RESENHA PAISAGEM URBANA - GORDON CULLEN
Por: Vinícius Além • 7/3/2016 • Resenha • 2.453 Palavras (10 Páginas) • 8.813 Visualizações
CULLEN, G. Paisagem Urbana. Tradução por: Isabel Correia e Carlos de Macedo, Lisboa, Portugal: Edições 70, 1983.
Por ter sido escrito durante os anos 60, o livro traz uma carga crítica ao movimento moderno, uma vez que esta década foi marcada por este fator, neste mesmo período Robert Venturi escrevia suas críticas no Complexidade e Contradição na arquitetura. Com o arquiteto urbanista de cunho comportamentalista, Gordon Cullen (1914-1994) não foi diferente, formado em Westminster vivendo na Grã Bretanha, o berço da modernidade, tem competência para citar exemplos e contestar as obras modernas em ascenção no período. Introduz o texto levantando conceitos que serão aplicados à realidade nos capítulos posteriores, dos quais me chamaram atenção os conceitos de aqui e além - fruto do senso de localização humano; o Recinto- local onde o fluxo resulta, local de parada, aconchegante; Ponto Focal – chamariz do recinto, que caracteriza o local; Truncagem – no qual o recuo do edifício principal traz para si uma maior carga de destaque; e Edifício Barreira – que barra o fluxo local, trazendo para si perspectiva. Em seguida, sucita sabiamente que o homem históricamente é um ser comunitário, e precisa de locais para reunião, e interação. É natural que se coloque objetos móveis próximos a imóveis, para que assim, não haja obstrução de fluxo, da mesma maneira, na cidade, as pessoas são os objetos móveis dentro das praças e largos que são imóveis. Porém, o espaço por si só não seria utilizado, este deve ser munido de várias instalações públicas para que todos possam fazer uso, estes equipamentos dissociam os fluxos, onde estes serão mais estáticos próximos a estes equipamentos e mais fluidos pelo resto das praças e largos. Uma cidade completamente ortogonal pode ser monótona a medida que na perspectiva é compreendida quase que totalmente. A delimitação consiste em barrar a perspectiva com certas edificações, afim de se criar surpresa no transeunte que passa, dessa forma tirando a monotonia da cidade ortogonal. Edificações de cunho monumental também poderiam ganhar notoriedade caso fosse necessário, criando-se um eixo de perspectiva até estas. As linhas de força consistem na principal função da cidade expressa na sua malha urbana, através da disposição de elementos. Como na cidade de Campo Grande, de origem militar, situado na avenida Duque de Caxias, que desemboca na avenida Afonso Pena, principal eixo da cidade, em uma região central. Pés e pneus: É certo que em alguns casos a preferência tem de ser toda do pedestre, o autor cita passagens próximas a catedrais e igrejas e escolas, porém, é ncessário sempre se dar passagens para veículos de emergência. Através da textura o urbanista delimita o local proibido aos pedestres e o local proibido aos automóveis. O aumento do número de automóveis fez com que a variedade de texturas de pavimento fosse perdida na cidade, e com que as áreas para pedestres fossem diminuindo gradativamente. Medidas contra a invasão de carros ao meio urbano são citadas pelo autor, como restringir o movimento de áreas residenciais para os habitantes desta, fazendo assim com que o fluxo transeunte diminua no local. Foi o que ocorreu na época da Copa do Mundo, os governos municipais cadastraram os moradores das imediações dos estádios pelo país afora, para assim diminuir o trânsito em dias de jogo. O uso de elementos que impeçam a passagem do automóvel também é muito eficaz neste tipo de situação, e, ao contrário do que se pensa, somente a colocação de gradeamentos ou muros não é a única saída, e em alguns casos este tipo de solução pode gerar poluição visual. Medidas como fosso ou “falso outeiro” são citadas pelo autor como formas de se restringir o acesso sem o desperdício da perspectiva. O tipo de pavimentação também influi na destinação de locais à pedestres e à automóveis, ainda funciona como elemento ligante de edificações. Cullen critica o caráter desurbanista e setorizante da cidade moderna, a homogeneização do uso do solo resulta numa infuncionalidade e na utilização de medidas alternativas para melhor utilização dos elementos urbanos. Uma família habitante de uma região habitacional, por exemplo, certamente irá fazer uso do automóvel para fazer compras, uma vez que o comércio se situa fora da zona comercial, não há sobreposição de uso. Do outro lado, a pulverização de equipamentos trazida pelo desurbanismo traz distâncias fora da escala humana, resultando em imensos espaços vazios, pouco ataraentes aos pedestres. Tudo isto acaba que por resultar na perda de comunicação e interação por parte dos habitantes da cidade, desta forma, perdendo a essência de cidade, o edifício foi cada vez mais se isolando, cada vez mais urbanismo foi sendo