RESENHA - OS PRIMEIROS TEMPOS DO VIVER URBANO
Por: João Paulo Manita • 23/3/2016 • Resenha • 1.547 Palavras (7 Páginas) • 970 Visualizações
RESENHA DO TEXTO:
OS PRIMEIROS TEMPOS DO VIVER URBANO
O texto inicia seu discurso falando sobre a fundação dos arraiais sertanejos que em sua totalidade foram fundadas por iniciativas das oligarquias rurais pela formação dos patrimônios religiosos que posteriormente desenvolveriam funções importantes no meio rural. O arquiteto Murillo Marx afirmava que a partir da benção da capela construída, o local passava a ser reconhecido como povoado pelas autoridades eclesiástico-estatais. Já Antônio Cândido definia essa transformação como bairro rural, que seria o elemento cristalizador da identidade social e territorial. Foram a partir das manifestações religiosas como por exemplo, missas, festas, procissões, novenas, casamentos, funerais e batizados que o grupo de vizinhos criava uma identidade do bairro rural que Antônio Candido chamou de sentimento de localidade.
O arraial passava a cumprir duas finalidades: o elo entre a comunidade e o estado, através das instituições eclesiais. A formação desse arraial promovia a transição de um grupo disperso para um grupo com laços de parentesco e reciprocidade cada vez mais intensos, o que Cândido definiu para o primeiro grupo foi como bairro centrífugo e o segundo grupo como bairro centrípeto. A formação do bairro rural também reforça o termo da base territorial, seria nessa base que estariam coesas todas as famílias espalhadas e que tinham como “meio de encontro” as manifestações da capela. Lembrando que a construção da capela e a partir dela a fundação do arraial eram iniciativas de uma elite terra tenente.
Posteriormente o texto descreve que nos primeiros anos do século XIX foram erguidas quase todas as capelas que suscitaram os arraiais da região e com isso a formação dos bairros rurais. O desejo das pessoas em se conseguir a construção de uma capela em sua região era evidente já que o fato da simples construção da mesma já criava pontos de convergência da população local. Também se viu a evidencia das hierarquias sociais presentes nos bairros rurais já que os fazendeiros detinham certo poder sobre os trabalhadores e camponeses da base territorial, definindo assim um patriarcalismo autoritário.
O arraial e a capela passaram a ser pontos de diversas atividades desde o comércio até local de discussões dos assuntos legais, ao mesmo tempo que se produzia identidade neles também se amenizavam as tensões. “O arraial ocupava um papel importante como lugar da reprodução das relações de classe no meio rural brasileiro”.
O arraial passou a desempenhar um papel importante no meio rural, passou a ser também uma válvula de escape das tensões sociais. Os “capelões” cediam lotes de terra a população mais pobre e com isso essas pessoas deviam serviços e se comprometiam a pagar um valor fixo por ano para a capela ou para a fábrica da matriz. Devido a isso o arraial passou a concentrar forças de reserva para os fazendeiros sempre que eles precisavam. As pessoas que viviam nos arraiais, exceto as que eram escaladas pelos fazendeiros para serviços fora dos arraiais, passaram a desenvolver tarefas como por exemplo comércio, artesanato, alfaiataria e até mesmo prostituição. Essas pessoas passaram a ser designadas de população urbana, ou seja, “a população que vivia sedentariamente de forma gregária num aglomerado, desempenhando atividades de serviços”. A pessoas sedentárias que se dispuseram a especialização de serviços pode ser chamada de acordo com o texto de população proto-urbana, por mais que nem todos os arraiais fossem se tornar uma cidade todas as cidades surgiram a partir de um arraial. O texto ainda descreve sobre a classificação tipológica desses arraiais que se aproximavam mais de burgos do que de aldeias. A aldeia é conceituada como um “habitat rural concentrado, formado por uma população residente camponesa cuja principal atividade era a agricultura praticada nas glebas vizinhas”, o arraial diferentemente disso “contava com uma diminuta população sedentária, mas tinha sua principal forma de sustento nos ofícios e nos contratos esporádicos de trabalho remunerado, como os jornais”.
Uma forte característica dos arraiais destacada no texto é a ocupação temporária dos mesmos. Uma parte das casas permanecia desocupada durante os dias de semana enquanto nos dias de missa, finais de semana e dias santos a movimentação no arraial era mais intensa já que os fazendeiros e seus funcionários iam para lá com intuito de fazer tais obrigações. Em Minas Gerais, região em estudo pelo texto, esse tipo de ocupação se manteve até as primeiras décadas do século XX nas áreas onde a densidade era menor. Nos dias em que havia número maior de pessoas no arraial também se praticava o comércio como por exemplo, as feiras. O texto faz análise desse tipo de comércio separando-os em dois tipos: alcance espacial mínimo e alcance espacial máximo. O primeiro refere-se ao “território onde se encontram consumidores em número e com demandas minimamente suficientes para justificar a existência de um estabelecimento comercial em tempo integral”, já o segundo refere-se ao “território cujo mercado é realmente alcançado pelos estabelecimentos comerciais presentes naquele núcleo”. Com esses conceitos o texto define que no arraial não se tem a necessidade de manter um mercado em funcionamento integral.
Em relação aos traçados todo arraial deveria seguir o que prescreviam as autoridades religiosas. Analisando as formações das vilas o texto afirma existir uma certa tendência a ortogonalidade em algumas delas ainda que sempre as capelas devessem ser locadas em posição dominante na paisagem e foi justamente essa posição escolhida em todas as capelas que deram origem as cidades do Triângulo Mineiro, sem exceção. O entorno da igreja deveria ser formado pelo adro (espaço externo) para que seu destaque fosse garantido e seu terreno em geral tinha um formato retangular alongado já que na maioria das vezes o cemitério se localizava atrás das igrejas.
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