TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

INEFICIÊNCIA DO SISTEMA PUNITIVO NO COMBATE AO TRÁFICO

Por:   •  7/11/2018  •  Artigo  •  6.562 Palavras (27 Páginas)  •  318 Visualizações

Página 1 de 27

INEFICIÊNCIA DO SISTEMA PUNITIVO NO COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS

Acadêmica Edyanne Nascimento Silva

Mr. Fernando José Souza Filho

Sumário: 1. Introdução; 2. Sistema Punitivo; 3. Tráfico de Drogas, dogmática e envolvidos; 4.  Ineficiência do Sistema Punitivo; 5. Conclusão; Referências.

RESUMO

O sistema punitivo atual encontra- se com inúmeras deficiências no combate ao tráfico de drogas, que invés de solucionar a questão da violência a agrava, contribuindo ainda mais para a superlotação carcerária.  É ineficiente por não adotar medidas sensatas e inteligentes, preferindo manter o sistema que só caminha para retrocesso institucional, fugindo assim da concretização dos direitos humanos.

PALAVRAS CHAVES: Sistema Punitivo. Tráfico de Drogas. Sistema Carcerário. Direitos Humanos. Lei de Drogas.

  1.  Introdução:

O presente trabalho é dividido em três apontamentos, o primeiro tópico é voltado para esclarecer o atual sistema punitivo, aspectos institucionais deficitários.  Sistema este que não está voltado para combater de fato a criminalidade, por sinal caminha  mais para um modelo de aniquilação de classes desfavorecidas, de superlotação das unidades prisionais, e ainda contribui para o aumento do crime organizado e violação de direitos inerentes ao ser humano.  Neste mesmo tópico será demonstrado o papel de cada poder do Estado nesse negativo modelo de sistema punitivo, que vai de elaboração de normas severas e desnecessárias, falta de políticas à seleção dos indivíduos na aplicação das penas.

O segundo tema abordado corresponde ao Tráfico de Drogas, conceito, a parte dogmática, aspectos sobre a Lei n. 11.343/2006, bem como os envolvidos.  Aborda também a crítica ao retrocesso da Lei de Drogas no que tange ao aumento da pena em relação a legislação anterior, aponta ainda a falta de precisão para determinar no caso concreto quem trafica e quem é apenas o usuário. Cumpre demonstrar, os principais atingidos pelo tráfico, que são os jovens de periferia, prontamente rotulados.  Essa parte do artigo também discute a participação das mulheres no tráfico de drogas e fatores que a induzem as mesmas praticarem. Nesse contexto, tráfico privilegiado não poderia deixar de ser relatado.

    O terceiro apontamento é a questão da ineficiência do sistema punitivo, é o tema que intitula o trabalho. Trata das consequências de manter um sistema punitivo ultrapassado, demonstrando dessa forma, as falhas e buscando soluções.

2)  Sistema Punitivo:

        O sistema punitivo atual, está longe de combater a criminalidade, a violência e muito menos o tráfico de drogas. Pelo contrário, causa efeitos extremamente negativos à sociedade: aniquilação de classes desfavorecidas, superlotação das unidades prisionais, contribui para aumento do crime organizado e violação de direitos inerentes ao ser humano. É ineficaz desde a elaboração das normas incriminadoras por ”representantes” do Poder legislativo até o cumprimento da sanção, pois se fosse eficiente o tráfico não seria comandado por facções em presídios.

        A autora Vera Regina Pereira de Andrade conceitua sistema penal de modo que este sistema se adequa a realidade social, não quer dizer que seja o mais justo e coerente, mas sim que atenda parcela da população por interesses políticos, econômicos:

“Por sistema penal entende-se, portanto, neste contexto, a totalidade das instituições que operacionalizam o controle penal( Parlamento, Polícia, Ministério Público, Justiça, Prisão) a totalidade das Leis, teorias e categorias cognitivas (Direitos+ ciências e políticas criminais) que programam e legitimam, ideologicamente, a sua atuação , e seus vínculos com a mecânica de controle social global ( mídia, escola, Universidade), na construção e reprodução da cultura e do senso comum punitivo que se enraiza, muito fortalecidamente, dentro de cada um de nós, na forma de microssistemas penais.”

         A violência é um dos maiores problemas sociais, promove insegurança, cultura do medo, e revolta. A população pugna pela segurança e pela paz, porém implicitamente nesse apelo vem o pleito de “vingança”. O desejo de punição acaba por desestabilizar o sistema de controle penal, ele passa a ser intensamente repressivo, e quanto mais árduo for, maior o sentimento de satisfação.  Insta salientar, que a forma de punição é desproporcional e seletiva, não promove a justiça penal. É gasto público com medidas repressivas ineficazes, sem falar que é um sistema moldado pelo interesse da elite.

        O autor da obra prisões da miséria Loïc Wacquant, já mencionava que o  sistema punitivo era mais preocupado em conter a massa proletarizada negra, principalmente aquela em desacordo com o capitalismo cada vez mais firme. A classe desqualificada que se recusava ao trabalho mal remunerado, e consequentemente buscava meios alternativos e informais de obtenção de renda, o mais típico era o tráfico de drogas, foram reprimidas por uma política criminal arbitrária e preocupada com finalidades econômicas. O resultado da prática foi abarrotamento de prisões, descriminação cada vez mais intensa de pobres e negros, crime de pouca relevância punidos sem a presença do princípio da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pessoa humana.

  Há divergência de tratamento dos autores de práticas criminais, os  delinquentes que constituem a população pobre passa geralmente pela seleção da polícia arbitrária, existem até estereótipos que embasam essa atividade policial. A discriminação é acompanhada muitas vezes por violência, processo incompatível com a figura do Estado Democrático e com os Direitos Humanos.  O devido processo legal não é garantido, pode-se até dizer que a “punição” já é aplicada antes do indivíduo ser levado a conhecimento do Poder Judiciário.

No Brasil o Estado que era para ser “Providência” perde espaço para um Estado “Punitivo”, no qual a assistência social é substituída pela atuação policial. O Estado opta por medidas de efeitos imediatos, de curto prazo, sem dar atenção ao combate as causas, por exemplo, desemprego, educação precária. É um Estado punitivo construído para miseráveis, insubordinados a ordem econômica, para negros precisamente, pois sua maioria integra a classe mais baixa.

A política criminal influenciada pelo neoliberalismo introduzida nos Estados Unidos repercutiu em diversos países, inclusive na Europa, onde se propagaram ideias neoconservadoras veiculadas por vários instrumentos midiáticos.  A mídia teve papel determinante na construção de um Estado intolerante e repressivo. O slogan da “ tolerância zero ” fora disseminado progressivamente, construindo um senso comum que tinha como melhor solução agravar penas, vigiar populações que encontrava-se em territórios mais periféricos, fortalecendo, dessa forma, a  discriminação e segregação. O que se pode observar é parte da população adepta ao neoliberalismo era conformada com o modelo penal moldado pelo sistema econômico extremamente repressivo, enquanto interesses da minoria sequer eram observados, verificando assim, que as questões econômicas se sobrepõem aos valores sociais.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (43.3 Kb)   pdf (274.3 Kb)   docx (30.6 Kb)  
Continuar por mais 26 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com