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A Crítica de Joan Robinson à Utilidade Marginal

Por:   •  14/3/2018  •  Artigo  •  2.005 Palavras (9 Páginas)  •  792 Visualizações

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A crítica de Joan Robinson à Utilidade Marginal

Joan Robinson (1903-1983) foi uma economista originalmente pós-keynesiana de nacionalidade britânica, e tida como a maior economista do século XX. Robinson também é uma das economistas que mais me influenciam dentro da minha concepção econômica e modo de enxergar os fenômenos dentro dessa seara, e uma das figuras femininas que mais admiro (junto com Rosa Luxemburgo, Patricia Churchland e outras) e considero como um exemplo de profissional, economista e pessoa.

Seus trabalhos abrangem desde a concepção e introdução do conceito de “monopsônio“, as críticas mais devastadoras a economia neoclássica, e a expansão do trabalho de grandes economistas como John Maynard Keynes, Michal Kalecki, Piero Sraffa e Pierangelo Garegnani, tendo esses dois últimos, ficado do seu lado durante a polêmica Controvérsia de Cambridge ou Controvérsia do Capital, acontecimento esse temido pelos economistas neoclássicos.

Joan Robinson também foi por muito tempo, crítica e admiradora de Karl Marx ao mesmo tempo. Ela era uma pós-keynesiana por natureza, com influências dos grandes economistas neoricardianos como Sraffa. Encontramos trabalhos grandes de Joan Robinson sobre Marx, como em An Essay on Marxian Economics (1966), onde apesar de elogiar e demonstrar o valor de Marx, o critica em alguns pontos concernentes a sua Teoria do Valor-Trabalho.

No entanto, podemos traçar uma regressão no pensamento de Joan Robinson, anos mais tarde, quando ela começa a se tornar uma marxista (da vertente do assim chamado neomarxian economics), principalmente no seu trabalho “Open letter from a Keynesian to a Marxist” (1953), onde ela já estava no meio do caminho para a sua transformação, e em 1960 e 1970 quando ela lança vários trabalhos entusiastas e simpáticos a experiência socialista na China de Mao-Tsé Tung, como em “The Cultural Revolution in China” (1969). Robinson tinha uma simpatia e compaixão muito grande pela população mais pobre do Terceiro Mundo. Ela se tornou uma forte entusiasta do Regime Maoísta a partir desta época, tendo Robert Sollow inclusive mencionado em seu “The Last 50 Years in Growth Theory and The Next 10” (2007) que Joan Robinson, que sempre foi reconhecida por pessoas próximas e seus alunos como uma pessoa confiante de personalidade incisiva, ficava ‘vermelha de vergonha’ e desajeitada, ao mencionar o nome do ‘Presidente Mao-Tsé Tung’.

De seus vários trabalhos (dos quais eu tentei instigar um pouco a curiosidade de vocês ao citar outras curiosidades acerca da vida dela e do seu trabalho), eu gostaria de dividir aqui uma crítica interessante à Teoria da Utilidade Marginal, base da Economia Neoclássica. No seu “Economic Philosophy” (1962), Joan Robinson realiza uma crítica inusitada e surpreendente à economia marginalista. A crítica pode ser encontrada e explicada aqui, na qual traduzirei e colocarei algumas partes abaixo – bem como adicionarei algumas informações que julgo pertinentes e necessárias, e que não estão no artigo original:

O que Joan Robinson diz, é que a Utilidade Marginal é uma teoria ‘comunista’, ou ‘revolucionária de esquerda’. A razão pela qual ela faz essa afirmação é porque, se aplicarmos a Lei dos Rendimentos Decrescentes, logo fica claro que o igualitarismo radical – de fato, algum tipo de socialismo ou comunismo – é a melhor maneira de maximizar a utilidade da sociedade como um todo. Robinson aponta que inclusive, esse é possivelmente o motivo pelo qual tantos marginalistas eram socialistas – podemos encontrar exemplos como Leon Walras, que era forte adepto do movimento socialista francês; Alfred Marshall, como mostrou W.P.D. Bliss em seu “A Handbook of Socialism” e nas declarações de Sydney Webb que constam que o próprio Marshall se definia como um ‘socialista’, e que este era ligado também ao movimento dos Socialistas Fabianos (favor, não confundir com a teoria da conspiração de alguns alunos do Sr. Olavo de Carvalho que veem socialismo fabiano em absolutamente tudo); e Knut Wicksell, que também era identificado como um ‘socialista’ (ainda que mantivesse algumas concepções malthusianas). 

Esses dias, na minha leitura de “Markets in The Name of Socialism” (2011) de Johanna Bockman, na qual ela estava dissertando acerca de um dos meus economistas favoritos, Branko Horvat (que falarei sobre ele muito em breve aqui no blog), na qual ela menciona  que, ao contrário do que geralmente se pensa, os planejadores marxistas das experiências socialistas do século passado não se utilizavam do marxismo dentro da economia, por acharem que ele só seria válido como uma ‘uma critica do trabalho no capitalismo’ – eles usavam economia neoclássica, ao contrário do que se espalha. Isso fica explícito também no livro do Horvat e do Kardelj, por exemplo, onde eles comentam sobre isso, tendo o primeiro uma seção apenas para isso em Political Economy of Socialism. É comentado também que se julgava que os a técnica neoclássica era mais eficiente no planejamento, do que a própria economia marxista. Bockman disserta:

‘Surprisingly, socialist economists, like Branko Horvat discussed on page 99, and other Eastern European economists often did not use Marxist political economy in their work analyzing and building socialism because they understood Marxism as a critique of capitalism not a blueprint for socialism. Instead, they used the same economics that was and still is mainstream in the United States: neoclassical economics’

A mesma coisa podemos encontrar em Oskar Lange (também um dos maiores economistas, na minha opinião, que falarei mais em breve).  Lange fazia parte dos chamados ‘socialistas neoclássicos’, indivíduos que têm no arcabouço da Escola de Lausanne, o equilíbrio geral walrasiano, o seu fundamento teórico. Para Lange, como ele disserta no seu “Marxian Economics and Modern Economic Theory” (1935), a conciliação entre a economia política neoclássica e a economia marxista é possível pois a economia neoclássica, supostamente, seria capaz de apreender a operação cotidiana de uma economia (e.g. política monetária, política creditícia, tarifas, localização da produção, preços de monopólio, etc) de modo superior à teoria econômica marxista. Esta última, por seu turno, é capaz de explicar as tendências fundamentais do capitalismo de modo que a economia neoclássica é incapaz de fazê-lo.

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