Trabalho de conclusão de curso
Por: Jonattha Roberto • 15/3/2017 • Monografia • 4.430 Palavras (18 Páginas) • 297 Visualizações
CULTURA NORDESTINA: ARTE E VIDA EM MOVIMENTO
4.1 MÚSICA
O estilo e padrão musical de uma sociedade refletem os padrões de cultura, a codificação de mensagens e a transmitem, a quem ouve, alegrias e por muitas vezes até tristezas (PINHEIRO et al., 2004).
O Nordeste brasileiro tem gêneros musicais próprios, os quais formam formados ao longo do tempo por contribuições de gêneros musicais diversos, porem os três pilares principais são as músicas de salão, de origem europeia, como as quadrilhas, por exemplo. As danças de percussão e batuque, oriundas da África, as quais influenciaram na formação de ritimos como o coco e o axé, e os folguedos indígenas que contribuíram para gêneros como o xaxado e as rodas, estes caracterizados pelas pisadas, formação de filas, círculos e colunas sempre ao som de um instrumento musical ou, no caso do xaxado, o compasso dos rifles dos cangaceiros (SOUZA, 2013).
Santos (2012) afirma que no fim do século XIX até início do século XX, a alta elite brasileira utilizou-se de seu discurso para promover a ideia de identidade nacional, onde o sul e sudeste representavam a modernidade, a industrialização e o desenvolvimento tecnológico, enquanto o norte e nordeste eram tidos como regiões “puras” e que não sofreram influencias estrangeiras. Esse pensamento de conservação regional, serviu para afirmar estas áreas como berço da pura cultura brasileira e a criação de estereótipos regionais.
Tendo sido a primeira região brasileira a ser colonizada por portugueses, que ali encontraram os indígenas nativos, e também a primeira a receber escravos vindos da África, a cultura nordestina desenvolveu-se tornando-se típica e peculiar. Sua base é luso-brasileira, tendo influência da cultura africana e ameríndia.
O complexo regional nordestino passou então a apresentar grande diversidade cultural, composta por manifestações diversas, especialmente na música, onde destacam o coco, o xaxado, o forró, o samba de roda e o axé. Estas manifestações são tidas como a identidade do nordeste.
O coco é marcado pelos instrumentos de percussão, como o ganzá, surdo, pandeiro e triângulo, o que leva a discussões quanto a sua origem.
Para Vilela (1980) o coco é uma manifestação cultural, típica do nordeste brasileiro, que surgiu na época da escravidão, em meados do século XVI, sendo praticado por escravos nas senzalas e quilombos, por índios nas aldeias e pela baixa classe social da época.
Já Amorim (2007), em estudo sobre o gênero realizado no estado do Ceará obteve a seguinte informação, sobre a origem do gênero musical, de um cantador de coco:
“Quando era noite, as pessoas se reuniam para dançar os batuques. Aqueles que tinham ouvido as canções improvisadas lá no local de trabalho – canções estas que geralmente remetiam a alguma pilhéria com os patrões ou com os próprios pares – pediam aos improvisadores que cantassem “aquela lá [que foi cantada durante a colheita] do coco”. Por aglutinação, a frase foi diminuindo e se transformando de “canta aquela lá do coco” em “canta o coco”. Ouvi essa história de um mestre de coco no distrito de Forte Velho, município de Santa Rita, no litoral norte paraibano. A mesma história me foi confirmada, com algumas variações, por outras pessoas nos litorais paraibano e pernambucano.”(Amorim, 2007, p.3)
Mesmo com uma ou mais versões sobre a sua origem, pode se perceber que o coco está relacionado a um tipo música que acompanha a rotina do trabalho e que com o tempo foi incorporada a momentos de lazer da população sendo, então, difundida por todo o interior nordestino, principalmente entre comunidades ribeirinhas. Nesse processo de difusão o coco foi incorporado a outros folguedos como as cantigas de roda por exemplo.
Os estudiosos do tema (Vilela, 1980), confirmam a forte presença da cultura africana no gênero, que pode ser percebida na umbigada presente na dança, nos instrumentos de percussão, no ritmo, que em muito se assemelha ao samba e ao jongo e do canto com estrutura em perguntas e respostas. Há também indícios da influência da cultura ameríndia no ritmo, música e dança (PIMENTEL, 1978)
Já o forró tem origem no que antes era conhecido como “forrobodó, rala-bucho, bate-coxas”, este ritmo mistura irreverência e ousadia e nasce da necessidade de expressão de manifestações folclóricas, religiosas e musicais, ou como meio de diversão das camadas mais humildes.
De início este ritmo sofreu duras críticas da sociedade e enfrentou várias perseguições e proibições policiais, impostas pela classe alta da época, porem o movimento resistiu e transformou-se no forro que hoje é nacionalmente conhecido.
No sertão o forró expandiu-se com bailes de pé-de-serra, geralmente em comemoração à boas colheitas ou a chegada das chuvas, enquanto na zona da mata nordestina este se difundiu nos festejos juninos e finais de semana, nas épocas de plantio e corte de cana.
Dessa forma o forró difundiu-se, tanto em cidades do interior como em zonas suburbanas e regiões litorâneas. Este era sempre realizado em arraias improvisados ao som de sanfona, zabumba e triângulo (TINHORÃO, s.d.).
O samba de roda é um estilo musical associado a dança, com origem em rituais tribais africanos, é sempre acompanhado de instrumentos como o pandeiro, berimbau, viola, atabaques e viola de chocalho.
O samba de roda tem um contexto coletivo, tendo em vista que esta presente em grande parte das comemorações religiosas do nordeste e também no espeço das casas, onde ao fim das obrigações do dia, era realizando um samba de roda como forma de diversão.
O ritmo é conduzido por um cantor que é acompanhado por homens e mulheres, que dançam e repetem os versos, sempre acompanhados de palmas ritmadas, formando uma roda. Ao centro desta roda sempre há um indivíduo que dança e gesticula ao ritmo da música cantada, em dado momento ele se dirige a outro participante, que o substituirá, e marca a troca de dançarino com uma umbigada.
O samba de roda é uma dança com presença marcante das mulheres, são elas que batem as palmas ou tabuinhas e saem da roda para sambar e responder a cantigas entoadas (OLIVEIRA et al., s.d.)
De todos os ritmos musicais do nordeste, o axé é o mais recente, tendo sua origem nos anos 80, sendo que em 1987 o jornalista Hagamenon Brito criou o termo “Axé music”, sendo classificado como música de baixa qualidade. Apesar da rotulagem pejorativa o axé expandiu-se rapidamente e teve seu auge na década de 90, mantendo-se no mercado até os dias atuais. Sendo que a Bahia produz e consome suas próprias músicas, além de exporta-las para outras partes do pais e do mundo (GUERREIRO, 2000).
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