Origens Históricas da Homofobia
Por: Marcelo Reis • 6/6/2018 • Ensaio • 1.349 Palavras (6 Páginas) • 150 Visualizações
O termo homofobia foi utilizado pela primeira vez pelo psicólogo George Weinberg, em 1971 no seu livro "Society and the Healthy Homosexual", derivando de dois radicais gregos: homo (igual) e phobia (medo), significando uma aversão ou medo irracional à prática homossexual. Porém, o fenômeno que o neologismo se refere é bastante recente em termos históricos, como será demonstrado a seguir.
A homossexualidade acompanha a humanidade por toda sua trajetória, havendo registro desse comportamento desde a história antiga. Nos povos mais primitivos, a história demonstra que a prática homossexual era encarada com total naturalidade.
São inúmeros os relatos de que os silvícolas que habitam as terras onde hoje se encontram o Brasil, tinham relações afetivas com companheiros do mesmo sexo, algo que de tão cotidiano para os indígenas teria chocado os portugueses.
Na Grécia Antiga, as relações homossexuais tinham até mesmo um caráter pedagógico, por meio delas o mestre compartilhava com seu jovem aprendiz os mais variados ensinamentos, visando assim prepará-lo para a vida social e política na sociedade grega, além disso, oferecia para pupilo um novo estágio da sua vida sexual. A pederastia, como era chamada a prática, alcançou um papel tão importante que a sexualidade heterossexual foi encarada por muitos como inferior e que somente teria papel de perpetuação da espécie.
Na Roma antiga também pode ser observado o fenômeno, assim como na Suméria, Mesopotâmica, Índia. Fatos comprovados por registros encontrados nas mais variadas fontes históricas, como o Código de Hamurabi e documentos egípcios. E em todas essas sociedades a homossexualidade fazia parte do dia a dia da sociedade e teria um papel relevante na estrutura de cada um desses povos.
Mas então quando a homo afetividade começou a ser encarada como uma característica humana negativa? A resposta para essa mudança enorme de paradigmas pode ser encontrada com o início da Era cristã, onde a Igreja Apostólica Romana usou de toda sua influência social para determinar que a moralidade estaria intimamente relacionada com a conduta sexual, esta teria que somente ter fins reprodutivos, qualquer ontem seria uma transgressão a ordem natural do mundo.
A repressão nasceu da interpretação e a teologia construída a partir dos textos bíblicos, fontes da crença cristã. Na mitologia em questão, o homem teria sido criado a imagem e semelhança de Yeshua, o deus judaico-cristão, entretanto, o homem teria sido corrompido pelo pecado original, partindo desse pressuposto o ser humano deveria construir uma vida terrena que o reaproximasse do criador. A vida sexual teria um papel chave nessa empreitada, visto que os prazeres carnais relacionados ao sexo seriam um obstáculo à elevação espiritual do cristão.
Além desse fator, ainda há as passagens bíblicas que, conforme a interpretação cristã, condenam diretamente a prática homossexual, a mais conhecida é o trecho relatado no livro de Gênesis, onde a fúria de Deus contra duas cidades que praticavam "perversões sexuais" e que iriam contra a ordem natural, resultou na sua destruição e de seus habitantes. Outras passagens bíblicas utilizadas, que tese se refeririam diretamente ou indiretamente à prática, como justificava para a perseguição foram: Gênesis 19:5-7, Levítico 18:22, Romanos 1:21-27, Juízes 19:22-23, 1 Coríntios 6:9-11, Gálatas 5:24-25, Efésios 2:3-5, Romanos 6:11-14, Gálatas 5:16-17.
A repressão religiosa contra a homossexualidade cresceu tanto que chegou a ser institucionalizada na forma da Santa Inquisição, onde eram perseguidos, julgados e condenados homossexuais assim como qualquer outro indivíduo acusado de praticar atos heréticos. O Tribunal surgiu entre os séculos XIII e XIV, criado pelo Papa Gregório IX.
Com grande influência do Positivismo, a humanidade passou por uma transição em que a religiosidade foi gradualmente substituída por uma visão mais racional dos fenômenos e características humanas, contudo em primeiro momento essa novidade não trouxe benefícios para a comunidade homossexual, pois mesmo muitos países adotando a descriminalização, surgiu o Movimento Higienista além de inúmeras pseudociências que tinham como objetivo instaurar o pensamento de que a prática sexual deveria ser atribuída a uma patologia atrelada à transtornos psiquiátricos e/ou biológicos.
O Movimento Higienista ascendeu no século XIX, pregando sobre certas “limpezas” que seriam necessárias para alcançar o progresso. A homossexualidade para participantes do movimento, seria um vetor da disseminação de doenças, além de atentar contra a boa moral e costumes.
Para entender as ações do Movimento Higienista contra o “homossexualismo”, como era chamado por seus adeptos, é preciso entender o contexto em que várias pseudociências surgiram dando o aspecto de patologia ao comportamento homoafetivo. Esse emersão é referida pelo filósofo francês Foucault como a scientia sexualis, algo fomentado pela burguesia da época instaurando pesquisas sobre a sexualidade. O Estado então toma as rédeas da vida humana em sociedade, buscando reprimir comportamentos sexuais que julga que não são úteis. Dessa maneira, a homossexualidade ganha uma significação não mais de somente uma perversão moral ou pecado, mas agora também de um desvio psíquico e/ou biológico.
Em 1870, em plena Belle Époque, em produção do médico Westphal é registrado o primeiro artigo de caráter científico em que há a rotulação da relação entre duas pessoas do mesmo sexo como uma patologia, se referindo a mesma como “sensações sexuais contrárias”.
Desse ponto de partida nasceram outros ditos estudos científicos sobre as relações entre iguais, foram disseminadas “curas” que iam desde terapias de choques convulsivos, lobotomia até terapias por aversão. Muitos outros homossexuais foram internados em manicômios, com a justificativa de se deter o avanço da doença e proteger a honra da família, além de aplicar o tratamento devido.
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