à Psicologia, no sentido de se poder compreender-questionar a lógica heteronormativa que atravessa os sujeitos atendidos pelos/as profissionais, assim como estes/as também são atravessados/as por essas mesmas injunções.” (pag. 4)
“Morgan e Stevens (2008) afirmam que o surgimento do conflito entre o gênero imposto e o gênero de identificação ocorre precocemente, em geral logo na infância da pessoa trans, resultando em confusão não apenas para a criança, como também para seus pais, que buscam inteligibilidade em meio a um turbilhão de inquietações que os deixam perplexos e para as quais não encontram explicação convincente.” (pag. 7)
“A adolescência é compreendida pelas pessoas trans como uma fase difícil, em razão de muitas vivenciarem conflitos emocionais intensos, que as tornam vulneráveis a desenvolver sintomas depressivos e ansiosos (De Vries, Steensma, Doreleijers, & Cohen-Kettenis, 2011). A puberdade e a maturação dos caracteres sexuais secundários podem ser potencializadores do conflito identitário, intensificando a insatisfação corporal e o sofrimento psíquico [...]” (pag. 7)
“O isolamento social e o empobrecimento da rede social de apoio são efeitos notórios dos processos discriminatórios a que estão submetidas as pessoas trans (Santos, Oliveira, & Oliveira-Cardoso, 2020; Soares, Feijó, Valério, Siquieri, & Pinto, 2011).” (pag. 8)
“Como observado na literatura (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008; Sampaio & Coelho, 2012; Van de Grift et al., 2016), após o início do processo transexualizador, geralmente se observa uma melhora significativa no bem-estar psicológico e na relação que a pessoa trans estabelece com o seu corpo, quando comparado com o estágio anterior.” (pag. 12)
“Submeter-se aos protocolos do processo transexualizador possivelmente pode ser compreendido como um endosso à cultura heteronormativa, visto que a pessoa transexual pode, a partir da sujeição a tais procedimentos, não querer mais ser reconhecida como pertencente a esse grupo, mas ser percebida como um homem ou uma mulher em consonância com o que a heteronormatividade prescreve, acedendo assim às possibilidades imagináveis das construções de gênero hegemônicas.” (pag 14)
“O discurso heteronormativo regula todos os corpos de modo silencioso, não apenas os dos sujeitos transexuais, muito embora a existência da transexualidade evidencie a fragilidade de suas bases. Para avançar nessa reflexão acerca dos efeitos da heteronormatividade na construção das subjetividades e corpos trans, novas pesquisas sob o olhar queer com outros grupos de sexualidades e gêneros dissidentes podem ter um potencial elucidativo, principalmente daqueles que confundem e embaralham as fronteiras binárias dos corpos, gêneros e desejos, sobre os quais não há uma grande incidência de estudos, como trans não-binários.” (pag. 15)
Referências
Alexandre, V. & Santos, M. A. (2019). Experiência conjugal de casal cis-trans: Contribuições ao estudo da transconjugalidade. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(nspe. 3), 1-13. e228629. https://doi.org/10.1590/1982-3703003228629
Arán, M. (2006). Transexualidade e a gramática normativa do sistema sexo-gênero. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 9(1), 49-63.
Arán, M., Zaidhaft, S., & Murta, D. (2008). Transexualidade: Corpo, subjetividade e saúde coletiva. Psicologia & Sociedade, 20(1), 70-79.
American Psychiatry Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM-5™ (5th ed.). American Psychiatric Association.
Baptista-Silva, G., Hamann, C., & Pizzinato, A. (2017). Casamento no cárcere: Agenciamentos identitários e conjugais em uma galeria LGBT. Paidéia (Ribeirão Preto), 27(Suppl. 1), 376-385. https://doi.org/10.1590/1982-432727s1201702
Benjamin, H. (1966). The transexual phenomena. Julian Press.
Bento, B. (2006). A reinvenção do corpo: Sexualidade e gênero na experiência transexual. Garamond.
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