A Alemanha Refúgio ou Alvo?
Por: Lucazb • 8/2/2022 • Resenha • 2.859 Palavras (12 Páginas) • 80 Visualizações
ALEMANHA: Refúgio ou Alvo?
O passado nada mais é do que memórias. O registro de tudo o que acontece fica retido apenas em nossas recordações, de forma subjetiva. Materialmente, temos: escritos, pinturas e mais recentemente fotografias e filmagens. A História da humanidade é construída da lembrança dos que estão vivos e dos registros dos que uma vez viveram. Dada a finitude da vida, muitos se preocupam em colecionar registros para, de certa forma, eternizar sua existência, ou, mais humildemente, imortalizar sua cultura. Diásporas sucessivas marcaram o desenvolvimento da humanidade, que se expandiu indefinidamente por um mundo aparentemente sem fronteiras. Somos bons em cavalgar, navegar, explorar. Mas também somos bons em invejar, abusar e matar.
Diversas etnias que hoje existem surgiram como decorrência da prática do estupro. Veja, por exemplo, os europeus que quando “descobriram” a América Latina, além de trazer doenças para o continente, saciavam seu desejo sexual aproveitando-se dos nativos. Na época, a pílula anticoncepcional não existia, ou seja, a ocorrência da gravidez era um fator comum. Uma índia cá, outra acolá. Uma mistura de brancos e índios. Estupro de negras africanas? Ocorria também. Branco mais negro. E, assim, foi se expandindo a população mundial em um ritmo assustador. Claro que a compaixão materna existia, mas nada nos garante que crianças com má formação não fossem decepadas. Ou que abortos prematuros não ocorressem. Pedrada na barriga, será? São ocasiões históricas que ora foram registradas, ora não. “A história é contada por vencedores”, já dizia George Orwell – um socialista desacreditado. Em outras palavras, temos registro apenas do ponto de vista dos exploradores, não dos explorados.
Temos casos e casos para analisar, é verdade. No entanto, nosso foco principal aqui é o campo da cultura. Se o passado é feito de memórias e elas se vão, por serem meros desmembramentos de uma consciência frágil, que uma vez também se desfaz, o que sustenta este pilar que vivemos hoje? Qual o bem maior de uma população que perdura ao longo de sua história e assim deva ser conservado? Se pensou cultura, acertou.
A maravilha do mundo em que vivemos hoje é justamente o pluralismo cultural. Esse pluriculturalismo dividido em territórios, oferece identidade para os diferentes continentes que, a partir da Era Mesozoica, desde a famosa Pangeia, vêm se afastando. E, com a separação desses continentes, surge também a divisão das mais diversas civilizações e em decorrência desse afastamento, reza a lenda que cada continente tem sua própria cultura enraizada. Um mochilão na Europa transmitiria bem essa ideia de que a cada fronteira que se atravessa há um povo diferente, de cultura distinta e pensamentos curiosos e novos. A graça de viver está em conhecer. A difusão do conhecimento enobrece o homem e justifica sua existência. Rejeitar o conhecimento é aceitar a sua própria condição de escravo.
Pois sim. O conhecimento nos motiva e nos fascina. Somos tudo com ele, vazios sem tal. Outro ponto cativante é a curiosidade interna de cada um, e suas peculiaridades individuais. Somos pluri, somos diversos, somos todos seres humanos. No entanto, há também o orgulho que destila nosso ego e corrói nossa personalidade. O mundo está dividido. Não em dois. Mas em milhares. Cada povo pretende tal coisa. Alguns têm a casa arrumada, outros não. Alguns têm conflitos de ordem “moderna”, outros de ordem da Idade Média. Somos 7 bilhões de pessoas em constante evolução e transformação. A vida não permite estagnações. Ao contrário, exige alterações. Isto porque da mesma forma que nosso corpo nunca está parado (multiplicando e renovando células indefinidamente), o mundo também não está. Aliás, a harmonia universal (solução das guerras, da pobreza, da economia, do mercado, da desigualdade) levaria o homem à loucura e países inteiros à morte sistêmica. Vide Suécia, um país plenamente desenvolvido que aumentou o uso de antidepressivos em 1000% nas últimas três décadas (2013 – Rachel Reilly, Daily Mail). Precisamos do conflito.
