O COMPORTAMENTO DA INFLAÇÃO BRASILEIRA APÓS O PLANO REAL (1994-2009)
Trabalho Escolar: O COMPORTAMENTO DA INFLAÇÃO BRASILEIRA APÓS O PLANO REAL (1994-2009). Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: eduardomartinic • 5/3/2014 • 4.832 Palavras (20 Páginas) • 766 Visualizações
O COMPORTAMENTO DA INFLAÇÃO BRASILEIRA APÓS O
PLANO REAL (1994-2009)
EDUARDO MARTINIC SÁ
LUCAS BENDER
RAFAEL SIEGEL ANTUNES***
RESUMO
Este artigo procura apresentar e interpretar o comportamento da inflação brasileira desde a implantação do Plano Real. Foram descritas as principais experiências de combate à inflação antes do Real, as características da política econômica do Real, e o desempenho dos principais índices de preços a partir do lançamento do novo modelo. Embora com os excessos da política monetarista, a orientação econômica tem logrado êxito na estabilização de preço ao longo de mais de 15 anos.
Palavras Chave: Estabilização, Índices de Preços, Inflação, Planos da Nova República e Plano Real.
1 INTRODUÇÃO
Antes da implantação do Plano Real em 1994, o governo brasileiro havia realizado outras tentativas de combate à inflação como, por exemplo, o Cruzado (1986), o Bresser (1987), o Verão (1989), seguidos pelos Planos Collor I e II (1990-1992), todos frustrados. De comum, todos tinham o objetivo de impedir que os preços subissem, tendo como base o diagnóstico de inflação inercial, para o qual o principal remédio era o congelamento de preços.
O primeiro plano, o Cruzado, estava correto no seu diagnóstico e tratamento ao congelar o câmbio, preços e salários e substituir a moeda sem funções pela nova unidade de conta, o Cruzado. Porém, não teve sucesso, pois a parte mais fraca do plano, o congelamento dos preços, tornou-se a mais forte (FRANCO, 2004). Os planos econômicos seguintes também não foram bem sucedidos, pois a cada novo plano tentava-se corrigir os erros dos demais, como o caso do Plano Bresser, que notificou antecipadamente o congelamento de preços, determinou o seu tempo de duração e avisou que o câmbio seria desvalorizado. Essas medidas levaram ao aumento brusco de preços pelo fato dos agentes econômicos aumentarem seus preços a fim de evitar distorções nos preços relativos. Em 1990, com o Plano Collor, houve um grande erro no combate à inflação, pois ao invés de combatê-la pelo fluxo, tentou solucioná-la pelo estoque, ou seja, confiscando ativos financeiros (CERQUEIRA, 2006).
Somente em junho de 1994, com o Plano Real, a política econômica conseguiu estabilizar a inflação baseada numa âncora cambial e numa âncora monetária (NETO, 2003). Entretanto, esta política de estabilização bem sucedida no controle da inflação acabou se tornando um fim e não um meio, havendo alguns momentos de alta inflacionária entre 1994 e 1998 devido ao setor de telecomunicações e suas privatizações, em 1999 com a crise cambial brasileira, em 2002 através do “efeito lula” e em 2004 e 2008, devido, respectivamente, a uma alta nos preços internacionais de petróleo e dos alimentos e bebidas.
1 A Trajetória dos Preços anterior ao Plano Real e o Fracasso no combate à Inflação
No início da década de 1970, após a crise internacional do petróleo, registrava-se na economia brasileira um contínuo processo de aceleração inflacionária, que seguiu seu curso indiferente às medidas ortodoxas de controle da demanda agregada adotadas no início da década de 1980, cujo custo foi uma dura e prolongada recessão econômica (MODENESI, 2005).
A inflação, a partir da década de 1970, começou a apresentar cada vez mais um caráter inercial, combinado a choques externos, os quais levaram-na a uma trajetória resistência às tentativas ortodoxas de reduzi-la.
Na primeira metade da década de 1980, a equipe econômica brasileira fez uso de políticas que promoveram o ajustamento externo, mas não evitaram a escalada crescente da inflação. Os dois primeiros saltos inflacionários ocorreram em 1979, com o segundo choque do petróleo e a política interna de fixação de preços e, em 1983, mediante a “maxidesvalorização” da moeda brasileira, na época, o Cruzeiro.
As principais características desta década foram a estagnação, seguidas de fases recessivas e expansionistas, normalmente vinculadas à adoção dos planos de estabilização heterodoxos, e o baixo nível de investimentos em ampliação da capacidade produtiva brasileira. Além disso, devem-se destacar a combinação entre endividamento externo, crise fiscal, aumento da especulação financeira e impulsão do passivo interno, diminuindo consideravelmente a capacidade de gastos e de investimento público (LOURENÇO, 2005).
A recessão entre 1981 a 1983 foi importante para deixar evidente que o diagnóstico ortodoxo que se utilizava até então para explicar a inflação brasileira era equivocado. Esta percepção não foi imediata, pois os defensores da política ortodoxa afirmavam que bastava o ajuste fiscal para derrubá-la (MODENESI, 2005).
O Brasil estava diante de um fenômeno novo, a inflação inercial, enraizada na própria inflação passada. Para eliminar tal inflação, adotaram choques heterodoxos. O objetivo seria desmontar a armadilha de um processo inflacionário que se auto-alimentava e que não podia ser detido por meio do controle de suas causas originais (LOPES, 1986). A redução do peso do componente inercial do processo inflacionário era uma precondição para a recuperação da eficácia da política monetária no controle da inflação.
A formulação das propostas para a eliminação da inflação inercial (choque heterodoxo e a moeda indexada) constituiu importante momento da história da economia brasileira. Ambas foram desenvolvidas como resposta à falência das “terapias” de caráter ortodoxo no combate à crônica inflação.
1.1 Planos Econômicos da Nova República
Essa fase da economia brasileira elegeu o controle inflacionário como meta principal, com uma sucessão de planos econômicos tentando o seu controle: Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991). Todos tinham como base comum a idéia da inflação inercial e traziam como principal elemento o congelamento dos preços. Nenhum deles logrou completo êxito, produzindo apenas redução temporária da taxa de inflação, que voltava rapidamente aos patamares vigentes anteriormente à implementação dos respectivos planos.
Todos basearam-se no diagnóstico inercialista da inflação e na proposta de choque heterodoxo, adotando o congelamento de preços. Por sua vez, foi realizada reforma monetária, com a criação de uma
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