Baldwin: Os seis pontos (que não são os únicos pontos do debate, mas são os principais) em que Baldwin separa o neoliberalismo do neorrealismo
Por: giantolino • 25/6/2017 • Trabalho acadêmico • 2.635 Palavras (11 Páginas) • 1.349 Visualizações
Baldwin: Os seis pontos (que não são os únicos pontos do debate, mas são os principais) em que Baldwin separa o neoliberalismo do neorrealismo são:
- A Natureza e as Consequências da Anarquia: Nenhuma das teorias nega a presença da anarquia no sistema internacional, porém elas discordam em relação ao que ela significa e como ela importa, especialmente envolvendo questões de interdependência e autoajuda. No geral, para os neorrealistas a anarquia define mais o comportamento dos estados do que para os neoliberais;
- Cooperação internacional: Ambos os lados veem a cooperação internacional como possível, porém os neorrealistas, em especial, a consideram difícil de alcançar, de manter e mais dependente do poder estatal;
- Ganhos relativos x ganhos absolutos: Neoliberais focam mais nos ganhos absolutos, especialmente em áreas econômicas, enquanto os neorrealistas nos ganhos relativos. Porém, a distinção entre ambos não é tão clara;
- Prioridades dos objetivos dos Estados: Ambos concordam que a segurança nacional e o desenvolvimento econômico são importantes, mas focam suas teorias em diferentes aspectos, os neorrealistas no primeiro e os neoliberais no segundo;
- Intenção x Capabilidades: Neorrealistas priorizam as capabilidades dos chefes de Estado em detrimento de usas intenções, enquanto que com os neoliberais a situação é inversa, priorizando também interesses e informações junto com as intenções;
- Instituições e Regimes: Ambas as teorias reconhecem a existência dessas duas esferas, todavia discordam na importância dessas estruturas (os neoliberais dão importância demais às instituições).
Baldwin ainda vai apresentar quatro pontos que foram proeminentes em debates passados (como o debate ontológico entre realistas e idealistas), mas que não são focados no debate metodológico (neorrealistas x neoliberais):
- O debate atual não gira em torno de técnicas de estado e instrumentos de política (tal como a força militar). Não é claro porque esse ponto não é tão estudado;
- A diferenciação entre moralistas altruístas e egoístas calculadores de poder. O debate atual postula que todos os Estados agem de forma egoísta, com considerações morais sendo raramente postas em pauta;
- Tratar ou não os Estados como atores principais do sistema internacional. No debate neo-neo, apesar da diferença de importância dada aos atores não-estatais, os Estados são, indiscutivelmente, o ator principal para ambas as teorias;
- Esse debate não é mais um debate entre conflito e cooperação. Ambas as ideias existem em ambas as teorias, mesmo que um lado escolha um lado para focar.
Baldwin aponta a dimensão terminológica do debate como negativa. Com isso ele quer dizer que termos como “realista” e “neorrealista” não são muito adequados. Tampouco apontar o realismo como o exato oposto do liberalismo (cujo contraste está no conservadorismo) é. Inclusive, geralmente, o termo liberalismo está muito mais ligado ao campo econômico, aparecendo recentemente no campo das RI.
O debate estudado aqui, apesar das decadências dos termos, possui sim raízes históricas, com vários autores no decorrer da história falando sobre anarquia internacional, balança de poder, etc. Tucídides, Maquiavel e Hobbes são vistos como os ancestrais intelectuais do realismo. Os mercantilistas, inclusive, já viam o poder e a econômica como um jogo de soma zero. Do outro lado, diversos autores já profetizaram na história sobre interdependência econômica, leis e instituições internacionais, etc, tal como Wilson e diversos jesuítas.
As raízes do debate neo-neo podem ser rastreadas até aos filósofos do final do século XVIII, que surgiram com ideias de uma sociedade mundial, alianças militares, balança de poder, livre comércio, etc.
Durante o período entre guerras, as RI ascenderam como campo acadêmico, especialmente com assunções sobre harmonia de interesses e instituições internacionais (Liga das Nações). A eclosão da WWII e o fracasso da Liga das Nações criou o cenário para que o realismo pudesse florescer, se tornando o paradigma das RI, mesmo quando confrontado pelos idealistas, que não apresentavam tanta força.