confundido com arquitetura. Regras Gerais: Medidas padrões, utilizadas nas mais diferentes situações com o intuito de sanar o problema, porém estas podem não ser as medidas mais apropriadas para o tipo de problemática encontrada. O autor aborda exemplos de equipamentos de iluminação, onde problemas como de escala (onde o equipamento público chama mais a atenção do que os próprios recintos do local, unidade cinética (onde o equipamento pode não dar a visão de monumentos ou elementos importantes da cidade, ou descaracterizar o local) e o rigor (onde o tipo de equipamento pode ser melhor adequado que outro) podem acabar por fazer com que a cidade se empobreça visualmente e funcionalmente. A solução para esse tipo de problema é tomar os equipamentos de iluminação como parte da paisagem urbana. Publicidade e Rua: Tema também abordada por Venturi em seu livro Aprendendo com Las Vegas, a ascenção da publicidade é considerada a maior contribuição do século XX para a arquitetura e o urbanismo, embora que ainda nos dias de hoje, o arquiteto urbanista tenha virado as costas para este tipo de artifício. Esta ferramenta pode sim ser adequadamente utilizada no meio urbano, basta tão somente, assim como os demais equipamentos, que o urbanista trate-o como parte integrante do meio, parte do conjunto que forma a paisagem urbana Parede: É talvez o principal item de delimitação dos espaços, tem em sua superfície o poder de causar variadas sensações no habitante da cidade, sendo usada como tela pra variados tipos de desenho em alto e baixo relevo, abstratos ou não. Cada parede é individual, e tem sua característica, que influi na leitura da paisagem urbana. O clima inglês: É principal fator determinante do caráter introvertido das cidades inglesas, capítulo onde o autor enumera uma série de medidas para não ter-se a necessidade de se recorrer à residência como forma de abrigo das intempéries. Posteriormente, o autor levanta que a paisagem urbana é um tipo de arte até então novo, conceito utilizado por poucos arquitetos urbanistas em seus projetos, o qual ele cita o Well Hall Estate, em Eltham. O local se torna mais humano e melhor habitável usando estes conceitos. Integração da árvore: Com a maior pureza dos exteriores de edifícios dos tempos modernos, o olhar tem menos artifícios para ser atraído, o que acaba que por transformar o paisagismo nesse atrativo, o que dá a notoriedade ao edifício, trazendo maior importância ao exterior. “Hoje em dia [...] a árvore cede sua riqueza ao edifício, e [...] o edifício faz realçar as qualidades arquitetônicas da árvore” (P. 171). Os Desníveis, além de influenciarem no campo da visão, fazem com que as sensações dentro do meio urbano se modifiquem a medida que se suba a um local, ou a que se desça a outro; um local mais alto é mais visível, imponente e poderoso, e um local mais baixo, é mais aconchegante, mais tímido e protetor. Igrejas históricamente se situaram em locais altos, acentuando o poder destas no decorrer da história, verifica-se isso em várias igrejas daqui de Cuiabá, que se destacam na paisagem devido a desnível (São Benedito, Bom Despacho, São Gonçalo). Locais mais abaixo do nível são propícios a serem usados como locais de intimidade e privacidade. Aqui e Além são dois dos conceitos apresentados no início do livro, e agora, serão aplicados. É inevitável que se pense enquanto se está em um recinto “eu estou aqui” e que em seguida se pense “eu vou para lá” o aqui e o além são as duas faces do senso de localização inerente às características humanas. Um elemento divide o local em dois espaços diferentes, acentuando assim esta noção, como exemplo pode-se citar o viaduto entre a avenida Miguel Sutil e a avenida Historiador Rubens de Mendonça. Para mim, o Centro Político Administrativo começa lá, minha noção de aqui e ali do CPA é condicionada por este. O prolongamento do interior para o exterior nota-se no condomínio Haarlemmer Hottuinen citado por Herman Hertzberger em Lições de arquitetura. Lá as varandas dão para a rua, e a integração entre os moradores se dá por esta, desta forma, a varanda se torna a parte mais pública da residência que é privada. A demarcação da varanda por cercas baixas delimita e diferencia o público do privado. A deflexão nota-se assim como nas obras de Haussmann em Paris, em algumas cidades no Brasil de influência barroca. O livro em questão é de fácil leitura e bastante denso, desta forma, escolhi prender-me somente nos assuntos que mais despertaram a atenção. O autor enumera muitos conceitos e aplica-os de forma muito corriqueira, fazendo com que a compreensão em determinados momentos possa ser comprometida devido a falta de legenda em suas fotos, porém, esclarece conceitos que desde já devem fazer parte do vocabulário de um estudante de arquitetura e urbanismo.
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