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A Margem do Corpo

Por:   •  7/9/2016  •  Relatório de pesquisa  •  796 Palavras (4 Páginas)  •  1.467 Visualizações

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À MARGEM DO CORPO

Em À Margem do Corpo, conhecemos a história de Deuseli Vanines, de 19 anos, que morava na cidade de Alexânia, interior de Goiás. Sua trajetória é reconstruída através de depoimentos de pessoas que conviveram intimamente com ela, desde o momento em que é estuprada até a sua morte – em um recorte temporal de aproximadamente três anos. Ao contrário do que acontece em muitos documentários, em que a personagem principal é exaustivamente exibida, entrevistada e acompanhada pelas câmeras, no documentário em questão a imagem de Deuseli não é mostrada em nenhum momento, seja através de imagens fotográficas ou fílmicas. Suas características (físicas e comportamentais) são reelaboradas pelos personagens entrevistados, que incluem concepções estéticas (mais ou menos feia, mais ou menos bonita), descrições étnicas (mais ou menos negra) e julgamentos morais (mais ou menos prostituta, mais ou menos vítima), entre outros. Após descrições divergentes e significativas a respeito de uma mesma pessoa, a narrativa reconstrói os detalhes do estupro sofrido por Deuseli e protagonizado por Nego Vila, um personagem mais ou menos negro, mais ou menos bêbado, mais ou 5 menos doido, mais ou menos calmo, entre outros atributos igualmente divergentes reconstruídos também através de depoimentos de pessoas que mantiveram contato íntimo com ele. Nego Vila é visto saindo da casa de Deuseli sujo de feijão e com a roupa rasgada e aberta e Deuseli é encontrada nua, caída no chão com sinais de violência física e sexual pela vizinha Amélia Neves. É levada para o Hospital de Alexânia por outra vizinha, Jovercina Sardinha, para realização de exame pericial, mas é orientada a voltar para casa e tomar banho, e retornar no dia seguinte. Dessa maneira, apagam-se as provas de violência e conjunção carnal sofridas pela vítima e o laudo pericial que comprovaria o estupro fica comprometido. A orientação recebida por Deuseli é questionada pela escrivã da Polícia Civil Elaine Zimmermman e pela promotora Márcia de Almeida. No entanto, o médico laudo-pericial Mário Figueiredo afirma que a Deuseli havia chegado ao hospital sem laudo judicial que autorizasse o procedimento. O estupro sofrido por Deuseli resulta em uma gravidez não desejada pela vítima. Após procurar a promotora Márcia de Almeida e reafirmar sua vontade em interromper a gravidez, Deuseli é levada ao Hospital de Alexânia. Embora a interrupção da gravidez seja amparada legalmente em casos de estupro, Deuseli e a promotora não conseguem encontrar nenhum médico que aceite realizar o procedimento . Com a negativa do corpo médico e a pressão de líderes religiosos que a visitam no hospital, Deuseli segue adiante com a gravidez e se muda para Anápolis. Após o estupro, ela passa a apresentar um quadro grave de epilepsia e desequilíbrio psiquiátrico, mas é apontada por líderes religiosos e pela própria advogada de defesa, Márcia Lima – indicada pelo Movimento Pró-Vida – como uma pessoa possuída por “forças demoníacas”. Na noite de Natal de 1997, Deuseli mata a filha Fernanda Vanines, então com 11 meses, afogada em uma banheira da casa onde morava com a patroa, Maria Madalena de Morais . Ela é presa em flagrante pelo assassinato da filha e a partir de então sua vida gira em torno de mitos que a apontam como uma pessoa “possuída por forças diabólicas”, principalmente

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