A Economia Potencializada
Por: Juliano Emanuel • 26/7/2021 • Monografia • 4.564 Palavras (19 Páginas) • 116 Visualizações
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Leandro Figueiredo
Economia a-significante como figura potencializadora do trabalho com arquivos
Luiz Henrique Carvalho Penido
Mestrando em Estudos Literários, FALE/UFMG. Pesquisador do Acervo de Escritores Mineiros.
Resumo
Em uma era na qual os acervos documentais se distendem para além de seus limites físicos e são potencializados pelos complexos de virtualização, qual é o futuro reservado aos arquivos literários e quais são suas implicações para a teoria e a prática literárias? São essas as perguntas que este artigo tenta responder através de um exercício de imaginação teórica que tem no conceito de economia a-significante, criado por
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eISSN 1809-8150
DOI 10.17851/1809-8150.4.8.42-48
Guattari, seu enfoque e o horizonte para o qual caminha a prática literária atual e seus novos "suportes móveis" como as redes informacionais.
Palavras-chave: arquivos, virtualização, hipertexto.
Meu intuito com este texto é o de fazer alguns apontamentos teóricos realizados de modo mais ou menos generalizante sobre um sem número de tendências ou de problemas com que se debate a pesquisa em arquivos literários na atualidade.
A primeira constatação é de uma abertura sistemática do horizonte documental. Os arquivos hoje passam a comportar, cada vez mais, objetos heteróclitos; eles são atravessados por uma urgente multiplicidade substancial que dispõe todo tipo de material em confronto. Tal constatação coloca em questão os próprios limites de um acervo documental. Quais dentre esses objetos gozariam de um estatuto ontológico reconhecível dentro da entidade abstrata maior que é o Arquivo? As respostas a essa questão não são simples, e vários textos atestam a anarquia material do arquivo, pois, de um lado, a obra literária, quando acabada, apaga os rastros de sua performance material e temporal, dos seus labirintos de escrita, para desenhar os limites da execução de uma palavra de ordem: "eis o livro". Por outro lado, o arquivo restitui essa performance fragmentária no tempo e no espaço que antecede o livro, que, de certo modo, é apenas uma atualização institucional em meio a um sem número de escolhas possíveis. Desse modo, o livro, como telos, pertence ao arquivo ao mesmo tempo em que seu estatuto só é assegurado pela expulsão dessa gênese dinâmica de objetos esparsos e distintos; ele, o livro, é um objeto parcial que se unifica não se expondo a uma comparação, a uma diferenciação com o arquivo que seria, em certo sentido, o seu risco. Mais do que isso, pela própria condição heteróclita do arquivo - essa anarquia material que temos mencionado - o livro também expulsa um universo ainda maior de objetos também parciais, mas não constituídos pelo mesmo labor-palavra que atesta o livro, em suma, objetos não- lingüísticos, não constituídos por um aparato lingüístico.
Poderíamos nos perguntar, apenas para exemplificar, como se dão as relações entre uma coleção de músicas, certa espacialidade ambiente, como a arquitetura da casa na qual se escreve, um conjunto heterogêneo de souvenirs, um caderno de desenhos, os quadros e sua disposição, enfim, todo esse universo a-significante (remeto sem dúvida àquilo que Guattari afirma ser um complexo de dimensões semiológicas que produz e veicula informações que escapam às axiomáticas lingüísticas(1)) antecedente ao livro, mas o pressupondo, ainda que funcionando
paralelamente a ele. Meu intento, fique claro, não é criar uma metamodelização capaz de abarcar a heterogeneidade dos objetos em questão - tal projeto ultrapassa os limites destas notas - mas apenas apontar, dentre eles, um objeto privilegiado na sua relação com o livro na atualidade e que está ligado indelevelemente ao futuro dos arquivos: o computador, sua potência de virtualização e atualização textual-imagética, uma vez que sua incorporação na gênese do livro é mais do que a de um suporte de escrita. Primeiramente, devo mostrar porque o computador não se resume a um suporte de escrita, depois, quais são as conseqüências dessa mudança.
Para tanto, valho-me do conceito de dispositivo de Foucault(2). Em traços gerais, o dispositivo é ao mesmo tempo um utensílio técnico, os modos de apropriação desse utensílio e as práticas culturais a que dá lugar. Um dispositivo é, assim, um nó onde se encontram e se bifurcam potencialidades e práticas distintas pelas quais um determinado "modo de ser", certa subjetividade, é atualizado no processo. O computador é tal dispositivo. Seu uso não responde a um meio mais prático ou sofisticado de escrita, mas é a própria forma de escrita assim como todo o complexo subjetivo que comporta e é modificado por seu trabalho. Diz Guattari: "as máquinas tecnológicas de informação e de comunicação operam no núcleo da subjetividade humana, não apenas no seio das suas memórias, da sua inteligência, mas também da sua sensibilidade, dos seus afetos, dos seus fantasmas inconscientes"(3). A criação literária que adere ao novo meio não pode, assim, sair incólume desse embate, sendo ela também modificada pelos "suportes" que lhe dão territorialidade, como se na relação papel/caneta, substituída pela interface em informática e pelos nós em rede, o processo de gênese fosse de tal modo colocado em rotação que ele próprio se voltaria para aquele que o coloca em movimento numa constante e inconciliável transição, como um jogo de anel, digamos. É claro que o computador pode ainda ser usado como um simples suporte para a escrita nos moldes tradicionais, mas esse parece não ser o seu destino único, se atentarmos para o modo como ele opera a virtualização da escrita.
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