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Zumthor E Heidegger

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Por:   •  19/6/2013  •  1.241 Palavras (5 Páginas)  •  629 Visualizações

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20090764

Salvador Seabra

Construir, Habitar, Pensar, é um ensaio de Martin Heidegger, onde existe uma tentativa de pensar o que é a arquitectura, através de uma relação sensível e intelectual com o espaço construído, fugindo às questões específicas e técnicas. A arquitectura tem que envolver pensamento e é compreendida através da experiência e das sensações que um determinado espaço nos causa. Neste texto, há uma tentativa de nos fazer pensar sobre o que é habitar e o que é construir. O filosofo, à semelhança do trabalho de Peter Zumthor, explora a questão do “ser” e a dimensão da sua definição na arquitectura e mostra-nos a relação de dependência entre habitar e construir. Esta relação não é uma relação óbvia, no sentido em que não é preciso construir para habitar, mas “Construir já é em si mesmo habitar”.1

Ao longo do texto, vem-se a compreender que o conceito construir não representa o sentido literal da palavra, tem um significado mais lato, ou seja, não se trata apenas de construções físicas, mas também de construções mais abstractas como a construção de uma ideia ou de um fundamento.

Também o habitar não se limita ao sentido de possuir uma habitação. Nós também habitamos os espaços que surgem das relações estabelecidas com os outros, pensamentos, aspirações, etc.

O texto começa dizendo que “só é possível habitar o que se constrói”2 e que as construções têm como meta o habitar. No entanto “nem todas as habitações são construções”3. Existe uma diferença, como já foi referido, entre construção e arquitectura, nas palavras de Wittgenstein : “da mesma maneira que nem todos os movimentos do corpo são um gesto, nem todo o edifício construído e funcional é arquitectura. A arquitectura é um pensamento”4. Esta distinção entre construção e arquitectura está muito marcada nos trabalhos de Heidegger e de Zumthor.

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1 HEIDEGGER, Martin [Bauen, Wohnen, Denken] (1951), Construir, Habitar, Pensar. Conferência pronunciada por ocasião da “Segunda Reunião de Darmstad”, 1954.

2 Ibdem

3 Ibdem

4WITTGENSTEIN, Ludwig. Cultura e Valor; editado por George Henrik von Wright; - Lisboa: Edições 70, 1980.

O filósofo começa então por mostrar que existem construções que não são próprias para habitar, dando alguns exemplos concretos: “Na auto-estrada, o motorista de caminhão está em casa, embora ali não seja a sua residência; na tecelagem, a tecelã está em casa, mesmo não sendo ali a sua habitação. Na usina eléctrica, o engenheiro está em casa, mesmo não sendo ali a sua habitação. Essas construções oferecem ao homem um abrigo. “5

Até aqui, são referidas situações que nos são comuns: constrói-se para se habitar e toda a arquitectura tem uma função. No entanto, existe a dada altura uma ruptura de pensamento, quando o filósofo escreve que construir já é habitar, contradizendo as ideias até agora expostas. “Construir não é, em sentido próprio, apenas um meio para uma habitação”6, ou seja, a relação entre habitar e construir não é uma relação de utilidade, construir não é um meio para atingir um fim. Nós habitamos para construir através de memórias e experiências. Peter Zumthor é uma referencia neste tipo de pensamento na arquitectura, este evoca temas como memória, vivências e experiências, como base dos seus projectos, através da estimulação dos sentidos,

Este texto é um texto matriz, a primeira abordagem a esta forma de interpretar a arquitectura. A construção vai para além das tecnicidades, tem haver com a maneira como nós habitamos. Uma obra arquitectónica só está completa quando nós a habitamos. Um edifício só está verdadeiramente construído quando alguém o constrói, através da sua utilização, memórias, sensações, etc. Os edifícios estão em constante construção. Esta forma de pensar está muito associada à obra de Peter Zumthor : “Quando eu tento identificar as intenções estéticas que me motivaram no processo de projectar edifícios, eu chego à conclusão que os meus temas variam entre o lugar, o material, a energia, a presença, as recordações, as memórias, as imagens, a densidade, a atmosfera, a permanência e a concentração. Durante o curso do meu trabalho, eu tento dar a estes termos abstractos, conteúdos concretos relevantes à cessão afectiva, mantendo na minha cabeça que estou a construir algo que irá

construir algo que irá fazer parte de um lugar, parte de um circundante, que irá ser

usado e amado, descoberto e legada, abandonado, e porém até detestado – em suma,

que irá ser vivido, no sentido mais amplo.”7

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5 HEIDEGGER, Martin [Bauen, Wohnen, Denken] (1951), Construir, Habitar, Pensar. Conferência pronunciada por ocasião da “Segunda Reunião de Darmstad”,

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