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Trabalho Escravo

Por:   •  18/8/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.396 Palavras (10 Páginas)  •  303 Visualizações

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[1]VISÃO AMADIANA DA RELAÇÃO DE TRABALHO NAS TERRAS CACAUEIRAS DO SUL DA BAHIA

Edmar de Assis Santos*

Fabiano Messias Cancela*

        

RESUMO

O objetivo do presente estudo é apresentaras condições em que se encontravam os trabalhadores contratados para trabalhar na microrregião cacaueira (Ilhéus-Itabuna), em meados do século XX. Para tanto, utiliza como seu objeto de análise o romance do grapiúna Jorge Amado, Terras do Sem fim. Objetiva-se analisar aqui o referido romance, buscando-se explicar, por meio da sua narrativa, as situações pertinentes às precariedades em que se encontravam os trabalhadores rurais daquela região, demonstrando a exploração do seu trabalho, fazendo uma analogia à escravidão, expondo os contrastes sociais e econômicos entre os coronéis e agregados, que vieram para essas terras em busca de melhores condições de vida.  

Palavras-chave: Trabalhadores. Exploração. Contraste Social. Escravidão. Melhores Condições de Vida.

[a]

INTRODUÇÃO[b]

[c]

Num primeiro plano, numa análise realizada na obra do grapiúna Jorge Amado, Terras do Sem Fim, através de diversos personagens, os quais o Autor, narrara individualmente suas trajetórias, fica evidenciada a existência de diversos contrastes, que são ali representados a partir do gênero, da raça, da sua classe social, dentre outras formas de representação.

O livro Terras do sem fim, escrito em 1943, retrata as lutas dos “coronéis” pelo domínio das plantações de cacau da microrregião cacaueira da Bahia, situada nos municípios de Ilhéus e Itabuna - esta última, tratada na referida obra por Tabocas. Uma composição literária em que se relacionam latifundiários, jagunços, políticos, prostitutas, religiosos e lavradores, e os vários acontecimentos demonstram a formação cultural de um povo a partir do comportamento social de seus personagens. Tais personagens e as histórias construídas em torno da sua realidade trazem à tona questões referentes à desigualdade e à desvalorização da culturado homem do campo, protagonista de um processo histórico de [d]violenta desumanização de suas condições de vida, atrelada a uma realidade de injustiça e opressão’, Caldart (2004).[e]

CAPÍTULO I[f]

Os trabalhadores chegavam aos montes à cidade de Ilhéus, nos navios que ancoravam no porto, vindos de diversas regiões do país, mas na sua grande maioria vinda das regiões Norte e Nordeste,atraídos pela promessa de uma terra fértil e próspera, onde o dinheiro era fácil e abundante,buscandoa ascensão social, a promessa de conquistarem a tão sonhada “riqueza” que ouviram falar que existia na região cacaueira. "Então era a riqueza tanto dinheiro que um homem não podia gastar, casa na cidade, charutos, botinas rangedeiras [...]." (AMADO, 2006, p.07).

Ao partirem em busca do sucesso, os trabalhadores tiveram que se desenraizar. Então, o tom do lamento refere-se também às despedidas do espaço conhecido: "outras terras ficaram distantes, visões de outros mares e de outras praias ou de um agreste sertão batido pela seca [...]." (p.26).

E se embrenharam mata a dentro, desbravando o desconhecido, temendo os perigos existentes na mata, de que ouviram falar no porto: - as cobras, as onças, a tal febre que derrubava até os macacos, as tocaias. Mas o que seriam esses perigos diante de tanta riqueza?

Vejamos:

Da mata, do seu mistério, vinha o medo para o coração dos homens. Quando eles chegaram, numa tarde, através dos atoleiros e dos rios, abrindo picadas, e se defrontaram com a floresta virgem, ficaram paralisados pelo medo. A noite vinha chegando e trazia nuvens negras com ela, chuvas pesadas de junho. Pela primeira vez o grito dos corujões foi, nesta noite, um grito agoureiro de desgraça. Ressoou com voz estranha pela mata, acordou os animais, silvaram as cobras, miaram as onças nos seus ninhos escondidos, morreram andorinhas nos galhos, os macacos fugiram. E, com a tempestade que desabou, as assombrações espertaram na mata. Em verdade teriam elas chegado com os homens, na rabada da sua comitiva, junto com os machados e as foices, ou já estariam elas habitando na mata desde o início dos tempos? Naquela noite despertaram e eram o lobisomem e a caipora, a mula-de-padre e o boitatá. (AMADO, 2006, p. 17)

[g]

Levaram horas, dias e noites, para chegar até ali. Atravessaram rios, picadas quase intransitáveis, fizeram caminhos, calçaram atoleiros, um foi mordido de cobra e ficou enterrado ao lado da estrada recém-aberta.  Uma cruz tosca, o barro mais alto, era tudo que lembrava o cearense que havia caído. Não puseram o seu nome, não havia com que escrever. Naquele caminho da terra do cacau aquela foi a primeira cruz das muitas que depois iriam ladear as estradas, lembrando homens caídos na conquista da terra.  Outro se arrastou com febre, mordido por aquela febre que matava ate macacos. (AMADO, 2006, p. 18,19)

[h]

Ademais, aos que conseguiam chegar às fazendas de cacau, só restava o árduo trabalho nas lavouras. As acomodações destinadas aos trabalhadores eram precárias. Ao descrever as moradias destinadas aos patrões e aos trabalhadores, o autor aponta para uma dicotomia que demonstra a superioridade de uma classe sobre a outra. Os coronéis moravam em casas espaçosas, confortáveis, comparadas às casas-grandes da época da escravidão, reproduzindo seu poder, sua imponência e de sua família sobre os trabalhadores. No outro extremo, estavam os trabalhadores vivendo em regime de semiescravidão, os quais habitavam casebres desprovidos do conforto, um espaço indigno para quem era a ferramenta indispensável para a obtenção do lucro para os patrões. Conforme retirado da obra: [...] “a casa não tinha mais que uma peça, as paredes de barro, o teto de zinco, o chão de terra. Ali era sala, quarto e cozinha, a latrina era o campo, as roças, a mata." [...] (p. 45). As casas dos patrões muitas vezes eram ocupadas também por trabalhadores, entretanto, isso se justifica por uma situação de favorecimento, de apadrinhamento, enfim, uma generosidade que não visava a caridadee sim, a humilhação do trabalhador.

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