O ESPINHO E A ROSA
Por: Jucyana • 14/4/2020 • Artigo • 2.426 Palavras (10 Páginas) • 146 Visualizações
O ESPINHO E A ROSA
A rosa oferece perfume sobre a garra do espinho e a alvorada aguarda, generosa, que a noite cesse para renovar-se diariamente, em festa de amor e luz. (Poema: Alegria – Irma de Castro Rocha (Meimei) psicografada por Chico Xavier
PERSONAGENS:
Oliveira, marido.
Rosa, esposa.
ÉPOCA:
presente
LUGAR DA CENA:
Fortaleza, Ceará, Brasil.
PRIMEIRO ATO
Corredor que liga o estacionamento do prédio ao apartamento. Apartamento típico de família de classe média. Apartamento com sala de estar, mesa e outros móveis e apetrechos próprios. Oliveira entra pela esquerda (referência plateia), porta principal de entrada do apartamento. É noite.
CENA I
Oliveira, em movimento (sentido estacionamento-apartamento) falando ao telefone. Casa aparentemente vazia.
OLIVEIRA (ao telefone): alô, opa!? diga lá meu chefe, tudo bem com o senhor? Olha só, resolvi aqueles dois problemas: da secretária e da vaga de gerente de vendas. (Euforia com sentimento de revolta) a secretária queria folgar a semana toda por conta do filho que está doente! Já pensou? Trabalho é trabalho! Quer cuidar do filho, peça pra sair! Simples! Chefe, mulher no trabalho é só pra embelezar o ambiente, fazer café e limpar o chão! E de vez enquando né... você sabe... Agora, pra cima de mim? História de cuidar de filho? E detalhe, ela tem um de cada pai. O senhor não sabia? Mora sozinha, rebola os meninos na casa da vizinha e vem pra cá... graças a Deus que nós aceitamos ela aqui, senão ela tava na prostituição. (partícipe da conversa telefone: e o que foi resolvido, você liberou ou não?) eu não liberei e nem libero! Se faltar eu desconto no salário e se bobear eu demito.
Com relação a vaga de gerente apareceram dois candidatos. Um rapaz e uma moça. A moça possuía um bom currículo com experiência inclusive no exterior. Poliglota, “MBA” em vendas, muito qualificada. O rapaz estava ingressando agora no mercado de trabalho, tinha apenas o ensino médio. (pessoa no telefone: e aí quem você escolheu?)
Lógico que escolhi o rapaz...
Chefe, mulher não dá certo. Ela engravida, as vezes tem que faltar serviço por conta de filho, marido... olha definitivamente contratar mulher é uma má opção. Tudo bem. (conversa interrompida, notou que o apartamento está vazio) - Falamos amanhã então. Abração.
OLIVEIRA: Rosa?! Rosa?! Oh Rosa... valha, saiu e nem avisou... estou muito sem moral mesmo viu... Rosa!!! (voz um pouco mais alta). Estranho, sempre quando ela sai, me pede autorização. Rosa é engraçada. Faz nada sem minha autorização. Essa eu doutrinei mesmo. O problema é que de vez enquando ela “dá defeito”, agora veio com uma invenção de querer trabalhar, fazer faculdade... eu já disse que não, mas ela insiste. Rosa é do tipo de mulher Amélia... deveria dar graças a Deus de ter essa vida que eu proporciono, aqui ela tem tudo. Só precisa cuidar da casa, fazer a comida e cuidar de mim. Só isso. Seguir minhas regras também é importante (riso sarcástico). (enquanto aguarda, senta e toma alguma bebida alcoólica para relaxar – finalidade de ficar embriagado)
CENA 2
Entrada de Rosa. Em movimento (caminhar apressado, silencioso, tensa) (parar no meio do corredor de acesso ao apartamento)
ROSA: Eita, se não fosse esse trânsito. Eu acho que ele já chegou. Meu Deus do céu, o que vou fazer? O que eu digo? (expressão de tensão) nem falei nada... (passos silenciosos – olhar para dentro do apartamento – parada) Ontem recebi uma ligação do escritório, pedindo para que eu fosse para uma entrevista hoje. Eu fui escondida dele. Certamente ele não deixaria ir. Mas eu quero me libertar disso tudo, eu até gosto dele, gosto daqui, mas... (olhando para plateia – certa interação) quero conquistar meu dinheiro, ganhar meu espaço, terminar uma faculdade. Eu sonho com isso todo dia. Cansei dessa vida. (continue andando em direção ao apartamento) (Rosa entra no apartamento)
OLIVEIRA: ora, ora, (levanta de forma ativa indo em direção a Rosa) onde você estava? Pirou? (acusação-indignação) onde já se viu, sair sem me pedir... você nunca fez isso. Ah, já sei o que é... são essas amizades aí... essas meninas aí que você convive nas redes sociais são pessoas sem credo, bando de maluquinhas, bando de mulher da vida, cada hora é um macho diferente e se bobear elas namoram entre sí.
ROSA: por favor, não fale assim das meninas... são pessoas boas, são da igreja...
OLIVEIRA: igreja? (risada – delírios – gestos obscenos – ver público)
ROSA: eu... (gaguejando – nervosa) hoje eu fui em uma entrevista de emprego
OLIVEIRA: emprego de que? Aonde? De garçonete? De zeladora? Limpar chão, cozinhar? Ah.. já sei, corte e costura... acertei? (sarcástico)
ROSA: não (olhar cabisbaixo) era uma vaga de secretária em uma empresa de tecnologia. Funciona dentro de um shopping e eles vão me ligar a qualquer momento... (telefone toca) (tenta disfarçar)
OLIVEIRA: quem tá te ligando? Uma hora dessas? Bora... passa o telefone. Anda, me dê esse telefone (fala raivosa e pausadamente).
Rosa passa o telefone...
OLIVEIRA: Alô?! Quem?! ROSA? Ah, sei quem é! Sim eu sei quem é? De onde fala? (é sobre a vaga de secretária, gostaria de comunicar que vamos contratá-la, começa amanhã) sei, amanhã né? (olha pra Rosa com olhar de felicidade, fazendo sinal de positivo) olha só, não vai rolar! Rosa morreu. A Rosa morreu. Isso mesmo. É... morreu atropelada por um ônibus, mas a bicha era tão ruim que precisou ser atropelada por um caminhão para poder morrer mais tranquila... (desliga o telefone e joga no chão). Onde já se viu (se dirigindo até Rosa) o que você quer? Outro macho? Será isso que você quer? (puxar pelo braço – mata-leão) eu te mato. Se você aprontar eu te mato. Faz o seguinte: tenta! Vai, vai atrás... vou matar você aos poucos, vou cortar seu cabelo, arrancar suas mãos, é isso que você quer?
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