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Resenha Gordon Cullen e Kevin Lynch Urbanismo

Por:   •  28/4/2022  •  Resenha  •  1.365 Palavras (6 Páginas)  •  353 Visualizações

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Gustavo Vinicius Niszczak – Urbanismo I

CULLEN, G. Paisagem Urbana. Lisboa: Edições 70, 1983.

LYNCH, K. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Gordon Cullen (1914-1994) foi um arquiteto urbanista e designer urbano britânico influente pela sua visão de cidade e como o próprio nome do seu livro, da paisagem urbana. Destaca-se que o mesmo foi ilustrador e diretor artístico de exposições na Grã-Bretanha e nas Índias Ocidentais antes de se tornar subchefe de redação da revista The Archictetural Review, que no contexto pós segunda guerra, apresentou o Townscape, um movimento que surge como uma crítica à degradação da paisagem urbana e que procurou produzir uma metodologia de Desenho Urbano que questionava o planejamento modernista e os modelos de cidade até então empregados na Grã-Bretanha, como as Cidades-Jardins. Em 1961, Gordon Cullen lança seu livro, baseado nos princípios do Townscape. 

O autor divide a obra em duas partes: definições e estudos gerais. Na primeira, ele apresenta uma série de conceitos por meio de ilustrações e pequenos textos, o que torna sua obra ainda mais característica e didática, e subdivide-os em ótica, local e conteúdo. O conceito de ótica trata da visão serial que são as sucessões de pontos de vista que surgem durante determinado percurso. Gordon Cullen menciona que os contrastes que são encontrados durante esse caminho causam grande impacto visual e dão vida ao percurso e que sem eles a cidade passa despercebida. O local são as definições a respeito das sensações causadas no observador pela posição em que ele se encontra em relação ao espaço: “estou aqui dentro”, “estou aqui fora”, “vou entrar em um novo lugar” etc. O autor utiliza bastante os conceitos de “aqui” e “além” para ilustrar essas percepções. Nessa parte são apresentados alguns conceitos que são facilmente percebidos na paisagem urbana: apropriação do espaço, que é a ocupação de determinados espaços no exterior com diferentes usos - na cidade de Cuiabá, por exemplo, pode ser vista pelas feiras, que acontecem nas ruas, ou pelos comerciantes nas calçadas do Centro e até mesmo pelos estudantes da UFMT quanto utilizam a praça da universidade para festas ou reuniões; a viscosidade, que consiste no aglomerado e/ou movimento das pessoas entorno dessas apropriações; os recintos, espaços urbanos marcados pelo sossego e tranquilidade próximos da escala humana e que estão associados, também, ao ponto focal, que “é o símbolo vertical da convergência”, um ponto de referência. Por último, os temas acerca do conteúdo tratam dos elementos que compõem a paisagem da cidade e que contribuem com a sua identidade, como cores, texturas, escalas, estilos. Na segunda parte do livro, Gordon Cullen aponta seus conceitos mostrados anteriormente de forma prática, com exemplos reais em diversas cidades, e como eles podem impactar na percepção positiva ou negativa do observador.

A edição da obra utilizada para fazer essa presente resenha data do ano de 1971, 10 anos depois da original, e em sua introdução o autor menciona que a mensagem que ele tinha intenção de transmitir com a primeira publicação não foi devidamente recebida e que a situação, na verdade, se agravou durante essa década. De acordo com Cullen, as mudanças acontecem rápido demais por conta do crescimento acelerado da população e das cidades. Surgem cada vez mais casas e equipamentos, mas os métodos construtivos ainda são mal dominados, isso impede os urbanistas de processar e entender a cidade na mesma velocidade em que essas mudanças ocorrem.

Hoje, 52 anos depois, vê-se um grande avanço no conhecimento desses métodos construtivos, mas a forma de pensar parece não ter evoluído muito. Usando ainda como exemplo Cuiabá, vê-se cada vez menos uma preocupação dos agentes que atuam nas modificações da cidade com a paisagem urbana e cada vez mais com os lucros que vão ser obtidos nas novas construções. Viadutos, por exemplo, que estão sendo construídos aos montes com a intenção de “facilitar” a circulação - e é óbvio que aqui se fala da circulação de veículos, já que os pedestres estão crescentemente sendo deixados de lado, pela sua escala se tornam uma barreira, não só física, mas visual para a paisagem, enfraquecendo pontos focais e perspectivas, tão citadas por Gordon Cullen. Praças, que eram para ser recintos, locais de encontro das pessoas, para onde o tráfego conduziria, são alocadas em qualquer espaço vazio na malha urbana, e não trazem conforto nenhum para os usuários. A praça Alencastro, por exemplo, localizada no centro de Cuiabá, que passou por uma recente reforma onde se construiu uma estação para passageiros de transporte público, que obstrui a visão quase que completamente de quem está na praça para a Igreja da Matriz, um edifício histórico da cidade, e vice-versa. Também a arborização, que quase não gera sombra, os bancos sem encosto, elementos que não favorecem a noção de recinto, a apropriação do espaço, a viscosidade.

Kevin Lynch (1918-1984) também foi um arquiteto urbanista e designer urbano norte-americano e, assim como Gordon Cullen, dirigiu seus estudos no campo do planejamento urbano pela percepção do ambiente nas cidades. Sua maior publicação é A Imagem da Cidade, objeto dessa resenha, em 1960, um ano antes do lançamento de Cullen, Paisagem Urbana. O texto de Lynch, resultado de cinco anos de estudos, aborda a qualidade visual da paisagem urbana pela maneira com os habitantes percebem a sua própria cidade e as partes que a constituem.

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