Foi durante os anos 70 e 80 que o debate neo-neo tornou-se mais forte, em especial com obras de autores neoliberais como Keohane e Nye e neorrealistas como Waltz e Grieco. Esse debate é diferente, embora influenciado, por um debate que vem acontecendo há séculos, ainda que com prevalência realista.
Dois conceitos fundamentais tanto para neorrealistas quanto para neoliberais são anarquia e poder:
- Anarquia: Um conceito importante para ambas as teorias, mesmo que nas teorias liberais não se mostre tão presente. Possui um significado “escorregadio”, que já chegou a estar ligado à desordem e ao caos, definição essa que ambas as teorias do debate neo-neo discordam. Uma conceituação mais aceita é a de falta de governo, mesmo que alguns atos de governos internos possuam paralelo no internacional. O conceito de anarquia está ligado à falta de algumas características especificas de governos que não existem no cenário internacional;
- Ordem social: O problema de explicar a ordem internacional é explicar, primeiramente, a ordem social. Para isso, existem três mecanismos/processos que desenvolvem a ordem interna que podem ser levados para o sistema internacional: Recompensas, punições e harmonização de percepções e interesses;
- Poder: É um dos conceitos mais complicados de uniformização nas RI, apresentando um papel menos crucial na teoria neoliberal.
O conceito de poder (ou capabilidades) está ligado a três aspectos:
- Escopo e domínio: O domínio refere-se aos atores em relação a que tipo de poder é estabelecido, já o escopo se refere a dimensão do comportamento deles que é afetado. A mais comum concepção de poder nas ciências sociais diz respeito a relações causais em que o poder afeta o comportamento, as atitudes, as crenças e as propensões de outro ator agir. Qualquer que um que estipule uma definição de poder deve especificar escopo e domínio. O poder nacional (capabilidades) pode ser reduzido a elementos ou fundamentos básicos;
- O problema da soma zero: Essa ideia consiste em mais para um ator, menos para outro e é comum na literatura de RI. Baldwin usa uma puta duma narrativa chata de Crusoé para rebater a afirmação de que o aumento de poder de um sempre vai diminuir o de alguém:
- Antes de Friday aparecer, nem ela nem Crusoé tinha poder um sobre o outro. Após a chegada dela, ele passa a ter poder sobre essa mina, mas ela não pode ter perdido poder por nunca o ter tido para início de conversa. Se ele se prender a ela, pode acabar aumentado seu poder sobre a mulher, mas o contrário também pode acontecer. Aparentemente isso aconteceu entre EUA e Vietnã também. Vencer um conflito não significa vencer seu adversário, mas sim adquirir ganhos relativos em relação ao sistema. O importante é adquirir ganhos políticos e não liquidar seu inimigo.
- Fungibilidade: Se refere à facilidade que as capabilidades (poderes) em uma área podem ser usadas em outra. Principalmente para os neorrealistas, os recursos de poder são de alta fungibilidade. Tanto em política quanto em economia, mais coisas têm fungibilidade maior em longo prazo. Geralmente se deve comparar algo com outra coisa para entender o quão alto sua fungibilidade pode ir, e, de forma bem geral, essa outra coisa é dinheiro (melhor exemplo de algo que contem fungibilidade em prática na vida social, larga literatura falando sobre dinheiro e o que ele é, começar pelo básico, não é muito claro que outros critérios podem ser utilizados, poder é dinheiro).
Os ensaios analisados são, claramente, debates, e não jogos e tampouco lutas. O debate neo-neo continuava a evoluir naquela época, contudo, existiam diversas lacunas que ainda precisavam ser exploradas, seis em especifico. A primeira diz respeito às estratégias de reciprocidade. A segunda diz que o número de atores pode influenciar a cooperação. A terceira diz respeito às expectativas futuras dos atores em relação à cooperação com outros. A quarta é a promoção da cooperação por regimes internacionais. A quinta requer foco em comunidades epistêmicas. A sexta e última aponta para como a distribuição de poder entre os atores influencia na cooperação internacional. Além de outros aspectos importantes como política interna e força militar, com mais provas empíricas sendo necessárias.
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