Os tijolos renascentistas de Brunelleschi
Por: Mara Arnold • 26/10/2015 • Ensaio • 3.466 Palavras (14 Páginas) • 722 Visualizações
Resumo
A Cúpula Santa Maria del Fiore, ícone da construção em Florença é a obra analisada neste artigo. Ela surge no Renascimento italiano. Brunelleschi utiliza a partir da estética de Vitrúvio novas soluções na execução da Cúpula, transcendendo seu tempo a partir de uma nova arquitetura regida pelas antigas concepções clássicas.
Palavras-chave
Cúpula Santa Maria del Fiore - tijolos - estrutura -renascimento
Introdução
O Renascimento italiano vislumbrado na sua essência em Florença foi um importante movimento, após a Idade Média. A partir dos ideais renascentistas ocorre a valorização do humanismo e a linguagem arquitetônica evolui junto com uma nova visão da sociedade.
A arquitetura na redescoberta das referências clássicas, materializa-se racionalmente uma nova arquitetura, mais racional e livre.
Metodologia
Este artigo inicia apresentando referências conceituais clássicas presentes no Capítulo II do Tratado de Arquitetura, de Vitruvio, privilegiando o tema " tijolos", suas características, especificações e detalhes construtivos.
Em seguida, há uma breve reflexão sobre o renascimento, passando à posterior apresentação da obra materializada por Brunelleschi, a Cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, na Florença. Entre outros aspectos, o sistema construtivo inovador da maior cúpula já construída em alvenaria de tijolos será apresentado.
Por fim, a obra do Domo é analisada, a partir da verificação comparativa dos conceitos clássicos encontrados no Capítulo II de Vitrúvio, junto com a inovação racionalizada, característica do período renascentista, presentes na obra de Brunelleschi.
A comparação justifica-se uma vez que há um contraponto entre duas concepções: a clássica e a renascentista, sendo a primeira base para a segunda.
Objetivo
Este trabalho visa a comparar a obra renascentista da Cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore com os conceitos clássicos apresentados por Vitrúvio a cerca do tijolo, com relação as suas características e sua execução, temas tratados em seu livro II, em seu Tratado de Arquitetura. Desta forma, pretende demonstrar a volta às origens clássicas agora adaptadas a uma nova Arquitetura, a um novo fazer próprio de uma nova cultura revolucionária caracterizada pelo renascimento italiano.
1. Vitruvio: Tratado de Arquitetura. Capítulo II:
Vitruvio, a partir da escrita de seu "Tratado de Arquitetura", constitui-se na primeira referência de caráter sintético a refletir sobre os processos da arquitetura. Em cada um de seus dez livros, apresenta características importantes para o arquiteto, sua formação, materiais a utilizar, formas construtivas, usos, simetria, proporções, a fim de atingir aos valores de beleza, utilidade e solidez.
Sua obra se refere, portanto, ao único tratado orgânico deste tipo que foi legado da Antiguidade. Sobre este tema, Kruft (1994) comenta:
O De architectura libri decem de Vitrúvio é o único trabalho importante sobre a arquitetura da Antiguidade Clássica a ter sobrevivido. Grande importância, assim, atribui-se a ele, e isso tem sido reforçado à luz da história no sentido de que toda a literatura sobre teoria da arquitetura a partir do Renascimento tem sido baseada em Vitrúvio ou em um diálogo com suas ideias. Sem um conhecimento de Vitrúvio é impossível compreender qualquer dos discursos sobre a teoria da arquitetura a partir do Renascimento - pelo menos até o século XIX . (KRUFT, 1994, p. 21, tradução do autor).
O segundo Livro contempla as origens da arquitetura e da construção civil. Em especial, neste capítulo, o autor concentra-se na descrição de materiais empregados na construção civil, iniciando por características, aspectos construtivos até chegar a processos de obtenção e trabalhabilidade dos materiais empregados.
O tema de maior relevância para este artigo, neste segundo capítulo de Vitrúvio, gira em torno do tijolo, desde sua obtenção, processos produtivos a técnicas construtivas. Segundo Vitrúvio, há uma série de cuidados a se tomar para obtenção de um tijolo de qualidade:
OS TIJOLOS CRUS - Logo em primeiro lugar tratarei dos tijolos, dizendo de que qualidade de terra convém fazê-los. Pois não deverão ser elaborados por barro arenoso, que tenha pedras ou areia grossa, porque, se forem produzidos a partir dessas variedades, resultarão, logo de início, pesados, e depois, quando nas paredes forem regados pelas chuvas serão desfeitos e dissolvidos, além de que a palha não encontrara neles adesão, por causa da sua aspereza. Deverão, em contra partida, ser confeccionados a partir de terra esbranquiçada abundante em argila, de terra vermelha, ou ainda de vigoroso saibro. Com efeito, essas variedades apresentam consistência devido a sua textura leve, não são pesadas na obra e argamassam-se facilmente.(VITRUVIO, 2007.p. 121)
Em seguida, Vitruvio trata criteriosamente do processo de secagem, apresentando também problemas decorrentes do procedimento inadequado relacionado a este processo importante para garantir a resistência ao tijolo.
O PROCESSO DE SECAGEM DOS TIJOLOS CRUS- Deverão ser confeccionados no tempo primaveril ou outonal, para secarem com uniformidade. Pois os que são argamassados no solstício ficam defeituosos, devido ao fato de o interior não ficar enxuto quando o sol queima violentamente a superfície superior, fazendo o parecer seco. E, quando posteriormente se contrair secando, destroça o que já estava seco. Assim, ficam rachados, tornando-se inconsistente. Serão, por outro lado, muitíssimo mais vantajosos se confeccionados com dois anos de antecedência: com efeito não podem secar completamente antes desse prazo. Por essa razão quando são aplicados de feitura recente e não secos, permanecendo o revestimento aplicado rigidamente consolidado, os tijolos abatem-se, não podendo manter a mesma altura que apresenta o revestimento, e não aderem a ele deslocados pela contração, separando da sua ligação. Portanto, os revestimentos não podem subsistir por si mesmos, separados da estrutura, devido a sua denuidade, mas se partem, e até fortuitamente as próprias paredes, cedendo, se danificam. Por isso, os cidadão de Útica só usam nas estruturas das paredes o tijolo que
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