Contabilidade de custos
Por: Jorge Pinho • 1/12/2015 • Trabalho acadêmico • 1.792 Palavras (8 Páginas) • 295 Visualizações
Estudo de Caso
Inovando no varejo a partir da criação de uma marca de valor
Na sede da Chilli Beans, em Alphaville, a agitação é evidente. Caito Maia começa o dia com uma agenda cheia de compromissos e encontra-se em reunião com a equipe de marketing. Quem observa o executivo que comanda uma equipe de mais de 100 pessoas e que acompanha de perto o crescimento acelerado de sua empresa e das mais de 450 franquias da rede talvez não faça ideia de como tudo começou. O início da empresa confunde-se com o próprio desenvolvimento profissional de Caito Maia. Ao ser questionado sobre quem o influenciou e como o negócio surgiu, ele responde, sem titubear: “Na minha família, não tem ninguém empreendedor do próprio negócio. Meu pai, inclusive, era músico. Isso me influenciou bastante, e, aos 12 anos, eu já tocava bateria. Cheguei a montar uma banda e morei nos Estados Unidos, onde estudei música...”
A experiência precoce nos Estados Unidos levou o jovem músico ao encontro de novas oportunidades, apesar do sonho de ter uma banda bem-sucedida. “Entre idas e vindas, fiquei sete anos nos Estados Unidos. Fui, pela primeira vez, aos 12 anos, sozinho, encontrar um amigo do meu pai. Eu aproveitava as viagens e trazia objetos para vender aos amigos.”
Talvez não soubesse o que era empreendedorismo, mas já praticava a arte da negociação, adquiria habilidade em vendas, enxergava oportunidades e sabia se relacionar com as pessoas. “Acho que nada nem ninguém me influenciou. Tinha uma veia natural, sempre fui uma pessoa para quem 2 + 2 é igual a 5.” Para se sustentar nos Estados Unidos, Caito fazia de tudo um pouco: “No tempo em que morei na Califórnia, trabalhei muito, lavei muito prato, fui faxineiro e caixa de supermercado.”
Com toda a experiência adquirida no exterior, o networking que tinha no Brasil e a vontade de criar uma marca forte, Caito aos poucos foi percebendo que a banda era mais um hobby que um negócio. As viagens que fazia ao Brasil e as vendas de produtos importados abriram os olhos do jovem músico para a grande oportunidade de sua vida: “Criei a Chilli Beans com 29 anos. Antes de criar a marca, comecei a trazer óculos dos Estados Unidos na mochila para vender aos amigos. Todos gostavam e pediam mais e mais produtos, e a demanda não parava de aumentar. Foi então que vi uma grande oportunidade, pois, com o dinheiro das vendas iniciais, eu comprava e trazia mais produtos. Isso cresceu até que consegui um cliente de atacado. O passo posterior foi criar a marca própria, abrir o próprio ponto de venda e trazer os produtos diretamente da China. Mas antes, praticamente vivenciei a falência por falta de planejamento...”
Como tudo foi acontecendo rapidamente, não houve uma criteriosa análise da demanda. A venda para o atacadista, apesar de ser uma oportunidade, mostrou-se também perigosa, já que haveria uma concentração das vendas em um único cliente. Se esse cliente não fosse atendido adequadamente, a empresa ficaria em risco. Foi o que aconteceu e o que levou o negócio a quase quebrar logo no início: “Como não cheguei a fazer um plano de negócios, quando comecei a vender no atacado, praticamente quebrei. Por meio de meus relacionamentos, recebi uma encomenda grande de um cliente importante, a Fórum, uma marca superconhecida no Brasil, mas à qual eu não tinha condição de atender.”
Com isso, Caito percebeu que precisava criar uma marca própria e capitalizar sobre sua criação de maneira a poder vender no varejo. “Quebrei vendendo no atacado sem planejamento. Perdi tudo que tinha, mas, em compensação, foi o que me estimulou a criar minha marca própria. O nascimento da Chilli Beans foi no Mercado Mundo Mix, um mercado itinerante nas capitais, com várias marcas legais que estavam nascendo. Eu punha os óculos em uma mala e vendia pessoalmente no Mundo Mix.”
Caito fazia praticamente tudo sozinho, acabou não tendo sócios envolvidos na criação da empresa, apesar de sua vasta rede de contatos. O capital inicial foi o resultado das vendas iniciais para os amigos, que foi se multiplicando com mais e mais vendas... Caito aponta sua habilidade comercial e de relacionamento como um de seus principais pontos fortes: “Minha maior fortaleza é a capacidade de valorizar as pessoas, de construir relacionamentos. A maior fraqueza do negócio é que sou dono sozinho e sempre dependi dos próprios lucros da empresa para gerar capital.”
A partir daí, o negócio Chilli Beans começou a crescer de forma acelerada, ancorado em uma marca forte e no desenvolvimento das pessoas que fazem parte da equipe e de sua rede de franqueados, o que Caito não se cansa de enfatizar ao se lembrar das principais realizações da empresa: “Houve alguns momentos que considero marcantes na história da Chilli Beans: a abertura da primeira loja, em um shopping (Shopping Ibirapuera, em São Paulo), e a abertura da primeira loja fora do país. No entanto, minha maior satisfação é ver as pessoas crescendo comigo!”
Quando questionado sobre o que é ser empreendedor, Caito fala de bate-pronto: “Tem os prós e os contras. O lado positivo é ter a oportunidade de empregar pessoas, ajudá-las a crescer. O negativo é a burocracia de empreender no Brasil. No meu caso, há vários problemas que atrapalham a importação. Houve até um período no qual o abastecimento chegou a ficar parado e complicou o negócio todo. É muito burocrático.”
Ao falar como a vida de empreendedor influencia a vida familiar, Caito se mostra muito regrado e sabe delegar as tarefas e gerenciar seu tempo de maneira a se dedicar com foco total à empresa, mas sem esquecer a própria saúde e o convívio familiar: “Sempre há reclamações. O empreendedor trabalha muito, e a família sempre quer mais atenção, mais presença. Hoje, tenho um trato com a minha família: os finais de semana são nossos. Mas me cuido também: sou bastante atento à minha alimentação, faço atividades físicas e consigo otimizar meu tempo usando a academia de ginástica que temos na empresa. Esse é outro benefício que os funcionários têm aqui na Chilli Beans.”
A Chilli Beans se tornou, ao longo dos anos, uma das marcas mais conhecidas do público jovem do Brasil, o que levou Caito a viajar pelo país proferindo palestras e apresentando a empresa, sendo o próprio garoto-propaganda da marca. Apesar dos erros cometidos no início do negócio, como empreendedor experiente que veio a se tornar, Caito analisa o passado e não acredita que mudaria algo em sua trajetória, caso começasse tudo de novo: “Não me arrependo de nada, nem faria algo diferente, porque aprendi com os erros. Tudo foi aprendizado.”
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