Arte e Censura no Brasil por uma ótica do pensamento de Durkheim
Por: mfranca02 • 13/1/2018 • Trabalho acadêmico • 730 Palavras (3 Páginas) • 354 Visualizações
Arte e censura no Brasil por uma ótica do pensamento de Durkheim
Este estudo dirigido tem como objetivo refletir sobre a atual situação da arte no Brasil e a sua relação com a onda conservadora que assola o país, a partir do texto “A hipocrisia nossa de todo dia”, do escritor Luiz Ruffato. Utilizamos alguns pensamentos de Èmile Durkheim para analisar o contexto em questão, naquilo que se comunica com o propósito do trabalho.
Estamos vivenciando no Brasil uma crescente onda moralizante que tem cercado a expressão artística, julgando-a como incitadora da perversão sexual e do desrespeito a crenças e valores. A hipocrisia da sociedade, a mesma que considera o aborto um crime, mas aborta; que consome drogas, porém abomina a violência; que criminaliza a arte, contudo erotiza o corpo; impõe uma moralidade na cultural que vem se propagando há muitas gerações, atraindo seguidores em um solo fértil: o Brasil, um país conservador (e cada vez mais!). Pelo visto, estamos voltando à era da censura, contrariamente aos preceitos legais da democracia, que prevê a liberdade de expressão como um dos seus principais fundamentos.
Analisando o atual ativismo reacionário para com a arte brasileira, à luz do pensamento de Durkheim, especialmente quando ela aborda o tema da sexualidade, identificamos o conceito dos “fatos sociais”, que para o pensador, consiste no objeto central da sociologia. São as maneiras de ser, fazer, pensar, agir e sentir, exteriores ao indivíduo, compartilhadas coletivamente e dotadas de um poder de coerção. No nosso contexto temático específico, os fatos sociais se baseiam numa moral social e religiosa, assentada sobre hábitos, costumes e interesses histórico-culturais. Tal moral vem definindo regras e estabelecendo o que pode e o que não pode, o que é certo ou errado.
As ações destes grupos que se autoproclamam “guardiães da moralidade”, propagando tendências moralistas e um tanto hipócritas, no sentido do “faça o que eu digo, mas não faça o que faço” estão munidas de três características dos fatos sociais, abordadas por Durkheim em sua obra: a generalidade, uma vez que estes fatos sociais são coletivos (e não individuais) e alcançam a sociedade como um todo; a exterioridade, pois os padrões culturais que estão em evidência são exteriores aos indivíduos e já estão organizados, mesmo antes deles nascerem. Estes padrões são internalizados através do processo educativo e pela convivência em sociedade; e a coercitividade, identificada como a força com que estes padrões culturais são impostos, “obrigando” os indivíduos a segui-los. Durkheim menciona na sua obra Educação e Sociologia, que quando decidimos por não nos submetermos a estas regras, as forças morais reagem contra nós e, por serem superiores, é difícil que não sejamos vencidos. No caso específico da resignação de instituições mencionadas no texto de Luiz Ruffato, como o MASP (Museu de Arte de São Paulo), o Santander Cultural e o MAR (Museu de Arte do Rio), diante do discurso da intolerância artística proveniente de setores reacionários da sociedade, fica notório o poder da coerção.
Uma outra correlação do contexto deste trabalho com o pensamento de Durkheim nos remete às chamadas “representações coletivas”, que segundo ele, são espelhos dos fatos sociais e que, no nosso caso, estão sendo representados através das crenças morais/religiosas, ou possivelmente, também, por outros tipos de concepções escusas.
Utilizando-se de um outro conceito de Durkheim, constatamos que a realidade da arte censurada no Brasil também pode ser influenciada pela característica orgânica da atual sociedade, mais capitalista e industrializada e, consequentemente, mais complexa e sujeita a uma maior gama de aparatos de controle. A disseminação de discursos reacionários, com base em padrões estabelecidos da moral e bons costumes, tomando-os como único e verdadeiro, é amplamente facilitada nos dias atuais. Os recursos da tecnologia e redes sociais propagam as notícias, muitas vezes, munidas de ódio e repúdio aos comentários daqueles que conseguem discernir o quanto os corpos nus e a sexualidade sempre estiveram presentes em nossas vidas.
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