Estaria a Rússia desrespeitando a Soberania da Síria?

Não vejo desrespeito a soberania da Síria, vejo uma busca dos interesses políticos e estratégicos russos.

Defender a Síria de uma intervenção, reafirmar apoio total ao regime sírio e se posicionar na "luta contra o terror" do Estado Islâmico, faz com que a Rússia tente se safar de uma situação precária internamente quanto no contexto internacional. Em pesquisa recente, foi apresentado que 46% dos russos aprovam o emprego de tropas no exterior, enquanto 33% desaprovam. Outro dado da pesquisa mostra o temor do futuro da economia... inflação à 15%/ano e retração de 3,8% no PIB.

É certo que as reais motivações de Putin são, certamente, conter a queda do preço do petróleo, principal produto da Rússia, e as sanções econômicas impostas pelos ocidentais por causa do passado na Ucrânia. Essas sanções de modo geral não têm a gravidade que americanos e europeus alardeiam e que os russos exageram e espera-se que a curto prazo possam ser suspensas. Contudo, a paralisia do fluxo de tecnologia que a Rússia necessita para modernizar seu setor energético, que responde por 65% das exportações do país (e mais da metade do PIB), é um golpe profundo atingindo a confiança doméstica e internacional na recuperação da economia do país. O único parceiro, a China, fornece apoio financeiro, porém não dispõe da tecnologia para explorar as grandes reservas de petróleo e gás do Círculo Ártico.

Desviar a atenção de problemas caseiros, particularmente a questão da Ucrânia e o enfraquecimento da economia russa (agravada com as sansões econômicas) está sendo outra tática do governo de Putin.

Com uma intervenção na Síria, o enfraquecimento ou a queda de Bachar al Assad resultará no enfraquecimento internacional da Rússia, que seria acusada de abandonar o aliado. Os russos estão presentes na Síria há cinquenta anos, atuando nas áreas militar e civil e têm uma visão (bastante direcionada), correta da situação. Putin afirmou na Assembleia Geral da ONU, que Assad não só tem o direito de permanecer no poder como é a chave para resolver o problema com o Estado Islâmico, mesmo sabendo que a grande maioria o vê como motor do conflito.

A justificativa das ações militares é a luta contra o Estado Islâmico, ainda que mais de 90% dos bombardeios são direcionados e castigam as inúmeras facções rebeldes que ameaçam a área da costa mediterrânea e seus portos, principal porta de entrada e saída da Síria e Tartus, base naval russa de vital importância estratégica, pois sem ela a marinha russa ficaria restrita ao Mar Negro.

A verdade é que Putin conseguiu colocar a Rússia com o player mais importante da região. Todo arranjo político ou solução para os conflitos e demais questões no Oriente Médio, passam pelo aval do governo russo. Putin agiu onde os Estados Unidos se omitiu e tomou a liderança. Importante entender que ações desse vulto tem um custo alto e pode passar a ser muito caro para a Rússia suportar...

Assim, não entendo que as ações da Rússia na Síria sejam desrespeito a soberania da Síria e sim, total respeito aos interesses russos.