TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Relação do Controlo Inibitório (diminuído) na Adolescência e o Consumo de Álcool em Jovens Adultos

Por:   •  22/10/2019  •  Monografia  •  3.512 Palavras (15 Páginas)  •  451 Visualizações

Página 1 de 15

Relação do Controlo Inibitório (diminuído) na Adolescência e o Consumo de Álcool em Jovens Adultos.

Marina Neida Soares nº 21300178

Sílvia Correia nº 21402621

Turma: 2N1

Nota de Autor:

O trabalho que se apresenta está redigido de acordo com o novo Acordo Ortográfico e enquadra-se no âmbito da avaliação contínua para a unidade curricular do 2º ano – Laboratório de Competências Pedagógicas, ministrada pela Prof.ª Bárbara Nazaré, no ano letivo 2015/2016, 1º ciclo do Curso de Psicologia conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. 

Introdução

A relação entre o consumo de álcool e o controlo inibitório é uma temática que tem sido investigada sob várias perspetivas. Resultados apontam para que o controlo inibitório diminuído possa ser tanto a causa quanto a consequência do uso excessivo de álcool (López-Caneda, Holguín, Cadaveira, Corral, & Doallo, 2013), sustentados no debate sobre a influência do consumo de álcool na tomada de decisão associada; enquanto alguns autores consideram os prejuízos na tomada de decisão como decorrentes de danos neurológicos, para outros os défices são anteriores ao consumo de álcool e conduzem a esse comportamento (Bertagnolli, Kristensen, & Bakos, 2014). As alterações cognitivas estão vinculadas a lesões do encéfalo e ocorrem por diversos motivos, tais como o uso de substâncias químicas, e.g. álcool, o qual pode influenciar processos atencionais e alterar zonas envolvidas no funcionamento executivo, principalmente na decisão, julgamento e solução de problemas (Avelino da Silva, Alves de Lucena, Silva, Soares, & Pereira de Lucena, 2014). Uma vez que o controlo inibitório e a flexibilidade cognitiva estão entre as funções nucleares no desempenho de outras atividades mentais mais complexas (Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes, & Leite, 2008, in Avelino da Silva et al., 2014), estudos sugerem que a região frontal do cérebro é particularmente sensível ao alcoolismo, o que pode sugerir que a ingestão de bebidas alcoólicas, de forma aguda ou crónica, pode alterar o desempenho neurocognitivo em termos de processos neuropsicológicos básicos como memória, atenção e funções executivas (Avelino da Silva et al., 2014). Os comportamentos impulsivos e a falta de controlo inibitório podem ocorrer devido ao desenvolvimento incompleto do sistema cerebral (Giedd et al., 1999; Sowell et al., 1999; Sowell et al., 2004); a competência do controlo de impulsos está associada à área pré-frontal do cérebro, a última a desenvolver-se no sistema nervoso, com a maturação completa depois da adolescência, já no início da idade adulta (Galvan et al., 2006; Hare et al., 2008).

Assim, se esta questão levanta problemas em sujeitos adultos, na adolescência - altura do desenvolvimento humano em que se iniciam os hábitos de consumo de álcool – associam-se esses comportamentos ao controlo inibitório diminuído ou imaturo, porque funções inibidoras reduzidas podem predispor para o consumo indevido de álcool (López-Caneda et al., 2013). Avaliando as mudanças no desenvolvimento do cérebro e função inibitória que ocorrem durante a adolescência e juventude, bem como a relação entre o controlo inibitório e o consumo de álcool nesta idade precoce, a adolescência pode ser um período particularmente vulnerável; a imaturidade inibitória típica nesta fase pode contribuir para a incapacidade em controlar a apetência ou o consumo de álcool ou, por outro lado, este consumo per se pode alterar ou interromper o desenvolvimento adequado do controlo inibitório, conduzindo a uma capacidade reduzida para regular a ingestão de álcool. 

Os comportamentos de risco na adolescência estão relacionados com a interação de dois sistemas neurobiológicos: o sistema sócio emocional (área límbica e para-límbica do cérebro) e o sistema de controlo cognitivo (Steinberg, 2008). O período da adolescência e puberdade é marcado por atos impulsivos – com manifesta ausência do controlo inibitório (Shirtcliff et al., 2009;Crone, 2009) -, frequentemente relacionados com o uso ou abuso de substâncias (Casey & Jones, 2010; Gullo & Dawe, 2008; Verdejo-Garcia, Lawrence, & Clark 2008), entre as quais o álcool. Na verdade, o álcool é muito procurado pelos adolescentes neste período de desenvolvimento que representa maturação física, experiência de novas situações, aumento da interação social, procura de aprovação e desenvolvimento cerebral (Casey et al., 2008; Dahl & Gunner, 2009). O controlo inibitório, como adaptação do comportamento quando deparado com conflito cognitivo, interferência ou competição (Yücel et al., 2012), é essencial na regulação, envolvendo recursos para adiar a gratificação, inibir o comportamento impulsivo e organizar atividades (Aron et al., 2007; Yücel et al., 2012); a impulsividade pode servir de ajustamento às situações imprevisíveis mas também pode revelar predisposição ou resposta ao consumo de substâncias psicoativas (Spillane, Smith, & Kahler, 2010).

Pesquisas apontam para um início cada vez mais precoce do consumo de bebidas alcoólicas na vida dos jovens, sendo mesmo a substância psicoativa não só mais consumida como também aquela que é experimentada mais cedo - por volta dos 11 anos (De Almeida et al., 2014) ou mesmo antes, com identificação de experiências a partir dos 5 anos de idade (Tavares, Béria, & Lima, 2001) - e registo de elevadas percentagens de adolescentes com 15 anos que já consumiram álcool alguma vez (Anjos et al., 2012; Tavares, Béria, & Lima, 2001). Os consumos fazem-se com os amigos, em contextos festivos, aos fins-de-semana e preferencialmente à noite, para obter alegria e diversão (López-Caneda et al., 2013). Os comportamentos característicos desta fase incluem altos níveis de propensão para o risco, exploração, novidade, procura de sensações e interação; o desenvolvimento cortical frontal nesta fase é responsável pela definição de prioridades, controle de impulsos e avaliação de recompensas a curto e longo prazo (de onde sobressai a tendência para o consumo excessivo de álcool e experiências com outras drogas [Crews, He, & Hodge, 2007]). A literatura associa ainda expetativas sobre o uso de álcool com crenças individuais sobre os efeitos ou consequências do uso desta substância (Brown, Goldman, Inn, & Anderson, 1980), crenças positivas ou negativas - dependendo da previsão de consequências desejáveis ou não -, expetativas que parecem ser desenvolvidas a partir de experiências e aprendizagem social (Agrawal et al., 2008). Por outro lado, o consumo de álcool pode estar relacionado com consequências familiares negativas, como maus-tratos, abandono e abusos, com impactos negativos a nível social, como desinibição nas respostas sexuais e aumento de relações sexuais não protegidas (Ribeiro, 2010), aumento da criminalidade, de atos violentos e do desemprego (Aguiar, 2010). Na prática, o álcool pode servir para atingir determinadas metas internas ou externas desejadas, tal como pode associar o consumo à realização de necessidades ou funções preenchidas pelo uso da substância (Agrawal et al., 2008).

...

Baixar como (para membros premium)  txt (24.9 Kb)   pdf (168 Kb)   docx (21.8 Kb)  
Continuar por mais 14 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com