Meu pau no seu cu
Por: Jakeline Arruda Amaral • 28/11/2015 • Relatório de pesquisa • 1.597 Palavras (7 Páginas) • 407 Visualizações
O tema da formação de professores tem permeado inúmeros estudos, pesquisas e intervenções realizadas no âmbito educacional. Identifica-se igualmente o esforço de determinados pesquisadores em utilizar a pesquisa na formação continuada dos profissionais da educação como um mecanismo favorecedor da reflexão, da problematização das dificuldades pedagógicas e da articulação entre a teoria e a prática, por a compreenderem como um meio privilegiado para a promoção de desenvolvimento pessoal e profissional (ANDRÉ, 2002; BUENO, 2000; CONTRERAS, 2002; ELLIOTT, 1998; GIROUX, 1999; PASSOS, 2007; PONTE, 2004; RAUSCH, 2012; STENHOUSE, 1975; ZEICHNER, 1998).
No que tange à formação de professores como processo de aprendizagem da docência e, por isso, processo educativo, a articulação pesquisa-formação representa um processo de superação de formas convencionais de pesquisa e de formação. Historicamente tem-se assistido às pesquisas em educação reduzirem os professores a “amostras” e, portanto, a objetos de estudo. Numa tentativa de superar esse modelo, “pesquisadores da área educacional têm sido desafiados a propor formas de investigação que possam estabelecer uma relação mais orgânica entre suas atividades de pesquisa e ensino” (BUENO, 2000, p. 07).
Especificamente, a partir da segunda metade do século XX despertou-se o interesse de conciliar pesquisa e formação de professores. Tais iniciativas foram alavancadas pelo pensamento de alguns teóricos que se dedicaram a estabelecer os pontos de encontro e os entrecruzamentos existentes entre pesquisa e formação. A questão fundamental envolta nesses processos era a de incentivar a realização de intervenções no contexto escolar, que partissem dos próprios professores, com vistas a transformar sua realidade e assegurar que essas mudanças se efetivassem e tivessem prosseguimento (ANDRÉ, 2002; BUENO, 2000; RAUSCH, 2012).
Embora se reconheça a positividade da utilização da pesquisa como dispositivo de formação, a sua inserção e integração no âmbito do trabalho do professor não tem sido fácil. Vários aspectos
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contribuem para que esse seja um caminho muitas vezes sinuoso e instável, dentre eles destaca-se: o tipo de pesquisa desenvolvida, a disposição e o interesse dos professores em participar do processo formativo, a disponibilidade de instalações apropriadas, as necessidades da escola e dos participantes, etc. Todas questões fundamentais, uma vez que, de acordo com André (2002, p. 60), esperar “que os professores se tornem pesquisadores, sem oferecer as necessárias condições ambientais, materiais, institucionais implica, por um lado, subestimar o peso das demandas do trabalho docente cotidiano e, por outro, os requisitos para um trabalho científico de qualidade”.
Cumpre ressaltar que não se trata de transformar os professores em pesquisadores profissionais, mas de realizar um trabalho conjunto, que gere benefícios a ambos (SANTOS, 2002). Evidentemente não é qualquer tipo de pesquisa que pode ser empregado com a finalidade de agenciar formação, mas somente aqueles que possibilitem uma participação efetiva dos professores nas atividades realizadas, que apresentem uma flexibilidade com relação ao conteúdo investigado e cuja finalidade priorize mais promover formação do que coletar dados. Nessa perspectiva, a formação continuada se conduz mediante a promoção de situações em que os próprios educadores possam desenvolver e produzir saberes sobre suas práticas, articulando-os com as teorias educacionais mediante processos de investigação e colaboração em seus espaços de trabalho.
Entretanto, esse não é o fundamento metodológico, ideológico e político de muitas pesquisas. Embora às vezes discursem nesse sentido, o conhecimento produzido nem sempre é revertido em melhoria da qualidade da educação e da sociedade, de forma a respeitar a igualdade e a equidade das coletividades, inclusive na sua relação com o meio.
A lógica capitalista cristaliza visões de mundo mercadológicas e reproduz formas de se relacionar com o mundo, a partir das quais se age para garantia de interesses e necessidades privadas, ficando o bem comum negligenciado. Isso é um princípio ideológico-político que faz dessas relações formas de manutenção do status quo.
No campo investigativo isso se reproduz quando as diferenças se acirram e se consolidam formas alienantes que mantêm a desigualdade e fortalecem relações de poder na sociedade. Quando transposta essa situação para o campo educacional, criam-se estratégias multiplicadoras que institucionalizam a relação pesquisa-educação-alienação.
Em coerência com tais princípios, o conhecimento, como produto de pesquisas científicas realizadas “sobre” a escola e “sobre” o professor, chega à instituição escolar e aos profissionais da educação de forma prescritiva, legitimando a escola como espaço do fazer e a universidade como espaço do pensar. Numa dimensão técnica, separa-se professor e especialista, dicotomizando prática e teoria, condição objetiva de alienação do professor.
Formado nessa perspectiva, o docente reproduz, pela sua prática pedagógica, um processo de ensino-aprendizagem, no qual o conhecimento externo ao sujeito estudante lhe é apresentado para ser apreendido, propiciando agora a alienação do aluno. Como efeito “dominó” se efetiva a relação pesquisa-educação-alienação.
Na contramão dessa lógica, predominante ainda nos dias de hoje, há um movimento que se firma sob a perspectiva contrária. Há uma tentativa de evidenciar o potencial emancipatório e crítico que a pesquisa e a educação podem assumir. Trata-se de compreender a formação do sujeito não o reduzindo a objeto, recusando a aprendizagem que não permita transformação e vivências práticas, que não chame o indivíduo para participar de seu processo e não permita trocas entre os saberes e a busca pelo novo. Isso vale tanto para o professor, quanto para o estudante, quebrando dicotomias e superando a lógica estabelecida.
Reconhecida a força e o potencial da articulação pesquisa-educação como desencadeadora de processos formativos conscientizadores e desalienantes, pretende-se aqui, por um lado, enfatizar, do ponto de vista teórico, a pesquisa como aquela que imerge na realidade e, em seu próprio processo, transforma-a formando. Por outro lado, do ponto de vista prático, as limitações na operacionalização desta perspectiva quando aplicada aos contextos escolares concretos em pesquisas educacionais. Na área de Ciências Humanas e no campo educacional, especificamente, esse tipo de pesquisa tem crescido significativamente por meio
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