Contribuição para análise dos elementos picturais
Por: fran.cnnatura • 15/9/2019 • Resenha • 942 Palavras (4 Páginas) • 235 Visualizações
KANDINSKY, Wassily. Ponto, Linha e Plano – Contribuição para análise dos elementos picturais. Lisboa: Ed. 70, 1987. p. 34-58;
O PONTO
Para Wassily Kandinsky o estudo deve começar pelo elemento mais simples que compõe a matéria, o ponto geométrico, imaginando-o como algo material podemos compará-lo ao zero. É o elemento a partir do qual partem todas as outras formas. O primeiro lugar em que ele foi materializado foi na linguagem escrita, possuindo um significado de silêncio, pausa.
Ainda segundo o autor na escrita esse mesmo ponto ao ser deslocado pode alterar todo o significado de uma frase, o que realça o seu valor. Porém se o retirarmos da frase e aumentarmos seu tamanho o ponto ganha clareza e força, pois ao fazermos uma marca, seja com tinta ou qualquer outro material, criamos um ponto de referência, um ser autônomo, que é resultado do primeiro encontro do utensílio com a superfície material, fecundando assim o plano original.
Kandinsky afirma que no mundo da pintura o ponto é um ser independente, variando em tamanho e forma, contudo precisa ter limites, pois pode ser um mínimo ponto ou preencher toda uma superfície, sendo assim sua dimensão deve ser proporcional a superfície de base e a outras formas nessa mesma superfície. Considerando, ainda, a forma geométrica do ponto sempre idealizado como pequeno e redondo. Lembrando que seu contorno e sua dimensão são formas variáveis, podendo ter um número infinito de aspectos, tendendo para outras formas geométricas ou até mesmo para formas livres. Nunca perdendo suas propriedades, pois interiormente, o ponto possui a forma mais concisa, ainda que adquira uma assinatura angulosa.
Outra característica do ponto é a solidificação em uma posição, não mostrando qualquer tendência de movimento. Essa estabilidade permite a percepção do ponto em menor tempo, e em certos casos o elemento tempo não existe. Assim sendo o ponto é a forma temporal mais concisa, possuindo dimensão, forma e unidade bem definidas.
Wassily questiona em seu livro se o ponto pode constituir uma obra? E afirma que existem inúmeras possibilidades, sendo a mais simples delas a representação de um ponto ao centro de um plano de base formado por um quadrado. Havendo uma combinação harmônica entre ponto e plano, onde o ponto torna-se evidente e o plano inexistente, reduzindo a composição ao único elemento originário, o ponto.
O autor define composição como sendo a subordinação, dos elementos isolados, interiormente necessária, a fim de que atinja um fim pictural preciso. Sendo a ressonância harmoniosa correspondente ao fim pictural, torna-se uma composição. As composições podem ser classificadas em quantitativas, onde existe uma diferença numérica, ou seja, o elemento qualificativo está excluído. E composições qualitativas, aonde é exigido no mínimo uma ressonância dupla, contudo ressonâncias duplas verdadeiramente puras não existem, na realidade o que encontramos são ressonâncias múltiplas. Ao deslocarmos o ponto do centro do plano base, fazemos com que a ressonância dupla torne-se perceptível, pois o ponto possui sonoridade absoluta, como também a sonoridade da colocação dada no plano original, ou seja, esta ressonância secundária que o ponto ao centro do plano havia reduzido ao silêncio, ao movimentar-se tornou o som absoluto do ponto central em ressonância relativa. Quanto maior for a repetição desse ponto, mais complicado fica o resultado obtido. E ao estudarmos ressonâncias duplas em um mesmo plano, encontramos resultados diferentes, pois os pontos variam em dimensão e forma.
Kandinsky aborda o ponto em um outro domínio da natureza, onde muitas vezes é encontrado de forma acumulada. Como os corpos celestes, que possuem uma relação com o ponto pictural. Considerando que todas composições do mundo partem de pontos, em seu estado geométrico originário, tanto no macrocosmo, quanto no microcosmo. Sendo unidades de pontos geométricos com os mais diversos aspectos, e que se encontram sob equilíbrio no infinito geométrico. Tornando-se o ponto de partida da natureza através da cisão ou desagregação de unidades.
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