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A RESENHA CRITICA

Por:   •  12/8/2022  •  Trabalho acadêmico  •  2.408 Palavras (10 Páginas)  •  126 Visualizações

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RESENHA

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria.

Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

João Henrique da Silva1

Bernard Jean Jacques Charlot é um pesquisador francês que se dedica

ao estudo das relações sociais dos alunos com o saber, especialmente os

alunos oriundos de categorias sociais populares. Dentre os vários livros

e artigos publicados, merece destaque a obra “Da relação com o saber:

elementos para uma teoria”, na qual o autor busca sistematizar os motivos

que levam certos alunos ao “fracasso escolar”. Por detrás desta situação,

está o seguinte questionamento: “por que será que certas crianças dos

meios populares alcançam, apesar de tudo, sucesso em seus estudos, como

se elas conseguissem esgueirar-se pelos interstícios estatísticos?” E “por

que estudar o fracasso (ou sucesso) escolar em termos de relação com o

saber? Que se deve entender, exatamente, por ‘relação com o saber’”.

No primeiro capítulo, “O Fracasso escolar: um objeto de pesquisa

inencontrável”, o autor se propõe a estudar um objeto de pesquisa, que

como tantos outros têm adquirido evidência no discurso social e nos meios

de comunicação em massa, e que consiste na crise do ensino, no “fracasso

escolar”. Segundo Charlot, a expressão “fracasso escolar” verbaliza a

experiência, o vivido e a prática escolar, sendo uma maneira de recortar,

interpretar e categorizar o mundo social. Além de estar sendo usada como

chave hermenêutica para o que está ocorrendo nas escolas e também para

sinalizar questões profissionais, políticas e socioeconômicas, a expressão

se tornou um atrativo ideológico dos professores, já que a má qualidade

do ensino pode ser explicada pelo “fracasso escolar”.

1

Aluno do Curso de Especialização em Direito Educacional pelo Centro Universitário

Claretiano. Licenciado em Filosofia pela Universidade Metropolitana de Santos (2009).

Bacharel em Filosofia pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (2008).

Educação e Fronteiras, Dourados, MS, v. 3, n. 5, p. 143-149, jan./jun. 2010.

Universidade Federal da Grande Dourados

144 Educação e Fronteiras, Dourados, MS, v. 3, n. 6, jul./dez. 2010

Com essa utilização constante do termo acima mencionado, o autor afirma que um pesquisador educacional corre o risco de reproduzir

os discursos da sociedade e da mídia no seu objeto de pesquisa. Assim,

Charlot propõe que esse pesquisador precisará se distanciar do discurso

da massa para descrever os fenômenos com fineza e foco. Além de ouvir

os profissionais e as pessoas envolvidas com a instituição escolar. O seu

papel seria de “descrever, ouvir e teorizar”.

Para B. Charlot, o “fracasso escolar” não existe, o que existe são

alunos em situação de “fracasso escolar” ou trajetórias escolares que terminaram mal. Essa situação exige, portanto, uma análise da realidade do

aluno. Para cumprir tal exigência, o autor apresenta as duas maneiras de

se elaborar um saber sobre o que o senso comum denomina de “fracasso

escolar”: a primeira está presente nas sociologias da reprodução, que

estudam a questão do “fracasso escolar”, a partir de estatísticas e seus

efeitos; a segunda estuda o “fracasso escolar” “de dentro”, como experiência do fracasso escolar, concentrando-se nas histórias, nas condutas

e nos discursos. Esta corrente é adotada pela equipe ESCOL (Educação,

Socialização e Coletividade Locais).

No segundo capítulo, denominado de “Serão a reprodução, a origem social e as deficiências ‘a causa do fracasso escolar?”, o autor faz

uma releitura das sociologias dos anos de 1960 e 1970 conhecidas como

“sociologias da reprodução”, cujos principais representantes são: Bourdieu, Passeron, Baudelot, Establet, Bowles e Gintis. Para Charlot, tais

Sociologias trabalham com uma correlação estatística entre a posição

social dos pais e a posição escolar dos filhos, constituindo assim um dos

fatores do destino escolar e social deles. Neste caso, o “fracasso escolar”

é analisado numa perspectiva de reprodução de diferenças, da origem e

situação financeira da família.

Acerca desta teoria, o autor não deixa de fazer as suas críticas.

Primeiramente, a “posição social” dos pais, como indicador da categoria

sócioprofissional, não é determinante para as desigualdades sociais e escolares, uma vez que há diferentes tipos de família e outras variáveis que

influenciam nessa desigualdade ou “sucesso escolar”. Em segundo lugar,

Universidade Federal da Grande Dourados

Educação e Fronteiras, Dourados, MS, v. 3, n. 6, jul./dez. 2010 145

ignora-se a singularidade e a história dos indivíduos, o significado

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