A Reforma Agrária em Morte e Vida Severina
Por: Pedro Neiva • 14/11/2016 • Trabalho acadêmico • 732 Palavras (3 Páginas) • 2.512 Visualizações
Reforma Agrária e Morte e Vida Severina
As consequências que o Brasil sofre por não ter passado por uma reforma agrária são facilmente notadas nos dias atuais, bem como em períodos passados, através de uma análise da realidade da época. “Morte e Vida Severina”, além de texto literário, é uma ferramenta que permite uma melhor compreensão das origens, das mazelas e dos problemas oriundos da concentração de terras por latifundiários.
Para ilustrar a origem do problema, o texto fala da forma como as terras no Brasil foram distribuídas inicialmente, através das sesmarias concedidas pela Coroa portuguesa, que cobrava altas taxas sobre o que era nelas produzido. Essa desigual distribuição, além de colocar grandes porções de terra nas mãos de poucas pessoas, também foi um dos responsáveis pela situação de miséria em que muitas pessoas viveram e continuam vivendo. No livro, Severino é a personificação das pessoas que sofreram essa consequência. Os versos “há muitos na freguesia,/ por causa de um coronel/ que se chamou Zacarias/ e que foi o mais antigo/ senhor desta sesmaria.” explicam que os muitos “Severinos” vivem nas mesmas condições desde que os lotes de terra foram entregues ao primeiro latifundiário. Logo em seguida, nos versos “E se somos todos Severinos/ iguais em tudo na vida,/ morremos de morte igual,/ mesma morte Severina:/ [...] de fome um pouco por dia” fica claro que o problema da falta de alimento que atinge os moradores rurais hoje em dia já existe há muito tempo. A distribuição de terras se faz necessária para que famílias possam produzir nelas, tanto para alimentação como para subsistência.
Da mesma maneira que os problemas se repetem, a tendência a manutenção da propriedade dos latifundiários também se mostra igual. Mais adiante no texto, quando Severino se depara com outro homem carregando um defunto, o texto deixa claro qual foi a razão do assassinato da pessoa nos versos: “Ter um hectare de terra,/ irmão das almas,/ de pedra e areia lavada/ que cultivava”. O mesmo ocorre nos tempos atuais nos conflitos entre, de um lado, grupos que reivindicam parte de propriedades e levantam a bandeira da reforma agrária e, de outro, os donos dos grandes lotes de terra. Não é raro ouvir notícias de mortes desses ativistas nessas disputas. Um dos grandes problemas, nos dias de hoje, é que latifundiários também contam com o aparato do poder de polícia para, direta e/ou indiretamente, os ajudarem na manutenção de suas propriedades, e em muitos casos é a própria policia que acaba sendo responsável por fatalidades, resultadas do uso descomedido da coerção. A maior das incoerências nessas situações é que a Constituição Federal de 1988 garante a desapropriação do latifúndio improdutivo para finalidade pública e interesse social, e o que se vê é o uso do poder público para a manutenção de benefícios privados provenientes desses lotes de terra. Na época em que o texto foi escrito, também havia uma previsão legal para desapropriação de terras improdutivas, garantida no decreto de lei n° 3.665, de 21 de junho de 1941, e a realidade dos dois momentos ainda se mostram muito semelhantes.
Mais adiante, o texto aborda outro problema central da falta de terras para os trabalhadores rurais: a migração para as cidades e a consequente falta de trabalho. Em um diálogo Severino
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