À espera de um milagre

Resenha

À espera de um milagre

     John Coffey, negro, gigante, despido totalmente dos padrões de beleza da sociedade americana dos anos 1930. Estereótipo perfeito para se encaixar o título de criminoso. Ainda mais ao ser encontrado com os corpos de duas crianças brancas. Não há dúvidas: ele é um delinqüente.

     O oficial Paul Edgecombe trabalha no corredor da morte do presídio Cold Mountain, em uma ala conhecida como “Milha Verde”, onde recebe simultaneamente o suposto assassino e estuprador John Coffey e o novato oficial subordinado Percy Wetmore, jovem de boa aparência e com enorme influência política por ser parente de funcionários do alto escalão no serviço público.

     No desenrolar da história, o diretor Frank Darabont apresenta o arrependimento ineficaz dos condenados à pena de morte, demonstrando o quanto este sistema pode ser injusto. O filme apresenta cenas fortes de execução na cadeira elétrica, quando o bem nascido Percy Wetmore age com arrogância, ódio e vingança, causando sofrimento de Dell, um condenado com quem trocou insultos.

     Com uma dose sob medida de ficção, o diretor apresenta milagres incríveis realizados através do amor, da compaixão e da simplicidade de John Coffey, milagres estes que revelam a inocência deste condenado, mas não impedem sua condenação e execução.

     É dentro deste contexto que o diretor apresenta o enredo sensacional do filme “À espera de um milagre”. Nesta emocionante história entre os guardas, suas famílias e os prisioneiros, o diretor traz à tona questões críticas sobre o senso de humanidade praticado pela sociedade, que privilegia mais o “ter” do que o “ser”, capaz de criminalizar um homem apenas pelo seu estereótipo, assim como permitir que verdadeiros criminosos estejam fantasiados de “benfeitores sociais”, escondendo hipocrisia e falsa moralidade atrás das cortinas da posição social e do poder financeiro.