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A Maquina do Abandono

Por:   •  28/9/2023  •  Trabalho acadêmico  •  5.992 Palavras (24 Páginas)  •  47 Visualizações

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MÁQUINA DO ABANDONO: UM OLHAR SOBRE A OBRA CADEIA: RELATOS SOBRE MULHERES, DE DEBORA DINIZ

ABANDONMENT MACHINE: A LOOK AT CADEIA: RELATOS SOBRE MULHERES, BY DEBORA DINIZ

RESUMO


Andreia Marreiro Barbosa1 Silvana Maria Pantoja dos Santos2

[pic 2]O presente estudo analisa a realidade de mulheres encarceradas, a partir das interfaces entre prisão e vida social na obra Cadeia: relatos sobre mulheres, de Debora Diniz (2015). Tem-se como foco dois espaços que se intercambiam: o presídio, espaço físico de onde a narradora testemunha o cotidiano das presas, as condições do lugar e o tratamento que elas recebem nos ambientes autorizados à sua circulação e o espaço social, contexto de suas vivências exteriores revelado nos relatos. Diante dessas mulheres que historicamente vivenciam dramas e desenvolvem papéis impostos a elas socialmente, questionamos: quem são essas mulheres? Que desejos as movem? Tais indagações partem de um processo que envolve

categorias de classe, raça e gênero, relações de dependência, falta de acesso à educação e violência.        74

Palavras-chave: Mulher. Prisão. Debora Diniz.

ABSTRACT

This paper analyzes the living conditions of imprisoned women, based on the interfaces between prison and social life portrayed in the book Cadeia: relatos de mulheres, by Debora Diniz (2015). We focus on two interchangeable spaces: the prison, physical space where the narrator witnesses the daily life of the women, the treatment received by them and the conditions of the place; and the social space, where the external experiences revealed in the women’s stories take place. We ask: who are these women? What are their innermost desires? These questions arise from a process that involves class, race and gender categories, dependency relations, lack of access to education, and violence.

Keywords: Woman. Prison. Debora Diniz.

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1 Atualmente é Professora de Direito – UESPI. Doutoranda em Direitos Humanos e Cidadania – UnB. e – mail: andreiamarreiro@hotmail.com

2 Atualmente é Professora Universidade Estadual do Piauí - UESPI e da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Pós-doutora nos estudos da Memória e suas interfaces com a Literatura pelo Programa de Pós-graduação em Memória: linguagem e sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB (PROCAD - AM/CAPES). e-mail: silvanapantoja3@gmail.com

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INTRODUÇÃO

Refletir sobre a realidade de mulheres encarceradas implica pensar sobre suas vidas, com foco no lugar que as aparta do social e em outro, exterior, de onde vieram. Isso é possível porque o espaço institucionaliza-se como estrutura não somente física, mas também social, sendo este construído por meio de vivências particulares e coletivas. Desse modo, propomos analisar a realidade de mulheres encarceradas a partir das interfaces entre prisão e vida social, tendo como objeto de análise a obra Cadeia: relatos sobre mulheres, de Debora Diniz (2015a). O trabalho pauta-se na pesquisa qualitativa, de cunho bibliográfico, de forma a propor caminhos interdisciplinares. Nos termos de Bastos (2016), a pesquisa qualitativa se dispõe a revelar elementos e aspectos relevantes que não são percebidos de maneira visível, embora estejam presentes e intervenham na configuração dos fenômenos.

São pertinentes as concepções teóricas de Diniz e Paiva (2014) e Ramos (2012) que discutem normas e condutas sociais que constituem o drama humano vivido em presídios; as considerações de Foucault (2003) sobre espaços desviantes; Tuan (2013) acerca da relação entre        75 espaços e percepção, dentre outros não menos importantes.

Os procedimentos metodológicos do trabalho compreendem três etapas: a primeira consiste na apresentação de Debora Diniz, autora da obra Cadeia e de sua atuação na defesa de melhores condições de vida de mulheres em situação de vulnerabilidade; a segunda, compreende a apresentação da obra, com foco na estrutura da narrativa e reflexão sobre o modo como a narradora apreende o espaço prisional; a terceira, envolve a análise das condições de vida das mulheres encarceradas, a partir da obra, objeto de análise; por fim, nas reflexões conclusivas serão compartilhados os achadas da pesquisa que, antes de trazerem respostas engessadas, abrem-se ao diálogo.

A obra retrata a realidade de mulheres encarceradas no Presídio Feminino do Distrito Federal (PFDF), com base nos registros de uma narradora-testemunha que se posiciona nos espaços do presídio permitidos à sua circulação. Neste trabalho interessa-nos saber quem são essas mulheres, como são seus modos de vida dentro e fora da prisão e que desejos e necessidades as movem. Tais questionamentos partem de informações que a obra oferece e

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envolvem categorias de classe, raça e gênero, com implicações na dependência econômica, afetiva e emocional, violência e falta de acesso à educação.

A obra é constituída de narrativas curtas que relatam sobre o cotidiano das mulheres encarceradas, histórias de suas vidas relacionadas a drogas, maternidade e dores do corpo e da alma. São narrativas que podem ser lidas encadeadas ou isoladas. A narradora apoia-se em detalhes percebidos ou relatados pelas próprias presidiárias ou por funcionários da instituição prisional, com os quais convivera durante a sua estada ali. Ressaltamos que, mesmo diante dos eventuais operadores de identificação com os fatos em si, a narrativa não traduz total referencialidade, considerando se tratar de relatos. Estes, ao serem registrados, passam pelas impressões de um eu exterior aos acontecimentos. Isso corrobora para situar o discurso entre o real e o ficcional, tornando frágeis tais limites, de modo a polemizar o efeito de naturalização autor/narrador. Assim, adotaremos o termo “narradora” em vez de “autora”, ao longo deste trabalho, por entender que a voz autoral não se confunde com a do eu que se enuncia na tessitura

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