“A ARTE DA VIDA: O que há de errado com a felicidade?” BAUMAN, Zygmunt, 1925
Por: Iolanda Jesus • 21/10/2021 • Resenha • 1.009 Palavras (5 Páginas) • 136 Visualizações
“A ARTE DA VIDA: O que há de errado com a felicidade?”
BAUMAN, Zygmunt, 1925 – A arte da vida; tradução, Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
Zygmunt Bauman foi um eminente sociólogo, filósofo e escritor nascido na República Polonesa em 19 de novembro de 1925. Como professor titular, lecionou na Universidade de Varsóvia e Leeds. Grande pensador, visionário da modernidade, têm aproximadamente quarenta livros publicados no Brasil, dentre as obras de maior sucesso estão: Modernidade Líquida, Amor Líquido, Modernidade e Holocausto (Prêmio Amalfi, 1989). Morreu aos 91 anos, em 09 de janeiro de 2017 no Reino Unido.
A busca pela felicidade é, talvez, a força motriz da vida humana.
No início do livro “A arte da vida” de Zygmunt Bauman, o autor inicia com o seguinte questionamento: “O que há de errado com a felicidade?”; pergunta esta que nos traz inquietude, uma vez que a ideia de felicidade é antagônica e distante do que está suscetível a erros ou imperfeições.
O que Bauman nos mostra ao problematizar o nosso contexto de felicidade é que estamos aprisionados a um contexto de vida feliz proveniente do nível de poder aquisitivo que um indivíduo detém, ou seja, só é possível ser feliz quando somos detentores de grandes riquezas, quanto mais dinheiro e poder de compra tivermos, mais felizes seremos. Isso é tido não só como uma verdade absoluta como também inquestionável e indubitavelmente utópica. Dados empíricos e relatórios de pesquisas verificadas apontam que mesmo com o aumento significativo da renda, o nível de felicidade dos que a detinha não era correspondente, mas sim, menor. Com essa premissa, as políticas governamentais de impulsionar o acúmulo de capital em virtude da garantia de uma vida mais feliz mostrou-se ineficaz. Avaliar a felicidade através do consumo, movimentação de dinheiro e tendo o PNB (Produto Nacional Bruto) como indicador para o levantamento e constatação das estatísticas nos possibilita enxergar o quão perigoso é essa analogia de felicidade x riqueza sem considerar os prejuízos causados ao obtê-la. Ele verifica que com o aumento do número de proprietários de automóveis, aumenta também a incidência frequente de acidentes e vítimas, culminando em despesas de consertos, medicamentos e tratamentos médicos. Nessa perspectiva podemos compreender que há um antagonismo nessa correlação.
Foi justamente o que Robert Kennedy em campanha presidencial publicou, fazendo uma crítica de maneira severa, mas circunspecta poucas semanas antes de ser morto. Kennedy propunha a restauração dos valores acerca do que é realmente importante e que dão um real sentido à vida, bem como a fazem valer a pena. Se distanciando de toda essa lógica do “ter” para encontrar em outras coisas sustentação para um modo de vida feliz sem qualquer tipo de prejuízo.
Hoje, podemos evidenciar que o progresso dessas ideias não são notáveis, ou até mesmo existentes, o que ainda existe na humanidade é a cultura fortemente enraizada de felicidade advinda do consumo supérfluo, facilmente adquirida em prateleiras, lojas e shoppings como uma maneira satisfazer seus desejos, afim de suprir superficialmente a ausência dos prazeres que só são encontrados nas relações humanas de afeto, generosidade, empatia e atitudes solícitas, esquecendo-os que nem tudo que têm preço, têm valor.
Com a ascensão ideológica de felicidade resultante do consumo, o mercado se voltou a atender de maneira eficiente as demandas da sociedade, usando variadas inovações e promessas que sugerem facilitar a vida dos consumidores. Com a praticidade que determinado bem oferecera eles teriam mais tempo para outras atividades mais aprazíveis. No entanto ainda que haja ferramentas que simplificam tarefas e otimizam tempo, não há um impacto significativo diante da totalidade do que traz felicidade.
Uma pesquisa de Laura Potter tinha como objetivo analisar o comportamento das pessoas em salas de espera, partindo do pressuposto de constatar a impaciência e agitação característica de uma modernidade acelerada em que o ato de esperar por alguns minutos se torna uma tarefa monótona e extremamente irritante. O que para seu fascínio não aconteceu, Laura se deparou com verdadeiro espaço de relaxamento ou até mesmo refúgio do caos que aflige a rotina dos que estavam ali. Com isso, podemos perceber o quão estamos abdicando e sacrificando-nos para sustentar o princípio de felicidade que nos foi posto. As benesses que as inovações de mercado do mundo globalizado nos trouxe com o viés facilitador já não parecem corresponder ao que se esperava, fazendo com que as pessoas percam a alegria de se sentirem úteis, capazes de aprender e dominar habilidades novas, perdendo o próprio respeito e tendo sua autoestima esvaída.
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