A Antropologia Indígena
Por: entoni10 • 18/6/2015 • Relatório de pesquisa • 1.203 Palavras (5 Páginas) • 185 Visualizações
ANTROPOLOGIA INDÍGENA
A antropologia tem uma importância muito grande no indigenismo brasileiro contemporâneo. Não só os instrumentos analíticos produzidos ao longo das últimas quatro décadas que se confundem com os processos históricos vividos pelos povos indígenas do Brasil, mas os próprios antropólogos se confundem com as vozes indígenas na implementação e orientação de modos de relacionamento entre os povos indígenas, a sociedade nacional e o Estado brasileiro. A antropologia, portanto, tem uma responsabilidade histórica com o indigenismo oficial e não oficial, seja para justificar os processos de dominação colonial, ou, principalmente contestando essa dominação e propondo novos fundamentos epistemológicos e metodológicos de reorientação da relação índios e brancos.
Não há dúvida de que antropólogos tiveram, têm e continuarão tendo um papel relevante no desenvolvimento de modos de percepção e de relacionamento 4 entre os índios e estes com o Estado e com a sociedade global. Os antropólogos e os indigenistas ativos e militantes têm uma importante participação na emergência de novas formas de organização e de luta de resistência e de reafirmação étnica e identitária dos povos indígenas que tem resultado em perspectivas mais otimistas aos povos indígenas enquanto povos etnicamente particulares. O movimento e as organizações indígenas são exemplos concretos dos resultados da parceria entre os povos indígenas, antropólogos e indigenistas. Esses atores continuam essenciais para o avanço e consolidação dessas novas modalidades de luta indígena.
Aspectos do campo indigenista atual relacionado aos de projetos de desenvolvimento com os seus variados predicados como os desenvolvimentos sustentável e etnodesenvolvimento, com o intuito de pontuar limites e descompassos entre os discursos e as práticas que orientam a formulação e implementação dos projetos de desenvolvimento aqui entendido como as políticas de intervenção para responder ás demandas indígenas. Tais aspectos reforçam a percepção de que por um lado, a importância dos instrumentos analíticos da antropologia nas conquistas indígenas, por outros os limites e desafios colocados pelas e a partir das realidades e universos socioculturais dos povos indígenas que entram em choque com a racionalidade dos projetos muitas vezes auspiciados por antropólogos e indigenistas muito bem intencionados.
De um modo geral, os projetos respondem às demandas de grupos de pessoas mas não de coletividades, quebrando princípios fundamentais das relações sociais e políticas que articulam e ordenam as dinâmicas das coletividades. Os modelos de organizações, comunidades, representações artificiais aprofundam o processo de integração dos povos indígenas, o que acaba colocando as lideranças indígenas, políticas entre fogo cruzado, de um lado os objetivos e interesses dos projetos e de outro os objetivos e interesses das comunidades indígenas. Os conflitos sociopolíticos ocorrem neste espaço diferenciado de perspectivas entre os projetos externos, as comunidades indígenas e as lideranças indígenas que fazem a intermediação e são na maioria das vezes os indutores dos projetos de intervenção. São relações marcadas por assimetrias, não necessariamente incompatíveis e irreconciliáveis.
No campo maior do movimento indígena político, espaço por excelência de conflitos sócio-políticos, a antropologia parece continuar mais presente e com papel relevante produzindo subsídios argumentativos e materiais para fundamentar a luta indígena, mesmo quando percebemos o uso ideológico da bagagem disciplinar, como o que presenciamos no órgão indigenista.
A primeira é a evidencia de que a diferença entre a visão de mundo e de vida que orienta o povo baniwa da visão de mundo e de vida dos não-índios. Essa diferença de visões do mundo e da vida produz diferentes pressupostos de racionalidades e lógicas que constituem os conhecimentos. Podemos concluir que cada cultura tem forma própria de organizar, produzir, transmitir e aplicar conhecimentos – conhecimentos sempre no plural. Os baniwa organizam seus conhecimentos a partir da cosmologia ancestral que garante e sustenta a possibilidade de vida. A base primordial é a natureza/mundo. É a cosmologia que estabelece os princípios norteadores e pressupostos básicos da organização social, política, econômica e religiosa. As virtudes, valores e contra-valores são definidas desde a criação do mundo, mas cabe ao homem, criar condições de suas efetividades. Deste modo, os conhecimentos produzidos e transmitidos recebem essa função social – conhecimentos são socialmente construídos – enquanto aperfeiçoamento da vida.
Os conhecimentos ao cumprir função social (objetivo coletivo), constituem um pilar do poder político, portanto, objeto de disputa e manipulação de grupos e indivíduos, o que acaba criando status de poder diferenciado e uma escala de valores subjetivos.
Os conhecimentos baniwas são da ordem essencialmente subjetivos e empíricos, por isso mesmo livres (sem métodos fechados) e se garantem na efetividade prática – resultados concretos no cotidiano da vida. Não importa como funciona. O acesso aos conhecimentos é público e a alcance de todos, embora se respeite as competências e aptidões individuais e grupo – especializações além. A diversidade de conhecimentos é condição de sociabilidade, e a sua seletividade (o que é público e secreto) é condição de sua eficácia). Portanto, os critérios de confiabilidade dos conhecimentos variam – o valor dos conhecimentos é relativo. Os conhecimentos estão baseados na dimensão do espírito e do corpo, sem a primazia de uma ou de outra dimensão. A natureza é não o homem é fonte de todo conhecimento. Cabe ao homem desvendar, compreender, aceitar e contemplar. O que importa é a intencionalidade – quem faz, com que fim (e não a causa – dominar).
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