Lei Da Oferta E Da Demanda
Monografias: Lei Da Oferta E Da Demanda. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: CBritto • 16/5/2014 • 8.064 Palavras (33 Páginas) • 387 Visualizações
A LEI DA OFERTA E DEMANDA
Gerson Lima1
1. INTRODUÇÃO
A Lei da Oferta e Demanda é considerada como um dos princípios básicos, aliás quase
um sinônimo, da teoria econômica. Apesar disto, permanecem na literatura algumas
perplexidades a seu respeito. No contexto microeconômico, Becker (2000) oferece um resumo
da situação ao afirmar que “mesmo quando os estudantes conseguem recitar oferta e demanda
em situações de contos de fadas, eles têm dificuldades para aplicar o conceito no mundo real”
(pag. 111). De fato, a teoria neoclássica define oferta somente num modelo de concorrência
perfeita e, mais ainda, nega sua existência fora dela. Ou seja, quando a vida real apresenta
“imperfeições” e deixa de ser um conto de fadas, então não existe uma versão neoclássica da lei
da oferta e demanda.
Complicando o cenário, disseminou-se a idéia de que, se o governo não interferir, as
forças de oferta e demanda levarão o mercado neoclássico a se auto-regular no sentido de
garantir o pleno emprego e o preço mais justo dos fatores de produção. Aparentemente, ao
discutir esta idéia, tanto os economistas que a aceitam como os que a rejeitam desconsideram a
restrição de que ela só se refere ao modelo da concorrência perfeita. Porém, caso o mundo real
se afaste deste modelo, a teoria neoclássica afirma que o governo deverá intervir para que
voltem a funcionar as forças de oferta e demanda, assim assegurando o retorno da auto-justiça
do mercado. Ou seja, neste caso, e pelo menos até que a imperfeição seja superada, as variáveis
típicas de política econômica têm o poder de deslocar as curvas de oferta ou de demanda no
sentido de promover um resultado socialmente mais justo.
Aqueles não poucos que discordam da premissa de que o mercado neoclássico pode
assegurar a justiça econômica resolveram, por vias das dúvidas, colocar também a teoria da
oferta e demanda sob suspeita. O mesmo problema surge ainda no ambiente macroeconômico.
Neste contexto, a perfeição dos mercados e das pessoas levaria a uma curva de oferta agregada
que é vertical ao nível do emprego máximo que a economia pode oferecer sem que os preços
entrem em colapso. A curva de oferta agregada na visão neoclássica só poderia ser ascendente
na presença, de novo, de imperfeições de mercado. Mutatis mutandis, na falta de perfeição no
mercado a política econômica pode ser usada para aumentar a produção e o emprego. A
proposta deste trabalho é buscar uma teoria de oferta e demanda que seja geral no sentido de
dispensar a hipótese ad hoc da perfeição do mundo, e que não seja auto-reguladora no sentido
da justiça ou do pleno emprego.
Neste artigo apresenta-se uma teoria não-neoclássica sobre a oferta em nível
microeconômico, descrevendo-se um modelo dinâmico de tomada de decisões sobre preço e
produção que permite construir uma situação teórica de equilíbrio na qual pode-se definir a
1 Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná. Este artigo foi publicado com o título de “Uma
Interpretação da Curva de Oferta de Marshall e a Arquitetura de uma Moderna Teoria da Oferta e Demanda” na
Econômica, Revista da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense, vol. II, nº 4, dezembro
de 2000.
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curva de oferta. Este modelo está baseado na exposição feita por Marshall na primeira parte do
Livro V do seu Principles, onde ele faz um resumo do então estado das artes em matéria de
formação de preços e de decisão de produção. Como o objetivo de Marshall era o de apresentar
uma contribuição neste tema, ele propõe na segunda parte deste seu Livro V algumas noções
novas, como a definição de curto prazo pela constância da capacidade de produção, o conceito
de “preço normal” e uma curva de oferta na qual o preço, sem ser uma constante, é igual aos
custos normais de produção. Esta segunda parte do Livro V, a qual pode ser associada ao
nascimento da teoria neoclássica, não será considerada aqui.
Adicionando-se então a curva de demanda tem-se uma “nova arquitetura” da teoria de
oferta e demanda, na qual não há uma auto-regulação no sentido do ótimo social. Neste
enfoque teórico os níveis de preço e produção dependem das posições das curvas de oferta e de
demanda e, por sua vez, estas posições são determinadas pelos valores das variáveis exógenas,
por exemplos as compras do governo e os impostos sobre a renda do consumidor e sobre o
produto vendido. O preço e a produção e, por conseqüência, todas as demais variáveis
endógenas do sistema econômico terão seus valores definidos pela interação entre ofertantes e
demandantes e pelos níveis das variáveis exógenas, dentre elas as variáveis de política
econômica.
No capítulo 2 apresenta-se
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