Zumthor E Heidegger
Pesquisas Acadêmicas: Zumthor E Heidegger. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: salvadorseabra • 19/6/2013 • 1.241 Palavras (5 Páginas) • 622 Visualizações
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Salvador Seabra
Construir, Habitar, Pensar, é um ensaio de Martin Heidegger, onde existe uma tentativa de pensar o que é a arquitectura, através de uma relação sensível e intelectual com o espaço construído, fugindo às questões específicas e técnicas. A arquitectura tem que envolver pensamento e é compreendida através da experiência e das sensações que um determinado espaço nos causa. Neste texto, há uma tentativa de nos fazer pensar sobre o que é habitar e o que é construir. O filosofo, à semelhança do trabalho de Peter Zumthor, explora a questão do “ser” e a dimensão da sua definição na arquitectura e mostra-nos a relação de dependência entre habitar e construir. Esta relação não é uma relação óbvia, no sentido em que não é preciso construir para habitar, mas “Construir já é em si mesmo habitar”.1
Ao longo do texto, vem-se a compreender que o conceito construir não representa o sentido literal da palavra, tem um significado mais lato, ou seja, não se trata apenas de construções físicas, mas também de construções mais abstractas como a construção de uma ideia ou de um fundamento.
Também o habitar não se limita ao sentido de possuir uma habitação. Nós também habitamos os espaços que surgem das relações estabelecidas com os outros, pensamentos, aspirações, etc.
O texto começa dizendo que “só é possível habitar o que se constrói”2 e que as construções têm como meta o habitar. No entanto “nem todas as habitações são construções”3. Existe uma diferença, como já foi referido, entre construção e arquitectura, nas palavras de Wittgenstein : “da mesma maneira que nem todos os movimentos do corpo são um gesto, nem todo o edifício construído e funcional é arquitectura. A arquitectura é um pensamento”4. Esta distinção entre construção e arquitectura está muito marcada nos trabalhos de Heidegger e de Zumthor.
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1 HEIDEGGER, Martin [Bauen, Wohnen, Denken] (1951), Construir, Habitar, Pensar. Conferência pronunciada por ocasião da “Segunda Reunião de Darmstad”, 1954.
2 Ibdem
3 Ibdem
4WITTGENSTEIN, Ludwig. Cultura e Valor; editado por George Henrik von Wright; - Lisboa: Edições 70, 1980.
O filósofo começa então por mostrar que existem construções que não são próprias para habitar, dando alguns exemplos concretos: “Na auto-estrada, o motorista de caminhão está em casa, embora ali não seja a sua residência; na tecelagem, a tecelã está em casa, mesmo não sendo ali a sua habitação. Na usina eléctrica, o engenheiro está em casa, mesmo não sendo ali a sua habitação. Essas construções oferecem ao homem um abrigo. “5
Até aqui, são referidas situações que nos são comuns: constrói-se para se habitar e toda a arquitectura tem uma função. No entanto, existe a dada altura uma ruptura de pensamento, quando o filósofo escreve que construir já é habitar, contradizendo as ideias até agora expostas. “Construir não é, em sentido próprio, apenas um meio para uma habitação”6, ou seja, a relação entre habitar e construir não é uma relação de utilidade, construir não é um meio para atingir um fim. Nós habitamos para construir através de memórias e experiências. Peter Zumthor é uma referencia neste tipo de pensamento na arquitectura, este evoca temas como memória, vivências e experiências, como base dos seus projectos, através da estimulação dos sentidos,
Este texto é um texto matriz, a primeira abordagem a esta forma de interpretar a arquitectura. A construção vai para além das tecnicidades, tem haver com a maneira como nós habitamos. Uma obra arquitectónica só está completa quando nós a habitamos. Um edifício só está verdadeiramente construído quando alguém o constrói, através da sua utilização, memórias, sensações, etc. Os edifícios estão em constante construção. Esta forma de pensar está muito associada à obra de Peter Zumthor : “Quando eu tento identificar as intenções estéticas que me motivaram no processo de projectar edifícios, eu chego à conclusão que os meus temas variam entre o lugar, o material, a energia, a presença, as recordações, as memórias, as imagens, a densidade, a atmosfera, a permanência e a concentração. Durante o curso do meu trabalho, eu tento dar a estes termos abstractos, conteúdos concretos relevantes à cessão afectiva, mantendo na minha cabeça que estou a construir algo que irá
construir algo que irá fazer parte de um lugar, parte de um circundante, que irá ser
usado e amado, descoberto e legada, abandonado, e porém até detestado – em suma,
que irá ser vivido, no sentido mais amplo.”7
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5 HEIDEGGER, Martin [Bauen, Wohnen, Denken] (1951), Construir, Habitar, Pensar. Conferência pronunciada por ocasião da “Segunda Reunião de Darmstad”,
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