Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica
Tese: Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: brunoj19 • 3/7/2013 • Tese • 3.614 Palavras (15 Páginas) • 447 Visualizações
A TECNOLOGIA E O HOMO SIMBOLICUS
Luiz Teixeira do Vale Pereira – teixeiravp@gmail.com
Departamento de Engenharia Mecânica – UFSC
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (NEPET)
Campus Trindade
88.040-970 – Florianópolis – SC
Walter Antonio Bazzo – wbazzo@emc.ufsc.br
Departamento de Engenharia Mecânica – UFSC
Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT)
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (NEPET)
Campus Trindade
88.040-970 – Florianópolis – SC
Resumo: Neste artigo é apresentada uma interpretação da tecnologia como uma construção
humana que ultrapassa o simples utilitarismo, alcançando também o campo simbólico. Esta
interpretação é vista como determinante para a definição de uma identidade para a
sociedade moderna. São apresentados exemplos que corroboram a tese, que inclui o
engenheiro como construtor de símbolos.
Palavras-chave: Tecnologia, Utilitarismo, Simbologia
1 TRATADO DA TÉCNICA
Uma língua é um processo dinâmico. O significado das palavras é, com o tempo,
inevitavelmente reformulado. Com o termo tecnologia não é diferente; neste caso as
transformações talvez sejam mais acentuadamente sentidas, tendo em vista os reflexos nela
provocados pelas ingentes evoluções científicas.
Hoje, no senso comum, o termo tecnologia normalmente é empregado como um
sinônimo para artefato, representando algo concreto; em especial quando se está diante de
novidades, de complexidade não compreendida, de algo que remeta a científico. Um novo
aparelho celular com vários recursos, um automóvel último tipo equipado com eletrônica
embarcada e um tomógrafo computadorizado seriam tecnologia. Uma faca de açougueiro,
uma panela de barro ou um cocar de penas de arara não mereceriam a mesma classificação.
Tem-se percebido também uma certa facilidade de migração dessas interpretações do
senso comum para as escolas de engenharia. Possivelmente por isso, engenheiros tendem a
pensar a tecnologia de modo seletivo – por conta de sua formação técnica – e restrito – por
conta da manutenção acrítica das interpretações mais superficiais do senso comum.
Se a tecnologia for entendida de forma mais judiciosa, veremos que a maioria dos objetos
– de forma geral podemos falar em sistemas – que construímos se qualificaria como tal. Uma
cidade, por exemplo, é uma tecnologia. Uma escada ou o modal rodoviário de transporte
urbano também. Acrescentem-se a esta relação grandes conquistas da genialidade humana –
poucas vezes encaradas como tecnologia –, tais como a invenção da agricultura, a imprensa,
as grandes navegações… Ser estático ou dinâmico não é prerrogativa ou óbice para classificar
o produto técnico, como também não o são o grau de complexidade ou a bagagem científica
empregada na sua produção.
Isso se não enveredarmos para outras interpretações. Uma delas: tecnologia interpretada
como ciência aplicada; outra: como resultado da semântica, tecnologia sendo estudo da
técnica. Desnecessária esta, ingênua aquela.
Outra leitura corriqueira da tecnologia, mesmo que numa interpretação mais criteriosa, é
julgá-la impessoal ou desumana, quem sabe fora de controle. Ou ainda, mesmo se dela nos
servimos como mote de trabalho, emprestar-lhe ao menos alguma neutralidade, propriedade
que ela não sustenta. Nenhuma dessas interpretações comporta vigor substancial quando sob
apreciação mais rigorosa.
Empregamos aqui o termo tecnologia como um substituto – com reservas – para artefato
técnico. Artefato técnico é entendido no seu modo mais amplo, como construção humana.
2 UMA NATUREZA ARTIFICIAL
Construímos sistemas tecnológicos para neles viver. Eles são parte da ou mesmo a nossa
nova natureza, uma natureza artificial, que domina e sobrepuja a força do “natural”; eles nos
afastam e protegem de uma natureza original, severa e implacável; com eles pensamos poder
dominar o que nos oprime. A tecnologia cumpriria quem sabe o excelso papel de nos servir de
putativa tábua de salvação, pairando num eterno porvir. Esta talvez seja uma de nossas marcas
mais significativas: construir mundos para neles viver.
Agimos como se não fizéssemos parte da natureza, como se não pertencêssemos à essa
realidade, como se fôssemos algo mais precioso que ela. Como se aquilo que tocamos
perdesse o encanto da espontaneidade, ou como se precisássemos nos defender do que está
fora de nós. Por isso construímos os nossos protetores sistemas tecnológicos – roupas,
perfumes, medicamentos, tesouras, arados, laptops… Mesmo construções humanas
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