Mas assim como necessitamos do conflito, carecemos também de identidade. Um povo sem identidade não é um povo, é um amontoado de pessoas. Racismo, xenofobia, homofobia, na verdade, sempre vão existir. Porque há no ser humano um vazio existencial que faz com que seja necessário a ele impor sua ideologia a qualquer custo, mesmo porque dali a 80 anos ele terá morrido e outro líder imporá um novo pensamento. Só nos questionamos quando a humanidade entrará em um colapso definitivo. Ou se o planeta Terra um dia virará uma Pompeia, com toda sua história petrificada em massas cinzentas. A música de John Lennon, Imagine[1] é linda na letra, na voz, na sinfonia, no tocar das teclas do piano e na intenção. Contudo, temos de reconhecer que não passa de uma utopia e que caso fosse possível sua realização, não iria demorar para que um kamikaze explodisse e começasse uma guerra. Igualmente, temos caso parecido na literatura inglesa (fruto de sua cultura), em 1953 quando o escritor Arthur C. Clarke[2] escreveu o romance, em título original, Childhood’s End.[3] No livro, a população é invadida por alienígenas que nada mais querem que estabelecer a paz mundial na Terra. Diferente do The War of the Worlds,[4] do mais conhecido escritor, também britânico, H. G. Wells, no qual os alienígenas guerreiam contra nós, fazendo-nos prisioneiros.
No livro de Clarke não há a pretensão de guerra, ou de domínio por meio da violência. Lá os alienígenas buscam conquistar a população oferecendo um mundo em que não haveria fome, crimes ou conflitos. Era a chamada Idade de Ouro do Homem, em que navios da Marinha carregariam alimentos para a África, ao invés de armas e bombas, em que os oleodutos do Oriente Médio seriam usados para passar água e irrigar as áreas secas do deserto. Incrível, certo? Porém, não precisaria dizer que no desfecho deste livro toda a população enlouquece e a Terra literalmente se explode pelos ares, extinguindo-nos do universo.
Sabemos também que o ser humano erra. Aliás, anda errando muito ultimamente. Isso é essencial para o nosso desenvolvimento, sim. Mas custa vidas. Um dos exemplos mais recentes que temos foi a política de abertura das fronteiras alemãs para a entrada de refugiados muçulmanos, a maioria em idade militar (dos 18 aos 31 anos), desde o ano de 2015.
É da ciência de todos que o Oriente Médio vem protagonizando os conflitos mais assombrosos do planeta, seja em ordem política – como a tentativa da tomada de poder da Turquia pelos militares – seja na ordem territorial – vide Jerusalém, em Israel. Não é novidade para ninguém também a decapitação dos “laranjas” pelo Estado Islâmico. Reféns de toda parte do mundo, dentre eles jornalistas americanos e um espião russo. Além disso, presenciamos através da mídia atentados terroristas das mais diversas índoles, muitos deles na França, o que deixou o país em estado de emergência. A declaração de um líder muçulmano é que pretende “vários ataques ao mesmo tempo, na Inglaterra, Alemanha e França”, ele diz que há: “um grande número de pessoas vivendo nos países europeus aguardando pela ordem de ataque(...)”[5]. O patriotismo nesse caso deveria falar mais alto que o politicamente correto e fazer prevalecer a soberania nacional de cada país, reforçando as fronteiras e fazendo jogo duro com assassinos. Mesmo porque a Europa é o continente com mais ateus no mundo, tendo, por exemplo, 54% dos Tchecoslovacos sem crença alguma[6]. E, em oposição, o Estado Islâmico mata em nome de Deus. Uma antinomia absurda.
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