Peter Zumthor - Inquietações Teóricas e Estratégias Projetais
Por: viniciushnrq • 26/5/2021 • Trabalho acadêmico • 2.794 Palavras (12 Páginas) • 258 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
VINÍCIUS HENRIQUE JESUS PEREIRA
PETER ZUMTHOR:
INQUIETAÇÕES TEÓRICAS E ESTRATÉGIAS PROJETUAIS
RESUMO
Este estudo é sobre o modo de pensar a arquitetura de Peter Zumthor. Ao esclarecer
quais são suas referências, ideologias, métodos e estratégias no ato projetar seus edifícios,
partiu-se para a análise de duas obras do arquiteto. Para isto, tomou-se partida de teorias e temas
pós-modernos reunidos por Kate Nesbitt em “Uma nova agenda para a arquitetura: antologia
teórica 1965-1995”.
Belo Horizonte
20181
1. INTRODUÇÃO
O arquiteto suíço Peter Zumthor possui uma visão muito poética não só da arquitetura,
mas da vida como um todo. Isto é facilmente perceptível, inclusive, em seu modo de escrever.
Sua fonte de inspiração é a vida e ele busca referências em todos os cantos do mundo e em
várias formas do saber. Está sempre tentando manter-se atualizado acerca de todas as questões.
Porém, segundo ele, a terra nutritiva de seu trabalho encontra-se na música e na literatura. Usa
o modo com que vários artistas trabalham e tenta levar para a arquitetura, desde a forma
estrutural com que eles organizam seu trabalho até a mensagem que desejam passar.
2. A ARQUITETURA PARA PETER ZUMTHOR
A arquitetura, para Peter, é um desafio: é uma tarefa extremamente difícil e dependente
de inúmeros fatores para que se possa fazer um bom projeto. Diferente de muitas outras artes,
a arquitetura, ao mesmo tempo que acontece no espaço, cria um espaço. Deste modo, tem uma
ligação extremamente forte com a vida de outras pessoas. Ela é, primeiro, espaço onde
acontecem as atividades humanas. Pode existir uma mensagem ou um sinal a ser passado, mas
fica em segundo plano. Deve ser “um recipiente sensível para o ritmo dos passos no chão, para
a concentração do trabalho, para o silêncio do sono.”1
Numa composição arquitetônica, todas as pequenas partes da casa – ou os “pormenores”
– estão interligadas. São peças diferentes entre si e a forma como estas ligações serão feitas
determinarão a qualidade do todo e a mensagem a ser ou não passada. É possível que sejam
evidenciadas as partes, as juntas, o todo... É possível que seja entre diferentes partes, formas,
tamanhos... É possível, ainda, que o modo como será feita a junção faça com que o todo
transmita uma mensagem de fricção, homogeneidade, solidez, leveza, tensão, fragilidade...
Quando esta junção do todo – ou seja, a composição – é bem esclarecida, emoções surgem com
mais facilidade, pois a obra é facilmente compreendida.
Os objetos e obras, na percepção do arquiteto, que parecem repousar dentro de si
próprios, são bem próximos da poesia; assim como nesta, o silêncio é imprescindível para que
mensagens possam ser transmitidas e nos tocar. A nossa percepção da obra deve ser silenciosa,
não agressiva. A obra deve ser aberta o suficiente para que as mensagens sejam percebidas pelas
1 ZUMTHOR, Peter. Pensar a Arquitetura. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, 2005, p. 12.2
pessoas, não impostas – colocando o espectador como ativo. Estas aberturas estão além dos
sinais e símbolos. É uma composição que nos leva a refletir sobre o mundo e tudo o que nos
cerca, sobre a vida e tudo o que vivemos.2 Um bom projeto, para ele, te faz lembrar de alguma
coisa, mesmo que você não saiba o que é.3 Deve possuir, também, diversos níveis de
significado. As manifestações artísticas que mais nos tocam são multifacetadas, pois permitem
uma maior interação com o espectador. Tem os mais diversos significados, proporcionando um
maior número de pontos de vista.4
O arquiteto acredita que tentar inventar algo novo ou reinventar o já existente é mais
fácil que conseguir revelar a verdadeira essência da arquitetura e de seus componentes – os
materiais, a atmosfera, a luz, o ato da construção –, que é o que ele acredita ser a verdadeira
mensagem a ser passada, pois a verdade encontra-se nas próprias coisas. Tentar cuidar de todos
estes componentes torna-se, então, sua tarefa principal ao projetar. “Ser ela [a obra] própria, ser
um edifício, não representar algo, mas sim ser algo”.5 Este pensamento é fortalecido com teorias
de Martin Heidegger, que dizem que o ser humano está sempre em um espaço concreto. Assim,
não faz sentido tentar produzir habitações e edificações que se baseiem no abstrato.
A busca por uma obra que exprima o verdadeiro significado do lugar parte de uma busca
incessante por uma arquitetura única e verdadeira – algo que, como mostra Karsten Harries, foi
perdido com a arquitetura moderna. Com o surgimento da tecnologia, a sociedade moderna
conseguiu encurtar distâncias; perdeu-se,
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